Diário do Alentejo

Saúde: As principais causas de morte do Alentejo

04 de novembro 2020 - 16:45

As doenças do aparelho circulatório, onde se incluem as doenças cerebrovasculares, o enfarte agudo do miocárdio ou a doença isquémica do coração, são a principal causa de morte no Alentejo.

 

Texto Marta Louro

 

Uma análise efetuada pelo “DA” aos últimos dados do Instituto Nacional de Estatística dá conta da existência de 2 273 mortes anuais provocadas por doenças do aparelho circulatório. Seguem-se os tumores (neoplasmas) que mataram 1 600 pessoas e os tumores malignos com 1 561 mortes. No Alentejo, as doenças do aparelho respiratório, como a pneumonia e as doenças crónicas de pulmões, brônquios e traqueia, além da doença pulmonar obstrutiva crónica, tiraram a vida a 807 pessoas, e as cerebrovasculares a 679. Neste último grupo incluem-se os acidentes vasculares cerebrais (AVC), sendo que a hipertensão arterial (que afeta mais de um terço da população entre os 25 e os 74 anos) e as arritmias cardíacas são os principais fatores de risco.

 

Para Pedro Vasconcelos, presidente do Conselho Sub-Regional de Beja da Ordem dos Médicos, os números “são uma constatação daquilo que se passa, não só no Alentejo, mas sim em todo o país”, estando estas causas de morte estão relacionadas “com os hábitos de vida” e não com a falta de meios de diagnóstico. “Há dificuldades no Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas em termos de cuidados primários – que são a especialidade que trata em primeira linha essas situações – a falta de profissionais não é tão grande, de forma a estar aí a explicação desses números”. Para Pedro Vasconcelos em causa estão, essencialmente, “hábitos de vida menos saudáveis”, que, uma vez alterados, poderiam “evitar uma enormíssima percentagem de doenças”.

 

Médica e dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul, Tânia Russo refere que “esses números terão na sua base múltiplas causas, desde logo as condições de vida ou as condições socieoeconómicas e o acesso aos cuidados de saúde. É preciso um estudo mais aprofundado para determinar exatamente o que está na origem”.

 

“Nós sabemos que o nosso país, apesar de ser pequeno é um país com grandes desigualdades. Infelizmente, o Alentejo é uma das regiões mais desfavorecidas”, acrescenta Tânia Russo, defendendo a “obrigatoriedade” do Governo “tomar medidas” no sentido de “melhorar a acessibilidade aos cuidados de saúde na região e apostar em medidas de prevenção. Não só os cuidados hospitalares, mas sobretudo os cuidados de saúde primários têm aqui um papel fundamental”.

 

“Perante estes números e conhecendo esta realidade”, a médica e sindicalista diz “que o poder político não pode ficar de braços cruzados e manter esta situação de desvantagem e de grave carência nos cuidados de saúde na região Alentejo”.

 

Para Tânia Russo, “habitualmente as doenças” do aparelho circulatório, os tumores malignos, as doenças do aparelho respiratório e as doenças cérebrovasculares “estão mais associadas aos idosos e à população em idade mais avançada. No Alentejo, a população é envelhecida, e, portanto, precisa de cuidados específicos”. Tendo em conta esse fator, “não é de estranhar que tenhamos esta realidade”.

 

Nos últimos tempos, acrescenta, “temos vindo a assistir a um excesso de mortalidade”, não explicada apenas pela covid-19. “Temos uma grande sobrecarga imposta por esta pandemia nos serviços de saúde. O nosso receio é que todas as outras patologias não covid-19 estejam a ser deixadas para trás. Por exemplo, os rastreios de doenças oncológicas não têm sido feitos”.

 

“A resposta que tem sido planeada”, defende, “não pode passar apenas por um esforço na resposta à covid-19, tem de haver também muita cautela e muita aposta nas [outras patologias] porque, infelizmente, elas continuam a existir e a matar”.

 

AUMENTO DA MORTALIDADE

O número de óbitos aumentou nos primeiros oito meses do ano na área da Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARSA). Até final de agosto há registo de mais 158 mortes, face a 2019. No ano passado, morreram na região 5 092 pessoas. Este ano o número de mortes foi 5 250. Os dados, do Instituto Nacional de Estatística (INE), revelam que no Baixo Alentejo há registo de mais 78 mortes durante os primeiros oito meses do ano, o que representa um aumento de 5,8 por cento em relação a 2019.

 

Números absolutos: entre janeiro e setembro deste ano morreram 1 413 pessoas. No mesmo período do ano passado esse número era de 1 335. Um dos problemas, refere Isabel Santos, da Comissão de Utentes de Beja, prende-se com a falta de médicos, situação que a pandemia “veio agravar”. Se antes da covid-19 “já existiam problemas com listas de espera para consultas e exames, quer nos centros de saúde, quer no hospital de Beja, agora a situação é insustentável”. Para que estes números de mortes no Alentejo não se voltem a repetir é “preciso um maior investimento no SNS, investimento que desapareceu nos últimos anos”, conclui.

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