Diário do Alentejo

“Não somos candidatos!”

06 de setembro 2025 - 08:00
Sporting Clube Ferreirense quer ganhar sustentabilidade para voltar aos êxitos de outrora

O treinador Carlos Guerreiro “Cajó” regressou, nesta época, ao Sporting Clube Ferreirense, vinculado a um projeto de crescimento e valorização do clube. Com natural ambição e a habitual seriedade, mas sem outro objetivo que não seja aproximar o S.C. Ferreirense dos clubes de topo.

 

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

 

“O Ferreirense não será candidato ao título. Muito longe disso”, admitiu Carlos Guerreiro em conversa franca com o “Diário do Alentejo”, revelando: “Na altura em que fomos convidados tivemos algumas linhas traçadas que depois não conseguimos concretizar e obrigámo-nos a repensar tudo aquilo que pretendíamos para a época. A tónica não é disputarmos o título, mas aproximarmo-nos das equipas que verdadeiramente lutam por isso”. O técnico, que na época passada saiu do Castrense com o campeonato ainda em curso, já tinha passado pelo Ferreirense em 2008/2009.

 

 

O convite do Ferreirense para regressar a esta casa surpreendeu-o? A vida de um treinador é como a de um nómada…Quando fomos abordados não esperávamos o convite. Mas a direção apresentou-nos um projeto para o crescimento do clube, para tentar recolocar o Ferreirense, e o seu futebol sénior, mais próximo das equipas de topo. Reunimos várias vezes até acertarmos aquilo que se pretendia para esse crescimento do clube e viemos muito com esse propósito, tentar fortalecer a estrutura e tentar fazer crescer o clube. O futebol sénior é muito diferente do futebol de formação, onde o Ferreirense regressou há uns anos em força e onde conseguiu diversos títulos. No futebol sénior, se quisermos crescer, primeiro temos de tornar o Ferreirense apetecível para conseguirmos captar jogadores, apetecível em tudo aquilo que envolve o clube, desde o departamento médico a uma cúpula de direção que terá de ser forte e direcionada para o futebol sénior.

 

O percurso de um treinador tem constantes aprendizagens. Nunca se pode dar nada por garantido pois, às vezes, somos surpreendidos…Sim! Por exemplo, a formação desta equipa não está a ser nada fácil. Este ano o mercado do jogador local, que já não é muito largo, foi muito atacado pelos diversos clubes aqui à volta. O Ferreirense não tem capacidade para ter atletas de fora a residir, como praticamente quase todos os clubes têm. Não conseguindo ir buscar jogadores fora, temos de nos cingir ao jogador local, e não foi fácil captá-lo para o projeto do Ferreirense. Não foi fácil, até pelo passado recente desta equipa e por termos, próximo daqui, um lote de equipas que, este ano, serão fortes candidatas ao título: Castrense, Aljustrelense e Moura. Temos o Aldenovense que vai estar forte, temos o Milfontes que tem tido um crescimento muito sustentado, portanto, como algumas coisas que pretendíamos não foram conseguidas, esperamos um campeonato difícil.

 

Os projetos a médio prazo são exequíveis no futebol ou os clubes ainda vivem dos resultados imediatos?O projeto que foi falado com a direção não é um projeto de treinador. Será um projeto de clube que nós iremos ajudar a tentar crescer para, depois, continuar esse crescimento connosco ou com outro treinador. Concordo absolutamente que não existem projetos no futebol distrital, nem no nacional. O projeto é ganhar jogos, é cumprir objetivos e, às vezes, mesmo cumprindo, os projetos são interrompidos a meio, o que também não deixa de ser curioso. Mas existe o sentimento de tentarmos fazer crescer o clube, assim o clube queira também crescer.

 

O que lhe foi mais pedido para além desse crescimento? Resultados, classificações, outras conquistas?Queremos muito chegar o Ferreirense às equipas de topo. Pelo menos, trabalharemos para o clube ficar na metade de cima da tabela. Com a realidade que temos, vamos ver se o conseguiremos. Como disse, não conseguimos no mercado algumas pedras que, efetivamente, nós pretendíamos. Basta ver que o nosso recrutamento baseou-se em jogadores da segunda divisão distrital e de clubes que desceram de divisão no ano passado, no caso o Penedo Gordo e o Sporting de Cuba. O que aí vem não será fácil, mas estamos cá para trabalhar e para fazermos o melhor possível.

 

O plantel terá, certamente, uma base da época anterior, com alguns reforços, escolhas que conseguiu concretizar?Manteve a base possível, porque saíram alguns titulares, que vinham de Évora e que deixaram de ter o transporte para se deslocarem. Perderam-se, de facto, alguns jogadores importantes e tentámos reforçar a equipa da forma possível. Mas temos um grupo em que acreditamos, um grupo que temos de fazer crescer, que terá de trabalhar para adquirir uma mentalidade forte, porque o que aí vem não vai ser fácil. Vamos trabalhar nessa mentalidade, reforçar o espírito de grupo e fazer com que rapidamente o grupo esteja dotado desses critérios que, neste campeonato, serão fundamentais, porque se prevê que seja muito competitivo.

 

Estamos, ainda, num período de adaptações aos princípios e aos modelos de jogo, mas o mister já parece confiante no grupo que lidera…Eu gosto sempre muito das minhas equipas. Vejo sempre o melhor nas minhas equipas e vejo sempre os meus jogadores como os melhores que podem existir. Temos, muitas vezes, que saber aquilo que conseguimos pedir aos atletas e aquilo que são os objetivos atingíveis. Este grupo está longe do topo da tabela, está longe de poder lutar pelo título, mas terá de ser uma equipa competente, uma equipa que, sendo humilde, quer agigantar-se perante os vários jogos que iremos ter. Tem de ter, principalmente, essa mentalidade. Esse trabalho, para mim, vai muito pela mentalidade e pelos hábitos de treino, pois, no ano passado, a equipa terminou a época quase sem treinar, fazia-o uma vez por semana. O contexto semanal, o contexto do rigor em cada unidade de treino, o contexto da véspera e do próprio dia de jogo, é algo que temos de ir interiorizando se, efetivamente quiserem chegar lá.

Comentários