Diário do Alentejo

Daniel Martins, o piloto-aviador que é um fundista de eleição

11 de agosto 2024 - 08:00
Tão veloz em terra como no ar
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O tenente piloto-aviador Daniel Martins, oficial na Base Aérea n.º 11, venceu, por duas vezes consecutivas, a Corrida Cidade de Beja-10Km Fernando Mamede. Corre pelo Grupo Desportivo Areias de São João, camisola com que venceu a última edição da Travessia da Planície, e fez a sua estreia na recente Ultra Maratona Atlântica Melides-Troia.

 

Texto Firmino Paixão

 

Vemo-lo voar no Epsilon T30, um pequeno monomotor para instrução de pilotagem que, amiudadamente, atravessa os céus da cidade de Beja em voos de instrução. Temo-lo visto em terra, a correr (e se corre…) e a vencer algumas das provas mais emblemáticas no Sul do País. O tenente piloto-aviador, atleta do Grupo Desportivo Areias de São João, tem essas duas paixões. Correr e voar! E é tão veloz em terra como no ar…

Voar sobre a planície alentejana e palmilhar quilómetros pelas suas estradas é algo estimulante no seu dia a dia. “Uma oportunidade incrível”, admite Daniel Martins, justificando: “Trabalhar na Força Aérea Portuguesa é muito gratificante, é a minha profissão, uma experiência incrível. Depois, o desporto é uma atividade mais informal, algo complementar, que também me dá muito prazer. Mas voar é uma experiência desafiante, uma sensação de liberdade, de realização e de felicidade, uma experiência que não está ao alcance de todos. Mas quando somos ambiciosos, somos dedicados, temos motivação e trabalhamos com um objetivo, podemos sempre alcançar as coisas que nós queremos, por mais difíceis que sejam. Quer seja o primeiro lugar numa prova de atletismo ou pilotar uma aeronave. Por isso, sou muito feliz…”

Daniel Martins nasceu há 28 anos em Albufeira. Ali cresceu e percorreu toda a infância e adolescência. Foi nessa cidade onde chegou ao desporto, através do futebol, como jogador do Imortal, até ao escalão de júnior, após o que, desafiado por alguns amigos, aderiu ao atletismo, filiando-se no Clube Desportivo Areias de São João. O futebol, conta o atleta, “surgiu naquela altura em que somos miúdos”. “É um desporto muito bom para fazer amigos, um desporto divertido, mas a partir de determinado momento, quando verificamos que a nossa progressão está limitada, apesar de ter aptidão para a corrida e até jogar a lateral, começamos a querer explorar outras coisas diferentes. Juntei-me a amigos que já faziam atletismo, comecei a treinar com eles, comecei logo a ganhar uma ou outra prova e acabei por me federar pelo Areias de São João”.

Nascido num concelho com uma apreciável frente marítima, nunca se sentiu atraído para os desportos náuticos, porém, revelou: “Cheguei a fazer natação, dois ou três anos, nada muito a sério, depois, pratiquei aqueles desportos curriculares que fazemos na escola, mas, sim, as duas modalidades a que me dediquei mais foram o futebol e o atletismo”. Mas não é capaz de avaliar se era melhor no futebol do que no atletismo? “Isso competirá aos treinadores que me acompanharam. Gosto de desporto e esforço-me, dedico-me a 100 por cento às modalidades. A dedicação nunca faltou, depois, a aptidão, a genética e a propensão para a prática são fatores que também ajudam. O resto é uma questão de treino e, nesse aspeto, foram fundamentais os treinadores que tenho tido, tanto no Imortal, como, agora, no Areias de São João, além de todo o apoio que o clube me dá”.

As propostas, mais ou menos apelativas, que tem recebido para representar outros emblemas nunca o deslumbraram. “Recebi alguns convites, algumas propostas melhores, mas nada que me levasse a pôr em causa aquilo que tem sido a minha ligação ao clube que já represento há quase 10 anos e onde pretendo continuar nos próximos tempos”.

Vimo-lo ganhar a Corrida Cidade de Beja, vimo-lo ganhar a Travessia da Planície, entre São Marcos e Entradas. Não tem dado tréguas aos atletas da região? “Na verdade, acho que o Alentejo está um bocadinho desfalcado em termos de atletas e de competição. Existem alguns clubes na região, há alguns atletas que se vão revelando, mas tem existido alguma dificuldade na renovação porque, no meio-fundo e fundo, muitos atletas estão a entrar no escalão de veteranos. Existe um bocado de falta de renovação”, apontou, ressalvando: “A região tem atletas que são competitivamente desafiantes, neste ano já perdi provas para alguns deles, em algumas provas fui superior, noutras fui à luta e não consegui ganhar”.

Vimo-lo a lutar pela vitória, na areia, na sua estreia na Ultra Maratona Melides-Troia e ficou ali bem à porta: “O Alentejo tem alguns grandes atletas. O Edgar Matias, que venceu neste ano a Melides-Troia é um bom exemplo, outro é o Carlos Papacinza, que já venceu duas edições, o Bruno Paixão também faz a diferença em relação a outros atletas da região, mas a verdade é que falta renovação. Espero que aos poucos vão surgindo novos atletas, a competição e a camaradagem são sempre saudáveis”.

O seu percurso académico foi, desde logo, direcionado para um sentido único: ser piloto-aviador. “Sempre foi um sonho. Foi uma opção que tomei no momento de escolher o acesso à universidade. Sempre tive o sonho de ser piloto e surgiu a oportunidade de concorrer à Academia da Força Aérea Portuguesa. Tenho conseguido partilhar o percurso profissional com o atletismo, tenho conciliado bem a profissão com o desporto, não obstante muito trabalho e muitas tarefas. Surge sempre uma ou outra limitação mas, no global, tenho tido a felicidade de conciliar as duas áreas pelas quais tenho a maior paixão”, concluiu.

Comentários