O concelho de Odemira recebeu mais uma edição, a décima, do Troféu José Poeira, em ciclismo, certame coincidente com a disputa das duas primeiras provas da Taça de Portugal em Juniores e em Paraciclismo. Uma década de sucesso na projeção de jovens e na integração de atletas.
Texto Firmino Paixão
Um fim de semana desportivo organizado pela Associação de Ciclismo do Algarve, sob tutela da Federação Portuguesa de Ciclismo, e apoio do município de Odemira que, desta feita, vem prestando tributo e reconhecimento a um filho da terra, o selecionador nacional da modalidade, José Poeira.
O primeiro dia de provas teve como cenário Zambujeira do Mar, localidade onde se disputaram as primeiras provas da Taça de Portugal, um contrarrelógio individual de 23,4 quilómetros para ambas as disciplinas, ciclismo e paraciclismo.
No final da etapa, e no ciclismo, Omar Ramon, da formação espanhola Picusa Academy, foi o vencedor, com um tempo “canhão” de 29’25s, concluindo a prova à média de 47,7 quilómetros/hora. Simão Silva, da Academia Efapel de Ciclismo, foi o segundo classificado e o melhor português na tirada, a 48’ do vencedor. O pódio ficou completo com a presença de Gonçalo Costa, da Willebrord Wil Vooruit, a um minuto do líder. A Picusa Academy venceu por equipas e Gonçalo Costa ganhou o “Prémio da Juventude”. Alinharam à partida 97 corredores, em representação de 14 equipas.
No segundo dia do Troféu José Poeira, ou seja, na segunda etapa da Taça de Portugal em Juniores e Paraciclismo, mudaram os cenários e o formato da competição. Os juniores enfrentaram uma tirada com 129 quilómetros, entre Vila Nova de Milfontes e Odemira, num percurso com uma orografia exigente (Milfontes, Brunheiras, Cercal, Campo Redondo, Colos, São Martinho das Amoreiras, Luzianes-Gare, Saboia, Boavista dos Pinheiros, Estiveira, Casa Branca, Portas de Transval e Odemira), e, a espaços, debaixo de chuva copiosa, dificuldades que se refletiram no fracionamento do pelotão e num elevado número de abandonos. O primeiro a cortar a meta, na vila de Odemira, foi o corredor José Salgueiro, da formação espanhola Picusa Academy, que já tinha visto um seu atleta, Omar Ramon, vencer o contrarrelógio do dia anterior, em Zambujeira do Mar.
A prova de paraciclismo teve lugar no Parque das Águas, em Boavista dos Pinheiros, um circuito de 3100 metros, já bem conhecido dos atletas, percurso que teve uma hora, e mais duas voltas, de duração. Estiveram em prova, aqui como em Zambujeira do Mar, 36 corredores de diferentes categorias, num total de 12 classes, consoante o grau de incapacidade do concorrente, entre bicicletas e handbikes, e os vencedores foram praticamente os mesmos que no dia anterior tinham brilhado na prova de contrarrelógio. Destaque para a presença do ermidense Flávio Pacheco, campeão nacional em título e vencedor destas duas etapas da Taça de Portugal, na categoria de H4 (handbike).
O odemirense José Poeira, selecionador nacional de ciclismo de estrada, empresta o seu nome ao troféu, e é uma presença natural nestas corridas. “É com muito orgulho que, anualmente, aqui estou presente. A tipologia da prova é excelente, principalmente, o contrarrelógio em Zambujeira do Mar, especialidade que decidimos, e bem, acrescentar a este troféu”. E justificou essa decisão: “Há atletas que nem sabem das suas qualidades de contrarrelogistas e depois de se revelarem nesta prova, afinal, descobrem que têm esse potencial Os espanhóis até já me disseram que vieram exatamente por causa da prova de contrarrelógio”.
Por outro lado, admitiu José Poeira: “Também, e enquanto selecionador, aproveito esta prova para detetar atletas com valor acima da média, que possam, eventualmente, ser acompanhados com vista a uma eventual seleção”. José Poeira recordou até: “Tenho na memória ciclistas que vieram aqui enquanto jovens e que hoje integram o grande pelotão mundial, casos de João Almeida e de António Morgado. Aliás, sempre que falamos desta corrida eles dizem, com um certo orgulho, que também já venceram aqui. Observo que as pessoas gostam de aqui vir, sinto que a competição tem evoluído de uma forma importante e, por isso, é que já dura há cerca de uma década, mas espero que continue”. Por outro lado, o facto de a prova se destinar a jovens atletas, também colhe o agrado de José Poeira, revelando: “Para os outros ciclistas já existem várias competições, os jovens é que precisam de ter provas para mostrarem o seu valor e para que nós olhemos para eles e para o potencial que revelam”.
O antigo ciclista tavirense, José Marques, é o dirigente federativo responsável pela paraciclismo. Numa avaliação às corridas integradas no Troféu José Poeira. considerou: “São duas provas muito seguras, destinadas a pessoas que devem ter a sua oportunidade no desporto. São pessoas que apenas perderam um dos membros ou têm outra incapacidade qualquer, mas são seres humanos que devem ser respeitados enquanto pessoas e enquanto atletas”. E acrescentou: “Organizamos estas provas com toda a dignidade para que as pessoas se sintam integradas”. Por fim, considerou: “O paraciclismo está a crescer lentamente, não tem sido fácil porque as pessoas por vezes protegem-se, mas temos sentido uma evolução muito positiva”.