Privados de trabalhar, numa atividade que depende, em exclusivo, das vivências do quotidiano, do contacto com o exterior e com terceiros, os fotógrafos viram-se, também eles, sujeitos ao confinamento e isolamento social. Uma experiência diferente, com tanto de reclusão, quanto de introspeção, reinvenção ou apenas ansiedade face à incerteza do futuro da profissão.
Texto Rita palma Nascimento
ANA ESPINHO
Neta e filha de fotógrafos, Ana Espinho recorda-se de sair da escola e passar o tempo no estúdio do avô: “Servia de modelo nos seus testes de luz”. Licenciou-se em Gestão de Marketing e trabalhou em diversas áreas, mas foi a paixão pela fotografia que lhe definiu o caminho. “Em 2008 comecei a trabalhar com o meu pai [Fotografi@'s - José Espinho e Filhas]. Na altura estava desempregada e surgiu a hipótese de preencher um horário provisório na loja. O provisório tornou-se definitivo”. Integrou a equipa de reportagem de casamentos como assistente, depois como segunda fotógrafa e no final de 2010 assumiu a gestão da equipa.
Em 2014 frequentou o curso de fotografia profissional na Oficina da Imagem, cujo portefólio foi premiado pela Associação Portuguesa de Profissionais da Imagem com duas menções honrosas na categoria de retrato e no projeto final de nu artístico. Desde então tem frequentado inúmeras formações e congressos em Portugal e Espanha, principalmente nas áreas de retrato, fotografia de família e fotografia de casamento.
Ana Espinho conta que 2020 “foi um ano difícil” em todas as valências da empresa. “O Natal trouxe algum alívio, mas nada que se possa comparar com o ano anterior. 2020 foi também o ano em que não fotografámos escolas e em que tivemos todos os casamentos e batizados adiados. Uma parte sem previsão de nova data e os restantes remarcados para este ano. Com o novo confinamento voltaram os reagendamentos”.
Questionada sobre de que forma foi possível continuar alguma da sua atividade durante o período de confinamento, Ana Espinho refere que o ‘online’ tem sido uma oportunidade que tem explorado. “Quando em março do ano passado fomos obrigados a fechar as portas das nossas lojas, fomos apanhados de surpresa e não sabíamos, ao certo, quanto tempo iríamos ficar sem trabalhar. Neste segundo confinamento foi diferente, embora não soubéssemos (e ainda não sabemos) por quanto tempo, sabíamos que este confinamento seria mais longo. Viemos para casa, mas continuamos a trabalhar ‘online’. Mantemos ativo o serviço de impressão e de produtos personalizados com fotografias. Recebemos as fotografias por e-mail ou por WhatsApp e fazemos entregas e envios. A página de Facebook tem sido a nossa montra e estamos a preparar uma loja ‘online’ com uma estratégia digital integrada que acreditamos ser uma condição imprescindível para o presente e para o futuro”.
A arte de fotografar é o que mais me preenche”, diz a fotógrafa. “É o que me motiva e me alimenta a alma. Fotografar é, para mim, um processo criativo que envolve diversos fatores. A minha fotografia é o reflexo do meu estado de espírito, da forma como vejo os outros e o mundo que me rodeia. E porque neste momento não me é permitido fotografar clientes, encontro na minha família e no meu dia-a-dia, cá por casa, uma forma de estimular a minha criatividade e afastar maus pensamentos. Tenho fotografado algumas experiências culinárias resultantes do confinamento e tenho também aproveitado o tempo para apostar na formação”.
E se outros momentos existem, capazes de ilustrar a individualidade de uma realidade coletiva, Ana Espinho envia-nos o seu olhar através da captura de um elemento base, tradicional e essencial, um pão caseiro, fatiado à medida do correr dos dias, endurecido ao sabor do tempo, das dificuldades, do desalento e da incerteza.