Texto Luís Lobato de Faria
O Alentejo é terra de forte personalidade. Aqui a identidade cultural é feita de milénios. Encontramos esta identidade nos povoados, no seu urbanismo e na sua arquitetura. As casas brancas térreas são uma das imagens de marca do Alentejo. Casas em montes isolados ou em aldeias, de paredes grossas de taipa ou adobe reforçadas por “gigantes” ou “gatos”. Casas de cantos boleados de tanta vez que foram lavadas de branco, com o azul da barra protegendo balcão, janelas e portas. Casas com espetaculares chaminés.
As chaminés no Alentejo são verdadeiras obras de arte. A chaminé alentejana é o centro da casa, o local de reunião da família, onde se cozinha, come e contam histórias. O resto da casa desenvolve-se em volta da chaminé. Quando se construía uma nova casa era importante saber quantos dias de chaminé se encomendavam ao construtor. As chaminés do Alentejo são únicas na forma, no papel que têm no quotidiano e na decoração, justamente o tema que vamos abordar.
O medo do desconhecido acompanha o homem desde sempre. Criámos religiões para explicar um universo que não conhecemos ou não podemos controlar. Ao longo da nossa vida, ao longo do ano, vamos passando por datas e rituais que nos dão segurança. Na tentativa de regular todo o caos, de controlar o nosso destino, rodeámos o quotidiano de símbolos de proteção.
No Alentejo ainda encontramos símbolos das várias culturas que por aqui passaram. Alguns destes povos acabaram esquecidos pela História. Ficaram os símbolos. Encontramos símbolos de diferentes épocas que chegaram até nós em caminhos, templos, necrópoles e sepulturas, e em diferentes partes das casas como portas, janelas ou chaminés.
A chaminé é especialmente importante porque à noite podemos trancar as janelas e as portas mas não podemos trancar a chaminé. Esta está próxima de uma divindade muito importante para as comunidades agrárias... a lua.