Os Campeonatos Nacionais de Ciclismo Master e Elites Amadores disputaram-se, no último fim de semana, nos concelhos de Almodôvar e Castro Verde, com organização da Associação de Ciclismo do Algarve.
Texto Firmino Paixão
Um contrarrelógio de 15,7 quilómetros e uma prova de fundo que variou entre os 74,3, 119,6 e os 151,2 quilómetros, consoante os escalões etários, foram os desafios propostos aos cerca de 250 corredores de equipas do Norte e Sul do território nacional que alinharam nestes campeonatos nacionais organizados pela Associação de Ciclismo do Algarve (ACA), sob tutela da Federação Portuguesa de Ciclismo.
Bons resultados para inúmeros ciclistas da região ou filiados em clubes locais, especialmente, o “TGV” cubense, João Letras (Grupo Parapedra) que renovou o título nacional em elites, o sempre eterno almodovarense, Manuel Caetanita (Team Danado/Peçamodôvar), que reconquistou os títulos de master 70 nas provas de contra-relógio e de fundo, também o aljustrelense Luís Gomes (Vertentability/Grândola), campeão na categoria de m55, e Filipe Oliveira (Casa do Benfica de Almodôvar), campeão nacional de fundo em master 35. Tudo isto a par de outros lugares honrosos, segundos e terceiros da geral, repartidos entre corredores do Team Danado, de Castro Verde, e da Casa do Benfica de Almodôvar.
Os campeonatos contaram com o alto patrocínio dos municípios Almodôvar e de Castro Verde, autarquias a quem a presidente adjunta da ACA, Ana Cunha, deixou a nota: “Um profundo reconhecimento e gratidão pela pronta disponibilidade e entusiasmo genuíno, aliados ao compromisso demonstrado ao longo de todo o processo”. A dirigente algarvia estendeu o seu reconhecimento à Federação Portuguesa de Ciclismo pela cooperação demonstrada, mas também reconheceu o papel dos clubes, dos atletas e o empenho de todos quantos colaboraram na realização dos campeonatos. Ana Cunha citou mesmo um provérbio africano: “Se quer ir rápido, vá sozinho, se quer ir longe, vá em grupo”.
O presidente da Federação Portuguesa de Ciclismo, Cândido Barbosa, esteve na região do “Campo Branco” a acompanhar os campeonatos e, em exclusivo para o “Diário do Alentejo”, comentou esta recorrente presença do ciclismo nacional por terras sul-alentejanas: “O importante é mantermos o ciclismo vivo. E temos sempre de dar graças a Deus por o ciclismo ser alavancado por, diria eu, mais de 80 por cento dos seus patrocinadores que se chamam autarcas. É isto que faz com que o ciclismo se mantenha vivo e as autarquias são, desde logo, os presidentes de câmara do País, e, por sua vez, os presidentes de junta, que fazem parte da formação daquilo que é o nosso ciclismo. São, todos eles, os obreiros que ajudam todas as nossas organizações, as nossas associações, a organizarem o nosso ciclismo de formação, porque sem todos eles, nomeadamente, os presidentes de junta, que nem sempre são tomados em conta, nós não conseguiríamos manter a nossa formação viva”. Uma afirmação que deixou perceber que as autarquias são um dos grandes pilares do ciclismo nacional. “Sem dúvida. Depois, entre a federação e as autarquias existe aquele pilar fundamental que são as associações regionais que, felizmente, vão também mantendo o ciclismo ativo. Neste caso, estamos numa área geográfica que pertence à Associação de Ciclismo do Algarve, mas temos, neste fim de semana, a decorrer outras provas nacionais na área de domínio de outras associações que são igualmente os pilares dessas organizações, enquanto pontes que são, entre as autarquias e a federação, para que as provas possam acontecer, hoje, amanhã e nos próximos anos”.
O ciclismo, de resto, passa pela porta das pessoas, tem uma forte vocação para mostrar os territórios, admitiu o antigo ciclista. “O ciclismo não é só um espetáculo desportivo. É um desporto que consegue proporcionar aos autarcas do nosso país, pelo menos, duas ou três questões que são importantes e que eu reconheço, porque também fui autarca. O ciclismo une e agrega pessoas para verem a nossa modalidade e, por outro lado, consegue estimular as economias locais, por toda a envolvência em torno da organização das equipas e famílias que acompanham os ciclistas”.
E lembrou: “Conseguimos vender os nossos territórios através de uma modalidade que está no planeta para descarbonizar e não para continuar a poluir. Estamos na sustentabilidade, estamos naquele caminho que ajuda os municípios a vender os seus territórios e aquilo que de meritório possuem, por via de uma modalidade que se chama ciclismo”.
Cândido Barbosa foi ciclista, foi autarca e hoje é o líder máximo da modalidade. Sabe do que fala, atalhámos. “O ciclismo é das poucas modalidades que temos no planeta que leva o espectáculo até à casa das pessoas. Mas o ciclismo tem, de alguma maneira, estado a passar por uma fase difícil, porque a sociedade, nos dias de hoje, assim o exige. Vivemos em Portugal e temos de perceber que a sociedade está cada vez mais limitada, apertada no tempo, com dificuldade financeira, e o ciclismo é uma modalidade que não tem estado no crescimento que prevíamos, porque cada vez é mais caro andar de bicicleta, é mais difícil e perigoso por via de existirem cada vez mais automóveis nas vias públicas, e os nossos espaços, os nossos estádios, os espaços para andarmos de bicicleta, são efetivamente essas vias públicas. Temos modalidades que nos fazem muita concorrência. O andebol, o atletismo e outras disciplinas, são mais fáceis para a sociedade. Para um casal que tenha um par de filhos é muito mais fácil levá-los a uma piscina, ou a um pavilhão, do que levá-los de bicicleta. Apesar de tudo isto, ainda conseguimos resultados muito brilhantes, e vejamos os últimos Jogos Olímpicos, onde o ciclismo trouxe metade das medalhas que vieram para o nosso país, além de outros resultados brilhantes que, recentemente, conquistámos”.
Numa última nota, Cândido Barbosa deixou a afirmação: “O ciclismo recomenda-se, tem exportado atletas para a alta competição, para o ciclismo de alto nível internacional e, sendo nós um país pequeno, isso é de todo notável”.