Diário do Alentejo

Bloco: “Não podemos cercar as aldeias de olivais”

06 de setembro 2019 - 10:30

O objetivo do Bloco de Esquerda para as eleições de outubro está traçado: superar o PSD e tentar a eleição de Mariana Aiveca como deputada por Beja. A candidata reconhece que o resultado das últimas europeias “deu ânimo” ao Bloco de Esquerda (BE) que, pela primeira vez, superou nas urnas a votação dos social-democratas no distrito. “Foi um resultado bastante importante para a concretização das nossas propostas para o País e para o Alentejo”. Propostas nas quais o combate às alterações climáticas ocupa lugar central.

 

Texto Luís GodinhoFoto José Ferrolho

 

Segundo Mariana Aiveca, as prioridades do Bloco para a próxima legislatura são claras: “Responder à emergência climática que tem uma importância fundamental no Alentejo e, depois, responder às questões da economia pois só é possível combater as alterações climáticas com uma nova dinâmica económica, com novas propostas para a economia”. E é aqui que entram, por exemplo, ideias como um programa de reflorestação que reduza a área de eucalipto, a adoção de um plano ferroviário nacional para ligar todas as capitais de distrito ou a defesa de uma “mudança de paradigma” na agricultura.

 

“É necessário fazer a inversão desta política agrícola que se baseia nas culturas intensivas e superintensivas com tudo o que daí advém em prejuízos para o ambiente e para as populações”, diz a candidata, sublinhando que, neste domínio, as propostas do BE “são muito claras”, a começar pela adoção de uma moratória à plantação de novas explorações de olival e de amendoal até que seja aprovada uma carta agrícola onde fiquem definidos os vários usos da terra e sejam criados “garrotes” à expansão indiscriminada de culturas intensivas. “Não pode haver plantações em cima das povoações, em cima das linhas de água ou das captações que servem as populações. Por isso defendemos que deverá existir uma moratória à plantação de novos olivais enquanto não for aprovada essa carta agrícola”.

 

Em entrevista ao “Diário do Alentejo”, Mariana Aiveca – aposentada da Função Pública e deputada entre 2005 e 2015, eleita pelo círculo de Setúbal – defende que as autarquias tenham um “papel determinante” para a definição do tipo de culturas que devem ser instaladas em cada território. “O parecer dos municípios deve ser absolutamente vinculativo pois, como poder de proximidade, têm também responsabilidades nesta área”.

 

“Não estamos a dizer que as oliveiras ou amendoeiras são culpadas e que devem simplesmente ser arrancadas, não é disso que se trata. Temos de definir como é que se faz essa exploração. Não podemos continuar a cercar as aldeias e as nossas gentes de culturas intensivas onde se aplicam produtos fitofarmacêuticos, por vezes a partir de aviões, estando mais que provados os efeitos nocivos para a saúde pública. A criação de uma carta agrícola é absolutamente determinante”, acrescenta.

 

A candidata diz que o BE parte para esta campanha “com os pés bem assentes na terra” e com o sentido de “dever cumprido” nos últimos quatro anos: “O Bloco agiu com responsabilidade, demonstrou que tem propostas para o País e influenciou positivamente a governação, nomeadamente na reposição de salários e de direitos como os feriados ou a as 35 horas de trabalho semanal na Função Pública. Mas temos também a convicção de que há muito por fazer. Não estivesse o PS refém das políticas europeias e do Tratado Orçamental e as coisas poderiam ter tido outro caminho”.

 

Indemnizar os cidadãos

Para a candidata do BE, a população do Baixo Alentejo deveria ser “indemnizada” em virtude de o troço da A26 entre Figueira de Cavaleiros e o nó da A2, em Grândola, estar concluído e permanecer encerrado ao trânsito. “Esta situação, que se arrasta há quatro anos, é absurda e uma ofensa para quem vive na região. Entendemos que a A26 deveria ser aberta ao tráfego e sem portagens, como forma de indemnizar as populações”, refere.

Mariana Aiveca aponta a sistemática perda de eleitores no distrito de Beja – para as próximas eleições estão recenseados 123 032 eleitores, menos 5 894 do que nas legislativas de 2015 – como resultado da “política de terra queimada que tem vindo a ser seguida para as regiões interior”. “As alternativas tardam em aparecer”, lamenta a candidata.

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