Passados quase 14 anos sobre a data da sua descoberta, voltei a observá-la e, com dúvidas sobre a divindade ali representada, falei com alguns colegas e chegámos a uma conclusão: era Ariadne, pouco depois de ter sido abandonada por Teseu na Ilha de Naxos, em pleno momento em que foi encontrada por Baco, que posteriormente viria a casar com ela.
Mas quem era Ariadne? Na mitologia greco-romana, Ariadne é a princesa de Creta. É filha do rei Minos e da rainha Pasifae. Através da mitologia ficamos a saber que o rei Minos, depois de ter vencido uma guerra contra Atenas, exigiu que lhe fossem enviados jovens, como tributo, de nove em nove anos, para serem entregues em sacrifício ao Minotauro. Num desses envios de jovens seguiu Teseu, por quem a jovem e lindíssima Adriadne se apaixonou perdidamente.
Teseu, um jovem cheio de coragem, resolveu combater o Minotauro para acabar, de uma vez por todas, com os sacrifícios. Ariadne, conhecendo o que o seu amado projetara, disse-lhe que a levasse com ele para Atenas e a desposasse. Teseu anuiu e ela deu-lhe uma espada e um fio de lã, para que ele pudesse saber o caminho de volta.
Teseu venceu o Minotauro e fugiu com Ariadne. No regresso a Atenas resolveram descansar na ilha de Naxos, então governada por Smerdius. Os habitantes de Naxos receberam Teseu e os seus companheiros como convidados. Durante a noite, Teseu não correspondendo ao sentimento que Adriadne por ele sentia, abandonou-a e seguiu sem ela para Atenas (outras variantes da lenda acrescentam que Baco apareceu em sonho a Teseu exigindo-lhe que lhe entregasse Ariadne).
Ao acordar, Ariadne viu-se só e abandonada, entrando em desespero. Afinal de contas, não esqueçamos que, por amor, ela traíra o seu pai e a sua família. A deusa Vénus, comovida com a situação, resolveu ajudá-la “encaminhando-a” para o amor eterno de um deus: Baco. Casaram e tiveram quatro filhos: Toas, Estáfilo, Enópion e Pepareto. Quando foi assassinada por Artémis, Baco atirou a coroa que lhe ofereceram em Naxos para o céu criando assim a ‘Corona Borealis’. Foi depois buscá-la a Hades (“inferno”), onde recolheu também a sua mãe Sémele, elevando-a ao Olimpo e transformando-a em deusa. Na realidade, Ariadne representa também as mulheres que se entregam numa relação com a pessoa que amam mas que, à mínima oportunidade, são abandonadas à sua sorte.
Este fragmento foi descoberto numa camada de destruição de um edifício público romano, onde outrora Baco foi cultuado num nicho (ninfeo?), como o demonstra a cabeça de Dyonisos menino encontrada nas proximidades. Estariam a escultura e o cálice relacionados? Não sabemos, mas queremos acreditar que sim.
Com esta imagem da Ariadne ‘Mirtilensis’ (de Mértola) desejo homenagear todas as mulheres, agora que passam exatamente dois anos que publiquei a minha primeira crónica neste jornal, dedicada a uma grande mulher, que tem o seu lugar entre as fundadoras da cidade de Pax Iulia. A todos e a todas, um grande abraço e votos de rapidamente atingirmos em Portugal a tão desejada igualdade de género.