O Despertar Sporting Clube nasceu no dia 24 de junho de 1920. Há 105 anos existia, de facto. Nasceu num dia de celebração de um dos três santos populares. Cresceu, valorizou-se, ganhou dimensão e notoriedade. Mas é, ainda, um dos emblemas mais populares da região.
Texto Firmino Paixão
“O clube tem uma família antiga e muito dedicada ao clube e são essas pessoas que mantêm viva essa mística do velho ‘Rasga’. Foram até algumas dessas pessoas que me incentivaram a candidatar-me à direção do clube e com esta inabalável confiança no futuro”. Quem o diz é José Cavaco, atual presidente do Despertar Sporting Clube, que, num momento festivo, não se coibiu de olhar para o passado, deixando claro: “Rendemos justa homenagem a todos quantos passaram por esta instituição, presidentes, dirigentes, treinadores, atletas, colaboradores, sócios e simpatizantes, cujo contributo foi essencial para a construção da identidade e grandeza do clube”.
Como está o Despertar tantos anos depois da sua fundação?
O Despertar é um clube muito grande. Tem uma dimensão que eu nunca imaginei que fosse tão gigantesca, mesmo estando cá desde 2015 como dirigente de um dos escalões da formação. Esta é uma casa muito grande.
Neste ano, e pouco que tem de presidência do clube, tem sido mais solicitado a apagar fogos ou a projetar o futuro?
Entrámos numa altura em que o clube se encontrava numa situação um pouco crítica e em que os resultados não apareciam. Porém, estamos cá para levantar o clube, essa é a nossa prioridade e o objetivo que queremos concretizar.
O Despertar Sporting Clube já existia há 105 anos. É uma particularidade que o distingue do outro clube centenário da cidade?
É verdade. O Despertar Sporting Clube tem um percurso muito longo, uma história muito prestigiada e dirigentes que deram muito de si próprios a este emblema. Ainda recentemente organizámos um torneio que homenageou o antigo e grande presidente Mariano Baião, pessoa que, ao longo de 22 anos de presidência, deu muito ao Despertar. Um senhor que deve ser sempre muito respeitado dentro do Despertar, porque 22 anos não são 22 meses. Estou aqui há um ano e a gestão deste clube já me vez alguns cabelos brancos. Imagino se fossem 22 anos. Tive a oportunidade de falar com ele, contando-me a história da existência do clube e, sim, o Despertar tem, de facto, 105 anos de existência.
O Despertar continuará a homenagear as suas figuras mais emblemáticas, à semelhança do que fez com Mariano Baião?
Temos essa intenção. Assumimos este clube há pouco mais de um ano e, como disse, o Despertar é um clube muito grande. O tempo tem sido curto para conhecermos bem esta casa, para conhecermos o clube com maior profundidade. Já procurámos falar com alguns sócios mais antigos para ficarmos mais a par do historial do clube e identificarmos as pessoas que, no passado, trabalharam em prol do Despertar, e a nossa intenção é reconhecer o contributo que deram a este emblema.
Sente que, através dos tempos, o clube procurou não ficar agarrado ao passado, mas evoluir e modernizar-se?
Claro. A intenção é essa mesma. Temos de evoluir. É um processo que está em curso. A anterior direção também o fez. Não podemos falar só de trabalhos maus que as anteriores direções possam ter feito, acontece com todos, mas também deixaram aqui trabalho meritório. O nosso objetivo é prosseguir nesse rumo. Levantar mais o Despertar, fazê-lo evoluir para patamares mais elevados do que está atualmente.
O clube manterá a vocação que sempre teve para formar atletas?
Sempre. Não nos desviaremos nada, e em nenhum momento, desse caminho. Pelo contrário, o nosso foco é cada vez mais a formação, sem desvalorizar, nem tirar mérito à nossa equipa sénior, com a qual vamos trabalhar para que a próxima época seja bem melhor do que a anterior. Mas o nosso foco, repito, será sempre a formação.
O clube tem património que valoriza e de onde obtém receitas próprias…
O Despertar é praticamente autónomo do ponto de vista financeiro. Não estamos dependentes de apoios externos. Temos dois espaços na sede concessionados para bar e para um ginásio e temos o protocolo com a gasolineira. Mas temos também o contributo de cerca de 700 associados. São receitas importantes que têm garantido a estabilidade financeira do clube. Projetamos valorizá-lo mais, estamos a projetar a instalação de um museu aqui na sede. Estamos a criar um gabinete clínico no espaço desportivo que utilizamos, para estarmos mais perto dos atletas, e, certamente, que modernizaremos a frota de viaturas que já está um pouco antiga. Para já, estes são os projetos mais imediatos que temos em mente.
A última época desportiva não terá corrido muito bem…
Não correu. E isto não é desculpa nenhuma. Nós assumimos o erro. Mas entrámos em finais de maio de 2024. O tempo para prepararmos a época, por exemplo, da equipa de iniciados, que começou a competição em agosto, foi demasiado curto e o resultado foi a despromoção de um campeonato nacional onde estávamos desde que essa competição existe. Na próxima época não teremos qualquer equipa em campeonatos nacionais, é uma mágoa muito grande para nós. Algum dia aconteceria a alguém. Aconteceu connosco, mas vamos já correr atrás desse prejuízo, tentando que, na próxima época, regressemos ao lugar onde devemos estar.
A equipa sénior também andou sempre com o “credo na boca” até ao último jogo do campeonato…
Vamos manter a equipa sénior em competição e procuraremos reforçá-la, para ganharmos a estabilidade que não conseguimos ter neste ano. Manteremos a mesma equipa técnica, o mister Jesus Neca, que ganhou um balneário muito unido e a confiança da direção. Mas, como já referi, entrámos muito em cima do início da época nos diferentes campeonatos e primeiro tivemos de olhar para dentro do clube. Tivemos de organizar a casa que, confesso, estava um pouco desorganizada. Tivemos de trabalhar cá dentro e só depois nos foi possível olhar lá para fora.