Diário do Alentejo

“A terra comunista tornou-se terra do Chega”

08 de março 2024 -
André Ventura, em Beja, disse querer eleger dois deputados no distrito
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

No âmbito da campanha eleitoral das eleições Legislativas de domingo, André Ventura, presidente do Chega, esteve em Beja, na quarta-feira, onde se reuniu num almoço/comício com diversos militantes e simpatizantes do partido, seguindo depois em arruada pelas ruas do centro histórico da cidade.

 

Texto | José Serrano

 

Apresentado por Diva Ribeiro, cabeça de lista do Chega, por Beja, André Ventura sobe ao palco da tenda/restaurante da Multibox Nerbe. Uma música apoteótica soa estridente no recinto de lona, ao mesmo tempo que os convivas se levantam das mesas redondas, todas ocupadas, agitando bandeiras do partido e de Portugal, clamando “Ventura, Ventura”. E Ventura agradece-lhes a presença, “para mostrar que o Chega está com muita força no Alentejo, rumo à vitória de domingo”. Particularmente, agradece o sacrifício dos candidatos por Beja, distrito “muito difícil, onde, apesar dos muitos votos, é também um distrito onde somos muito ameaçados, perseguidos, insultados, em que ficamos com as famílias em risco”, considera.

E inicia o discurso, referindo as acusações de radicalização, vindas de outros líderes partidários, esclarecendo: “Nós somos extremistas e radicais inabaláveis contra a corrupção, que tem destruído os alicerces do País, somos extremistas contra os ‘tachos’. O nosso extremismo é por um País decente, 50 anos depois de nos terem prometido isso”. E prossegue, dando um exemplo acerca da indecência de que fala. “Aqui, no Alentejo, sabem bem o que é não se ter acesso à saúde, o que é ter hospitais encerrados, cirurgias adiadas, listas de espera infindáveis”.

A música triunfal e as palmas voltam a ouvir-se, há bandeiras no ar. Depois, o silêncio. O líder prossegue. “Meus amigos, eu sei que esta já foi terra de comunistas. Mas hoje podemos dizer, com orgulho, que a terra comunista tornou-se terra do Chega. Secámos o PCP e estamos a liderar as sondagens em Beja, a lutar por dois deputados – vamos ser, aqui, o partido mais votado”. Muitas palmas, “Chega, Chega, Chega”, a mesma música glorificante a acompanhar as duas silabas articuladas. Quietude. “Neste distrito, a pobreza, que está a afetar toda a classe média, atinge níveis escabrosos e envergonhados”, porque os que trabalham, os pensionistas e os empresários têm sido “esmifrados em impostos”, que servem “para dar aos outros, aos que querem viver da subsídio dependência. Hoje quase mais vale não trabalhar e viver de subsídios. Criaram-nos um País ao contrário, com o socialismo a gerar pobreza. E o que nós queremos é um País mais rico”. Música ribombante, palmas e – era já expectável – repouso.

Ventura parte agora para a parte final do discurso, discorrendo sobre o tema da insegurança – “Porque nós temos neste distrito imagens, a entrar-nos pela casa adentro, de comportamentos vergonhosos de impunidade”, fazendo referência a “ataques em esquadras da PSP, em quartéis da GNR e de bombeiros, sem qualquer problema. Como é que chegámos aqui?” Questiona. “Como é que chegámos ao ponto de, em algumas zonas deste distrito – em Beja, também – as mulheres terem medo de andar sozinhas à noite?”. Promete, então: “Se nós vencermos, dia 10, nenhum agressor de mulheres, de crianças, de polícias, se sentirá seguro em Portugal, pois iremos atrás deles, onde quer que se encontrem”. Apoteose final. O público levantado, os mais ilustres no palco. A mão direita ao coração, que se entoa o hino nacional. Ventura olha o teto de lona branca como quem olha para o Céu. Muitas palmas. Descontração.

É agora uma outra música que se ouve no espaço forrado a cartazes com o rosto sorridente do principal. Os apoiantes não dispersam, para a arruada que se segue, até o último pé de dança de André Ventura, ao som de “Conquistador” – Era um mundo novo, um sonho de poetas – esmorecer em palco.

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