Diário do Alentejo

João Portela, treinador do Moura, afasta candidatura do clube, mas admite querer vencer todos os domingos

20 de setembro 2025 - 08:00
Uma nova realidade

João Diogo Portela, de 31 anos, chegou ao Moura Atlético Clube há cerca de uma década, interrompida por ausências breves, e aqui se tem mantido, desempenhando vários cargos na estrutura dos mourenses: treinador e coordenador da formação, adjunto e treinador na equipa principal, como no caso da época em curso.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

“Estamos a deixar um pouco de lado aquilo que são as valências dos adversários e as dificuldades que nos poderão oferecer e focamo-nos, principalmente, em nós, enquanto equipa, no sentido de crescermos, de nos valorizarmos”, admitiu João Portela, sublinhado que este será o ano zero de um percurso a trilhar segundo um novo paradigma. Desde logo, com um plantel jovem, empenhado e ambicioso que não lutará pelo título, mas quer vencer todos os domingos.

 

Uma equipa com uma nova identidade. Os adeptos e associados irão identificar-se mais com o novo perfil do plantel?

Sim. Esse é um fator muito importante. Os miúdos vão proporcionar isso, porque, como é normal, vão trazer os amigos e as famílias para os jogos. É muito positivo que isso aconteça. Infelizmente, não conseguimos reunir mais jogadores da terra por decisão deles, são jovens que decidiram ir para outros clubes, mas eles é que saberão o que será melhor para eles. Compreendemos isso, mas, em termos daquilo que é o paradigma do Moura, o que queremos é tentar aproximar as pessoas do clube.

 

Os treinadores das equipas que estão neste campeonato insistem em colocar o Moura no lote dos candidatos ao título…

É normal, e será sempre assim, porque é um clube que desceu do campeonato nacional e, à partida, deverá estar melhor preparado para disputar um campeonato distrital, porque traz uma bagagem maior para a época seguinte. Mas, aqui, o facto é que não apresentamos qualquer jogador vindo do campeonato nacional, podemos referir apenas Manuel Almeida, um juvenil de 16 anos que joga nos juniores, e que foi o único a transitar. Não nos apresentando com essa bagagem, mas tendo nós uma equipa em construção, não podemos dizer que seremos candidatos. Somos muito claros em perceber que o nosso caminho será diferente, mas terá objetivos concretos, que passam por ganharmos domingo após domingo.

 

Já venceu o primeiro jogo, frente ao Aldenovense, o clube da sua terra natal. E se for ganhando domingo após domingo o que acontecerá?

Realmente isso pode parecer um contra-senso dizer que não somos candidatos, mas que queremos ganhar domingo após domingo. Temos que pensar jogo após jogo, porque este processo de formação do plantel demorará algum tempo. Percebemos que isso é um risco, mas sabemos que temos um grupo que nunca para de correr, tem sangue jovem, nunca desiste, trabalha com intensidade e quer sempre mais.

 

A queda do Campeonato de Portugal deixou algumas feridas que ainda estão por sarar, daí essa mudança de paradigma?

Não. A minha opinião é que as pessoas estão perfeitamente conscientes daquilo que o clube, neste momento, pode ambicionar. Não é vergonha nenhuma dizer que, neste momento, não existem condições financeiras para andarmos num Campeonato de Portugal competindo com equipas que têm orçamentos claramente superiores. Não temos problemas em assumi-lo. Temos é que perceber que temos de ser bons no lugar onde conseguimos estar, naquilo que conseguimos oferecer e, acima de tudo, que nunca falte nada às pessoas, em vez de entrarmos por algum tipo de caminho que, mais adiante, se possa revelar complicado para o futuro do clube. Mas não existem feridas. Sabemos que as pessoas estão habituadas a isso, têm um certo gostinho de estar no Campeonato de Portugal mas, neste momento, estamos onde nos é possível estar, ou estamos no lugar que merecemos, porque descemos de divisão no último jogo da época passada e isso é um facto. Mas estamos todos muito tranquilos com o caminho que estamos a percorrer.

 

O Moura Atlético Clube tem um ADN de campeonatos nacionais. É aceitável que os adeptos sejam exigentes nesse aspeto…

Sim, é inegável que o Moura tem esse ADN. Esteve muitos anos em campeonatos nacionais, depois, a partir daquela altura da pandemia, entrou num período de sobe e desce, com alguma intranquilidade, mais do que seria normal neste clube. Moura é uma terra que gosta de futebol, as pessoas gostam do Moura e olham para o clube como um clube de campeonatos nacionais. Isso é tudo normal. Mas assumo que não nos estamos a esconder nem a ocultar objetivos, estamos é a ser muito realistas porque, de alguma forma, não queremos criar muitas ilusões às pessoas e depois dececioná-las. Queremos sempre ganhar, isso é óbvio, mas esse tal ADN é muito aquilo que teremos de partilhar com este grupo de atletas.

 

Identifica-se com o papel de “reserva” moral e desportiva do Moura? Quando o clube sobe ao nacional vem um treinador de fora, quando desce, assume João Portela…

Cheguei aqui em 2015, saí por pouco tempo e regressei. Voltei a sair em 2022, estive no Aldenovense, mas regressei a Moura numas funções muito diferentes e que tenho mantido, que é a coordenação da formação. Temos desde petizes a juniores, incluindo o futebol feminino. Agora, o que tem sido aqui a minha vida e o que são as minhas valências? Já treinei todos os escalões, com muito gosto, mas o que fica aqui é que eu estou sempre disponível para trabalhar seja em que lugar for e seja com que for, de fora ou da casa, estou sempre disponível para isso. A minha relação com o clube já é muito grande, não é que estejamos confortáveis por isso, porque isso não faz parte de mim. Sou treinador do Moura onde quer que seja e o desafio deste ano é treinar a equipa principal. Esse será o meu compromisso. Sou sempre o primeiro a chegar e o último a ir embora, pautando a minha presença por uma relação séria e honesta com todas as pessoas.

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