Diário do Alentejo

Seleção sub/14 da AFBeja manteve-se na Liga de Ouro do Torneio Interassociações Lopes da Silva, disputado no distrito de Aveiro

13 de julho 2024 - 08:00
Ambição versus realidade

A seleção sub/14 da Associação de Futebol de Beja (AFBeja) passou pelo 28.º Torneio Interassociações Lopes da Silva ganhando dois jogos, empatando um e perdendo três. Terminou no décimo segundo lugar, o último degrau da Liga de Ouro, que tinha ganho na edição de 2023.

 

Texto Firmino PaixãoFoto AF Beja

 

“Uma participação bem conseguida, independentemente da classificação não ter sido aquela que nós pretendíamos e para a qual trabalhámos”, admitiu Nelson Teixeira, o responsável técnico da selecção baixo-alentejana. Mas fez notar: “Houve outros aspetos que foram muito positivos, à cabeça dos quais, a atitude, a evolução da equipa e o comportamento dos atletas. Tudo isso foi ao encontro daquilo que esperávamos, mas a classificação foi aquela que pôde ser”.

 

A seleção de Beja iria defender o título da Liga de Ouro. É isso que lamenta não ter sido alcançado?

Infelizmente, não conseguimos. Coincidência, ou não, nós jogámos para o 11.º/12.º lugar com Coimbra, a mesma equipa contra a qual disputámos esse título no ano passado. Contudo, temos de entender que, de ano para ano, surgem gerações diferentes, razão pela qual nunca se devem comparar classificações. O que cada geração nos proporciona passa muito por aquilo que é o nosso trabalho e pela forma como os atletas regem aos treinos ao longo do ano. Mas em competição, e fizemos cinco jogos em cinco dias, notou-se bem que houve evolução.

 

Na fase de grupos “encalharam” logo com a seleção da Madeira, a vencedora do Lopes da Silva, em 2023.

Não existia muito esse problema de termos ficado no grupo da Madeira, ou até de Aveiro, porque, nos moldes em que o torneio está feito, ganhando dois jogos, como aliás aconteceu, podíamos ter acedido à fase da Liga Platina. Ganhámos os primeiros dois jogos, a Viana do Castelo (2-1) e Angra do Heroísmo (4-0), mas, por diferença de um golo, só o conseguiríamos se vencêssemos a Madeira, uma seleção de um patamar superior, com quem tivemos o resultado mais desnivelado (1--5). São circunstâncias do jogo.

 

Na segunda fase perderam com Viseu e empataram com Santarém…

Na minha opinião, foram resultados injustos perante aquilo que foi o nosso comportamento. No primeiro jogo, contra Viseu, tivemos uma primeira parte sempre por cima do jogo, podíamos ter feito três ou quatro golos. Não concretizámos as oportunidades e acabámos por perder o jogo (1-3). No dia seguinte, com Santarém, aconteceu algo semelhante, ainda assim, marcámos primeiro e, na parte final da partida, permitimos o empate, num lance de bola parada (1-1). Depois, ficámos a depender de resultados de terceiros para podermos disputar uma posição mais cimeira, por exemplo, dentro dos primeiros 10, como desejávamos.

 

Contudo, terminando numa classificação aquém daquela que era a vossa ambição, mantiveram-se na Liga de Ouro…

Vamos ver, uma coisa é aquilo que ambicionamos, outra coisa é a nossa realidade. E a nossa realidade não pode ser comparada a outras seleções. Se formos ver o ranking do Torneio Lopes da Silva, verificamos que estamos acima de seleções que têm o dobro, ou o triplo, de atletas que nós temos e conseguem fazer um recrutamento diferente, com campeonatos mais competitivos do que o nosso e com maior diversidade de jogadores para poderem trabalhar. Têm outra capacidade para rodar jogadores, porque no Lopes da Silva todos os atletas têm de jogar, pelo menos, 90 minutos. Mas nós, mesmo com todas as condicionantes, nos últimos cinco anos, este 12.º lugar foi o mais baixo que conseguimos. Ficámos duas vezes em sétimo, um décimo, e repare que o Algarve só por duas vezes ficou à nossa frente. Temos de ser realistas. O que de positivo temos estado a conseguir, nos últimos anos, é o reflexo daquilo que é o trabalho dos clubes e que nós temos de aproveitar.

 

Reuniram o conjunto de jogadores que melhor se adaptaria ao modelo de jogo por que optaram?

Sim. Muita gente pode dizer que não levámos os melhores jogadores. É verdade. Mas nós tentamos enquadrar os atletas em que reconhecemos mais capacidade para interpretarem aquela que é a nossa forma de jogar. Entendemos que o nosso modelo de jogo é o que nos dá mais garantias de chegarmos ao torneio e ombrearmos com as equipas que têm mais qualidade. Apelamos àquilo que é a vontade, o empenho, a capacidade de superação, e em todos estes torneios tem existido esse lema da superação, e isso advém da capacidade de aprendizagem dos atletas.

 

Houve algum momento no último Torneio Lopes da Silva que considere marcante? Algo que tenha ficado registado para memória futura?

Sem dúvida que foi o jogo em que defrontámos a seleção de Viseu. Foi o jogo que alterou toda a nossa perspetiva sobre o torneio. Tivemos toda uma superioridade sobre a seleção viseense, criando oportunidades para marcar, não o conseguimos e perdemos por 3-1. No final os responsáveis pelo gabinete técnico da FPF [Federação Portuguesa de Futebol], que estavam a ver o jogo, deixaram essa nota de que fomos claramente superiores na primeira parte e que não teríamos merecido aquele resultado. Depois, a frustração que vimos no rosto dos jogadores, que ainda hoje me toca. Vimos que fizeram tudo para que o resultado fosse diferente, mas não o conseguimos, e isso obrigou a que tivéssemos de trabalhar, posteriormente, para lhes recuperar o ânimo e a motivação. Foi um grupo que teve sempre ambição, quis sempre mais e melhor, procurando as vitórias sem temer as derrotas. A palavra que mais me marcou neste torneio é a injustiça. Uma situação que, ainda hoje, me cria algum desconforto. Tenho de refletir sobre se fui, ou não, competente para os poder ajudar mais a criar situações para que pudessem ganhar. Mas só posso agradecer aos atletas pela dedicação, entrega e capacidade de superação que tiveram, e pela resiliência, porque foi isso que esteve em causa.

 

Já se olha para o próximo Lopes da Silva. Mas não é só de agora, porque, na verdade, o processo de identificação e seleção começa logo nos sub/12?

Este não é um processo fechado. O trabalho começa, de facto, a ser feito nos sub/12. Mas também temos atletas que identificamos em sub/12 e que não chegam aos sub/14. Temos um território muito extenso e clubes muito dispersos, mas o trabalho tem sido muito abrangente e focado na permanente evolução dos miúdos. Procuramos identificar os atletas tão cedo quanto possível, no sentido de os integrarmos no nosso contexto e começarem a perceber o trabalho das seleções, através da presença em diferentes torneios.

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