Após três anos de seca severa e extrema, em 2018, a chuva que caiu do céu nos meses de março, abril e novembro evitou um cenário pior. No entanto, segundo a IPMA, apenas “se registaram melhorias nos povoamentos florestais com maiores índices de matéria orgânica no solo”. Em 2019, em várias zonas do Alentejo, a precipitação voltou a baixar para valores pouco acima dos 300 milímetros, regressando, assim, os anos secos, “não como um fenómeno ocasional, mas sim de forma persistente”, diz o IPMA.
Joaquim Pinheiro, engenheiro florestal, em Santiago do Cacém, e também membro desta associação, diz que para inverter a situação é necessário por parte do “Estado e da sociedade uma atitude musculada”. “Esta realidade é reversível, mas para que isso aconteça é preciso apostar numa maior área de montado de sobro e azinho, e adensar e reforçar o existente”, uma vez que “toda a mortalidade tem a ver com as clareiras” que deixam as árvores, de alguma forma, mais desprotegidas, explica. O objetivo é criar “uma mancha florestal autóctone de dimensão crítica”, densa e “com expressão territorial relevante”, de forma a prover um microclima positivo e, “até mesmo, alguma precipitação”.
O ideal seria duplicar a área existente e atingir os 1,5 milhões de hectares, mas isso só será possível com a ajuda do Estado, já que os valores envolvidos, segundo estimativas já realizadas, rondarão os 60 milhões de euros. Esta meta garantiria a melhoria do microclima da região, em termos de humidade e temperatura do ar e do solo, e contribuiria “para um maior nível de precipitação, sobretudo, se se mantiver um contínuo florestal desde a orla marítima e, em especial, nas serras”, defendem os especialistas responsáveis pelo documento publicado pelo IPMA.
Para que isso seja concretizado, defendem, “é necessário que o tema seja assumido como uma prioridade” por parte do Governo – nomeadamente com um programa a duas décadas –, o que passa pela segmentação da política florestal, visto não existir apenas uma floresta em Portugal: “infelizmente só há uma política florestal para dois tipos de ecossistemas diferentes”, critica Joaquim Pinheiro. Os benefícios, garante, ultrapassariam em muito o aumento da produção da bolota e cortiça, já que esta aposta contribuiria para impedir a desertificação geográfica e humana do Alentejo, e criaria um escudo ambiental contra o avanço do deserto africano, o que protegeria todo o País.