O povoado do Outeiro do Circo, no concelho de Beja, um dos maiores da Idade do Bronze Final da Península Ibérica, vai ser alvo de um novo projeto para aprofundar e divulgar o conhecimento científico sobre o sítio arqueológico.
O projeto, que já foi aprovado e vai ser financiado pela Câmara Municipal de Beja, irá decorrer durante este ano e 2023 e implicar um investimento de quase 20 mil euros, revela o arqueólogo Miguel Serra, que integra a equipa de coordenação.
Segundo o arqueólogo, o novo projeto decorre da necessidade de “fazer uma pausa nos trabalhos de campo” para estudar o espólio recolhido e as descobertas feitas e também para “pensar e refletir sobre a melhor forma de dar continuidade” às intervenções no Outeiro do Circo.
O projeto vai ter duas vertentes, uma de investigação e outra de divulgação, para aprofundar e dar a conhecer ao público o conhecimento científico sobre o sítio, que foi alvo de escavações arqueológicas entre 2008 e 2021.
A vertente de investigação, que arranca “logo que estiverem formalizados os procedimentos contratuais”, vai incluir “uma série de estudos analíticos” a espólios recolhidos no sítio, como cerâmicas, artefactos metálicos e em pedra e ossos de animais, explica.
De acordo com o arqueólogo, os estudos, que irão decorrer em laboratórios, vão permitir “um potencial de conhecimento muito maior sobre o espólio recolhido durante as intervenções arqueológicas”.
Os estudos, como datações e análises químicas, vão centrar-se sobretudo nos espólios recolhidos nas escavações arqueológicas realizadas entre 2014 e 2017 e entre 2019 e 2021, precisa, referindo que “grande parte” das coleções recolhidas antes “já foi alvo de algumas destas análises”.
Os espólios têm de ser estudados para se “compreender melhor” o “modo de vida das comunidades da Idade do Bronze” e “as várias dinâmicas” no Outeiro do Circo.
A par da investigação, que será “menos visível”, o projeto, “para ser também algo presente na comunidade”, irá desenvolver a vertente de divulgação do conhecimento conseguido, através de artigos científicos e de um projeto educativo.
O objetivo do projeto educativo “é potenciar e usar o conhecimento científico para alimentar atividades pedagógicas”, dirigidas aos públicos escolares do 3.º ciclo do Ensino Básico ao Ensino Superior e ao público em geral.
Oficinas sobre o estudo de cerâmicas e ossos de animais, oficinas de interpretação de artefactos, conferências, nomeadamente sobre estratégias de comunicação para o património, são algumas das atividades pedagógicas previstas.
Miguel Serra adianta ainda que as atividades do projeto educativo vão arrancar em maio e decorrer ao longo deste ano e 2023 no concelho de Beja e nas cidades de Coimbra e Braga, onde estão entidades parceiras do novo e de outros projetos relacionados com o Outeiro do Circo já desenvolvidos.
O novo projeto é coordenado pela arqueóloga Sofia Silva, conta com o apoio à coordenação dos arqueólogos Miguel Serra e Eduardo Porfírio e envolve também o zooarqueólogo Nelson J. Almeida e a geóloga Sofia Soares, entre outras pessoas e entidades parceiras.
O Outeiro do Circo, com cerca de 17 hectares, terá sido o grande centro de poder regional antes da cidade de Beja, que se desenvolveu a partir da Idade do Ferro, no século VII a.C. (antes de Cristo).
O sítio é conhecido desde o século XVIII e foi alvo de um primeiro estudo científico em 1977 e de trabalhos arqueológicos entre 2008 e 2021, no âmbito de vários projetos de investigação.