Diário do Alentejo

Deputados eleitos do PS, Chega e PSD fazem balanço dos resultados eleitorais no círculo de BejaFotos | Ricardo Zambujo/D.R.

Os resultados das eleições Legislativas do passado domingo, dia 10, relativas ao distrito de Beja, trouxeram uma nova configuração de forças políticas representativas do território na Assembleia da República. Se a região está, no Parlamento, ainda, representada por dois deputados do PS e um da CDU, o primeiro plenário da XVI legislatura apresentará novos protagonistas. O “Diário do Alentejo” falou com os eleitos.

 

Texto José SerranoFotos Ricardo Zambujo/D.R.

 

“O Partido Socialista ganha eleitoralmente em todo o distrito de Beja, em todos os concelhos o PS é o partido com mais votos”. Ainda que não deixando de aludir à vitória, Nelson Brito, o único deputado socialista eleito pelo distrito, considera que os resultados obtidos não cumprem o objetivo a que o seu partido se propôs – “manter os dois deputados” eleitos nas eleições Legislativas de 2022 pelo círculo eleitoral de Beja. O parlamentar lamenta, assim, “que a região perca (até do ponto de vista nacional), um grande quadro, que é Pedro do Carmo”, deputado da Assembleia da República desde a XIII Legislatura, iniciada em 2015.

Desta forma, Nelson Brito entende a necessidade, perante os resultados obtidos, de o PS refletir “sobre o crescimento da extrema-direita, do populismo, que está englobado numa visão nacional”, da qual a região não foi exceção. “Isto preocupa-nos e temos de perceber este fenómeno de crescimento de um partido que é a antítese da história maioritária do pensamento dominante na região”, para que os seus eleitores se recentrem “naquilo que são os partidos do arco da democracia” que têm marcado o território “e que deviam permanecer”.

Discorrendo sobre as causas que levaram à perda de um mandato e a um sufrágio que contabilizou para o PS, no distrito, menos 5125 votos, em comparação com as Legislativas de 2022, o deputado socialista entende que, se por um lado, uma governação de oito anos contribui para que “haja um desgaste normal”, ajudando a “que quem está no governo decresça nos atos eleitorais”, por outro, “existe uma legislatura que foi interrompida”, que impossibilitou mostrar a conclusão de trabalho em curso, diz. “Há uma série de compromissos”, cujo “percurso enorme” foi feito pelo “Governo do PS”, que iriam ser concretizados nos próximos anos”, acentua Nelson Brito, dando exemplos: “As variantes de Beringel, de Figueira dos Cavaleiros e de Aljustrel, o estudo de eletrificação da ferrovia, o projeto-estudo, que está a ser feito, de ligação da via-férrea ao aeroporto de Beja, o investimento na Saúde (está já ao dispor dos baixo-alentejanos a ressonância magnética, no hospital de Beja) ou a ligação da barragem do Roxo à barragem da Rocha”. Nelson Brito frisa que, ao longo da campanha, “tentámos explicar às pessoas que se fez muita coisa, neste período de oito anos [de governação PS], numa visão global do País e do Baixo Alentejo, devolvendo uma série de cortes e direitos aos pensionistas e trabalhadores, garrotando as dificuldades provindas da pandemia e do surto inflacionista, fruto da guerra da Rússia com a Ucrânia. Que o PS, perante uma crise económica, tentou ir ao encontro das pessoas, minimizando as suas dificuldades”. Contudo, o deputado questiona-se, respondendo-se: “Foi suficiente o que fizemos? É claro que não. Todos percebemos que se deveria ter feito muito mais, mas o Estado tem limitações, nós somos um país pobre…”.

Nelson Brito, que, a verificar-se a indigitação de Luís Montenegro como primeiro-ministro (dependendo dos votos do círculo da emigração, decisivos para saber se é o PS ou o PSD a vencer, em número de deputados eleitos), ocupará o seu lugar na Assembleia da República como deputado da oposição, transmite: “A primeira postura que terei é de defesa da execução da segunda fase do hospital de Beja, das infraestruturas rodoviárias, nomeadamente, o IP8 (até Ficalho), da eletrificação da linha férrea Beja-Casa Branca, de uma visão de continuidade do projeto de Alqueva (a questão da água é determinante para a região) e dos dois projetos mineiros da região – Neves-Corvo e Aljustrel –, numa visão em que temos de ser pragmaticamente defensores, pois produzem matéria-prima muito importante para aquilo que são as metas de transição energética”.

