Diário do Alentejo

Beja: Pandora vai reabrir como espaço multiusos

05 de fevereiro 2020 - 17:00

Cerca de uma década depois de ter encerrado definitivamente, o espaço onde funcionou a discoteca Pandora, em Beja, vai reabrir. O nome não será o mesmo e o conceito bem diverso, mas o espírito, esse, manter-se-á, porque “as cidades não se fazem sem entretenimento”, diz Daniel Mantinhas, promotor da obra.

Texto Aníbal FernandesFoto José Ferrolho

Estávamos no início dos anos Noventa do século passado. Beja e o seu centro histórico fervilhavam de gente nova que frequentava o ensino superior então existente na cidade.Rui Simão, empresário da noite, na altura dono do bar Clássicus, achou que “faltava uma discoteca em Beja”. Já existiam o Ufos e Os Infantes, mas o que ele imaginava era algo completamente diferente. Tão diferente que o espaço era algo que nem na capital existia: “Mesmo em Lisboa as discotecas eram mais pequenas”, conta o empresário, 30 anos depois, ao “Diário do Alentejo”.

Se bem o pensou, melhor o fez, e a 28 de fevereiro de 1990, uma quarta-feira, era inaugurada o maior espaço de dança do Sul do País. Primeiro apenas com um espaço, mas que depois evoluiu para quatro pistas, sendo que a principal estava equipada com um sistema elevatório que era a grande novidade. Ao princípio trabalhava sem folgas, mas com o correr dos tempos as quintas-feiras tornaram-se no grande dia, ou noite, do estabelecimento. “Era a melhor quinta-feira do País. Vinham clientes de todo o lado, de Évora, Setúbal, Lisboa, Faro…”, diz Rui Simão. E o que pensa o fundador do espaço da sua reabertura? “Acho que Beja precisa que seja aberto, mas não como discoteca, porque agora não há gente para isso”.

E é isso mesmo que Daniel Mantinhas se prepara para fazer. Em outubro próximo, ainda sem nome e data marcada, o espaço reabrirá com um jantar/espetáculo para 200 pessoas.A ideia é criar “um espaço multifuncional, com equipamentos de som, luz e vídeo, com um ecrã de alta definição, de última geração, em três salas independentes, cada um com a sua copa e com bilhetes diferenciados. Há que criar condições para que no local possam ter lugar eventos de todo o tipo, desde jantares a galas, de concertos a exposições, lançamento de livros” e até discoteca “esporadicamente”. E nem o teatro ficou esquecido. A prova disso são os camarins “que estão a ser construídos no local”.

A versatilidade do espaço vai ao ponto de ter três zonas com capacidade diferente, de forma a acomodar os públicos de cada tipo de evento. Dois mais pequenos, com 200 e 300 lugares, e um maior, com mil lugares para eventos mais chamativos.

 

Florival Ramos, para além de ex-cliente, foi o último dinamizador do espaço que fechou definitivamente em 2011. Rui Simão tinha-o vendido a uns empresários algarvios que lhe mudaram o nome para Praxis antes de abrirem insolvência. Entretanto, Florival alugou o espaço e manteve-o aberto durante um breve período. Também ele considera que o projeto agora anunciado “faz todo o sentido” e considera que Daniel Mantinhas “é a pessoa indicada para o levar para a frente”.

Nuno Marcelino, hoje profissional de seguros, nos seus 20 anos fez daquela a sua casa. Foi um dos DJ de serviço quase até ao fim, só saiu “para casar”. A música que passava, como não podia deixar de ser, era o top dos 90, mas também brasileiradas e rock dos 80. “Era uma casa muito à frente”, diz, explicando que ainda hoje mantém ligação a alguns clientes da altura graças ao Facebook que hoje todos aproxima.

 

Os tempos são diferentes: “Naquela altura a população da cidade quase duplicou com a presença dos universitários”, no entanto, Nuno considera a ideia de reabrir o espaço “ótima” e acha que vai ser “espetacular para a cidade”. “Em Beja faz falta um espaço destes. É uma cidade com muitas bandas e não existem espaços para poderem atuar”, é este o diagnóstico que Daniel Mantinhas faz. Mas, para que o projeto saísse do papel, foi preciso percorrer algum caminho. Na sequência da insolvência da empresa proprietária do espaço, os administradores da massa falida tentaram, numa primeira fase, “vender o imóvel ao preço do mercado, mas sem sucesso”. O espaço foi vandalizado durante uma década e o negócio proposto não conseguiu atrair interessados.

Em julho do ano passado, Daniel Mantinhas apresentou uma proposta para a aquisição do espaço que foi aceite. O investimento para que o espaço fique funcional está estimado em cerca de 500 mil euros. O empresário mostra-se otimista com o negócio que projetou e cujo modelo de negócio se assemelha “ao do Coliseu”, até porque “as cidades não se fazem sem entretenimento”.

 

Da engenharia eletrotécnica à promoção de eventos

Daniel Mantinhas saiu do Alentejo para ir estudar engenharia eletrotécnica no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, mas trabalhar com condensadores e corrente elétrica não foi o que o destino lhe destinou. A meio do percurso mudou para gestão hoteleira. No final do curso, perante a hipótese de fazer uma pós-graduação nos Estados Unidos da América, optou por começar a trabalhar. E foi o que fez durante uma década, na área de comunicação e eventos, até regressar a Beja, “a melhor decisão” da sua vida. De início reabriu um café – “É o meu destino” –, mas hoje tem uma empresa que produz eventos “chave na mão”. A Amazing Options conta com seis empregados em permanência e é reponsável pela exploração do espaço de restauração do Nerbe/Aebal, em Beja.

Comentários