Ricardo Paixão iniciou a carreira no Clube Atlético Aldenovense, antes de vestir a camisola do Sporting Clube de Portugal. Atualmente, representa o Beja Atlético Clube, mas será com o símbolo de Portugal que disputará o próximo campeonato europeu, que se realizará na Madeira.
Texto Firmino Paixão
Nasceu, há 39 anos, em Vila Nova de São Bento, no concelho de Serpa, radicou-se em Almada, e atravessa, diariamente, o rio Tejo, para trabalhar no Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa. Tem no palmarés a conquista de vários títulos nacionais e internacionais, a obtenção de inúmeros recordes e triunfos em muitas provas em que participa por esse país fora. No próximo mês de outubro (de 2 a 12) estará na Madeira (Câmara de Lobos, Funchal, Machico e Ribeira Brava), onde participará em diversas provas dos Campeonatos da Europa de Masters, à procura de mais títulos para o seu já valioso palmarés.
Encontrámo-lo, recentemente, na pista do Complexo Desportivo Fernando Mamede, em Beja, a cuidar da forma, mas também a matar saudades do Alentejo. “Estou sempre muito tempo sem cá vir. A minha preparação é quase toda feita lá em cima, mas este foi um ano complicado devido a um problema de saúde do meu filho, que nos obrigou a uma grande luta, e então, o atletismo ficou um pouco para segundo plano, mas queremos acreditar que as coisas estarão resolvidas”. O atleta explicou então: “Estou a preparar o Campeonato da Europa de Masters que, este ano, se realiza em Portugal, nomeadamente, na Madeira. Será em início de outubro, uma data atípica, porque não é muito habitual acontecerem provas de pista, mas a European Masters Athletics marcou para essa data. Inicialmente, não pensei competir, mas, mais adiante, acabei por decidir estar presente. Falta cerca de um mês, voltei em força aos treinos e decidi vir aqui à pista de Beja fazer umas séries, para tentar chegar lá na melhor forma. Não será muito fácil porque, na realidade, não é o momento certo para provas de pista, mas irei fazer o meu melhor. Tenho essa responsabilidade uma vez que estou entre os melhores da Europa e do mundo e, no meu escalão, terei sempre uma palavra a dizer”.
A época do ano e essa paragem forçada pela doença do filho, dois fatores que física e emocionalmente marcarão essa presença no europeu, admitiu Ricardo Paixão. “Foi uma paragem forçada, mas, ainda assim, ganhei todas as provas a nível nacional em que participei, no meu escalão e nas distâncias de 800, 1500 e na milha. Consegui dois recordes nacionais, um de 1000 metros em pista coberta, e a milha, em estrada. Mesmo perante as adversidades acabou por ser uma época muito boa”. Os objetivos para os europeus da Madeira estão plenamente identificados. “O meu foco está sempre nos títulos”, admitindo, no entanto: “Sei que será difícil, ainda mais no meu escalão, o M35 que é o mais novo e mais difícil dos veteranos. Depois, este será o meu último ano nesse escalão. Estou perto dos 40 anos mas ainda consigo baixar dos quatro minutos nos 1500 metros, registo que tenho sempre feito desde que era juvenil, algo que há muitos anos ninguém conseguia fazer, que era correr abaixo dos quatro minutos já tão perto dos 40 anos. São poucos os atletas que o conseguiram”.
Ricardo Paixão vestirá a camisola de Portugal, mas o vínculo ao Beja Atlético Clube permanece intacto, revelou. “Continuo associado ao Beja Atlético Clube e admito que se não fosse o meu clube seria impossível estar nestes campeonatos internacionais, porque são presenças de caráter individual que não recebem apoio da Federação Portuguesa de Atletismo. O clube apoia-me imenso, a Câmara Municipal de Serpa também me dá uma ajuda, embora o clube não seja de Serpa – eu é que sou natural de Vila Nova de São Bento, portanto daquele concelho. Mas devo sublinhar que nada disto seria possível se não fosse o Beja Atlético Clube”. Afinal, é uma questão de reciprocidade: o clube ajuda e o Ricardo devolve-lhe títulos nacionais e internacionais. “É a moeda de troca que consigo dar. Não consigo dar muito mais do que fazer o meu melhor. Ainda assim é triste sentir que o clube não seja tão apoiado pelo município de Beja quanto devia, porque não são muitos os clubes com atletas internacionais que, durante tantos anos, conquistam estes títulos, mas, enfim…”. Resta, por isso, o reconhecimento do município do seu concelho: “Sendo uma autarquia à qual não estou diretamente ligado em termos desportivos, porque vivo em Almada e represento um clube de Beja, é relevante o reconhecimento e o apoio a um atleta natural do concelho. Tem muito significado”. Afinal, uma boa razão para conservar o tal “#orgulho em ser aldeano”: “Sem dúvida, esse orgulho continua. A gente da minha terra também faz questão de me felicitar nas redes sociais e claro, isso deixa-me sempre imensamente satisfeito, porque estão ali as minhas raízes”.
Um acaso retirou este atleta e bombeiro sapador do teatro de operações da recente tragédia com o elevador da Glória: “Não estive presente porque o acidente aconteceu no meu primeiro dia de férias, caso contrário estaria, porque foi a minha equipa e o meu carro [de desencarceramento] que estiveram presentes. Foi um acaso estar de férias, caso contrário estaria nessa ocorrência. Uma tragédia enorme, que não é muito usual, e com um tão elevado número de vítimas. É triste…”.