 

“Imigração no Baixo Alentejo é um problema” “Foi uma grande vitória do Chega”, refere Diva Ribeiro, deputada eleita pelo distrito de Beja, um dos 48 mandatos conseguidos pelo partido a nível nacional. “Além de elegermos um deputado ficámos, também, à frente da AD em número de votos [16 595 contra 12 890]. O que aconteceu nestas eleições foi aquilo que a população, na região, nos foi revelando ao longo da pré-campanha e da campanha – que sentia uma necessidade muito grande de mudança. E acreditámos, desde sempre, que essa mudança ia, efetivamente, acontecer”.

Face às necessidades da região, consideradas pelo Chega, a deputada diz pretender levar ao Parlamento as questões – “já prometidas há tanto” – da valorização das infraestruturas rodo e ferroviárias, “que são a base do desenvolvimento de todo o setor económico da região”, contribuindo para a “fixação de jovens e de empresas, e ponto de partida para que o aeroporto de Beja venha a ter um grande potencial de desenvolvimento”.

No que concerne à questão da segurança, uma das “bandeiras” do partido ao longo da campanha, no País e na região, Diva Ribeiro esclarece: “Não posso, neste momento, avançar as ações específicas que vão estar no território, mas posso dizer que a insegurança referida pelo presidente André Ventura [no comício de campanha eleitoral realizado em Beja, no passado dia 6] era relativa à população imigrante, e aí, sim, iremos ter, com certeza, o controlo efetivo da imigração no nosso país”. E prossegue: “Os problemas de segurança existem, nós temos conhecimento deles e vamos ter isso em conta, apostando nas forças de segurança, oferecendo-lhes, novamente, a dignidade, nomeadamente, no que diz respeito aos vencimentos, aos subsídios – acreditamos que se as forças de segurança estiverem no terreno e se a imigração estiver controlada os problemas de segurança serão minimizados”. A deputada assegura que vai apresentar a questão na Assembleia da República. “Com certeza que sim. A imigração no Baixo Alentejo é um problema, é uma realidade”.

 

“O nosso governo não nos vai virar as costas” Gonçalo Valente, deputado eleito pela Aliança Democrática nas Legislativas de domingo, diz-se “bastante feliz” com o regresso à Assembleia da República de um representante do PSD do distrito de Beja. “Penso que poderíamos ter tido uma votação ainda mais expressiva [a AD conseguiu 12 890 votos], face ao abandono e ao esquecimento a que o Partido Socialista votou a nossa região – tiveram demasiados votos para aquilo que mereciam”. Depois da reprovação assinalada, o deputado considera que, agora, é terminada a fase da crítica, iniciando-se a etapa “de concretizar aquele que foi o nosso discurso de campanha, não defraudando a oportunidade que as pessoas nos deram, fazendo obra no nosso distrito”.

Considerando que existe no distrito “um conjunto de problemas aos quais tem de ser dado uma resposta rápida”, Gonçalo Valente prioriza a questão dos acessos rodo e ferroviários, a potenciação do aeroporto de Beja – “temos que iniciar, desde logo, uma alteração ao projeto inicial” –, a concretização da construção da segunda fase do hospital de Beja, para que “encontremos, aqui, mecanismos de resposta para cativar médicos” para o território, e a urgência de se olhar para o setor agrícola, particularmente, “para os agricultores de sequeiro que, nos últimos anos, têm reduzido, muitíssimo, os efetivos de gado, têm encerrado explorações”.

Também no que diz respeito ao crescente fluxo de imigração registado na região, Gonçalo Valente refere a necessidade de serem tomadas medidas. “Tem de ser encontrado um mecanismo nacional, com especial incidência no Baixo Alentejo, de regulamentação e fiscalização de entradas. Não queremos as portas fechadas, mas não podemos escancará-las. Há que quantificar a mão de obra que é necessária – para a agricultura, para a construção, para a hotelaria –, porque as pessoas não podem vir e depois sentirem-se abandonadas, perdendo toda a dignidade. De que vale termos 50 mil pessoas no Alentejo se, depois, 30 mil estão na rua, a passar fome e frio? Mais vale virem menos pessoas, havendo capacidade de resposta para as fixar, que virem mais e não termos condições. Porque, depois, gera-se aqui uma bomba social, que nos pode explodir nas mãos a qualquer hora…”.

Sobre se a sua eleição trará frutos concretos à região, Gonçalo Valente diz não ter “quaisquer dúvidas”, declarando que a sua voz mostrará no Parlamento “coragem e ambição, pondo a região à frente dos interesses partidários”, sendo que tal se fará refletir no território. “Tenho a imensa esperança de que o meu partido, que o nosso governo, não nos vai virar as costas”.

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