Diário do Alentejo

Grupo Desportivo de Alvito passa por grandes dificuldades na formação do plantel

17 de novembro 2023 - 09:40
“Nós não desistiremos”Foto | Firmino Paixão

Os últimos também são parte integrante da história. Será, porventura, mais fácil falar das grandes conquistas daqueles que, porque mais dotados, suscitam grandes manchetes. Mas o seu merecimento não é mais relevante do que o daqueles que, tendo tão pouco, fazem o que podem. O Grupo Desportivo e Cultural de Alvito é disso um belo e grande exemplo.

 

Texto | Firmino Paixão

 

O Campeonato Distrital da 2.ª Divisão tem seis jornadas disputadas. O Grupo Desportivo e Cultural de Alvito ocupa o décimo e último lugar na classificação da série A. Atente-se na sua estatística: seis jogos, outras tantas derrotas, 56 golos sofridos (9,3 por jogo) e apenas três marcados, um em casa, ao Barrancos, e dois em Serpa. Somem-se, também, os 13 sofridos na Taça Distrito de Beja ante o Piense. Por quatro vezes, a equipa já foi derrotada em casa sofrendo mais de uma dezena de golos. Porém, desistir não faz parte do léxico de um grupo de trabalho que espera melhores dias. Tudo tem uma explicação, como relata Tiago do Nascimento, o atual treinador da equipa. “Muitas vezes entramos no jogo com menos de 11 jogadores e sem suplentes. Mas temos que cumprir os 90 minutos representando este clube com a maior dignidade possível, aliás, é essa a nossa grande função, depois, esperarmos que, nos próximos tempos, creio que nas próximas semanas, esta situação se reverta e que fiquemos melhor”.

“Antes quebrar do que torcer”, poderá ser um lema que se aplica na perfeição ao Grupo Desportivo e Cultural de Alvito. “É esse o espírito. A pré-época já foi muito atribulada, o treinador anterior [o brasileiro António de Jesus] deixou o clube uma semana e meia antes de se iniciar o campeonato e isso originou muitas mexidas no plantel. Queremos corrigir a situação mas, infelizmente, tem estado demorado, porque temos alguns jogadores de nacionalidade estrangeira e a sua inscrição tem sido demorada por questões burocráticas que nos têm condicionado bastante”. Uma situação que, a breve trecho, poderá ser melhorada, espera o jovem técnico. “Esperamos ter mais sete jogadores no final deste mês de novembro. São atletas que já estão connosco desde o início do campeonato, só que, lá está, a tal regra dos 30 dias de espera faz com que ainda aguardemos a conclusão do processo de inscrição”.

Os objetivos desportivos do clube, não podendo ser muito ambiciosos, também não se imaginariam tão condicionados.

“O clube iniciou a época com a pretensão de cumprir todas as competições onde estávamos inseridos, porque um dos problemas que teve, na época passada, foi ter faltado a alguns jogos e a competições onde estávamos inscritos e isso conduziu o clube a sofrer penalizações financeiras. Nesta época o presidente garantiu que isso não iria acontecer. Também era necessário serenar os ânimos, digamos, sobretudo, a parte disciplinar, porque, na última época, sofremos muitos cartões, nomeadamente, vermelhos, algo que, neste ano, e até este momento, temos conseguido evitar. Claro que gostaríamos de estar noutra posição na classificação. Gostaríamos de ter mais soluções no plantel para disputarmos os jogos dentro da maior normalidade, mas, infelizmente, as coisas são o que são, foram circunstâncias que nos ultrapassaram”. Ainda assim, garantiu o treinador, nunca pensaram em desistir. “Nunca! Nós não iremos desistir, nunca. Essa não é uma palavra, nem um gesto, que esteja nos nossos hábitos. Já fomos disputar um jogo, em Beringel, apenas com oito jogadores, portanto, pior do que isso, creio, aliás, quero estar certo, não voltaremos a estar”. E será fácil motivar os jogadores todos os domingos perante um cenário tão complicado? “É muito difícil”, garantiu o técnico. “Repare que, durante a semana, treinamos com 22 ou 23 jogadores e depois chegamos ao fim de semana e temos sete, oito, nove ou 10. Inclusive alguns atletas vêm de fora para que a equipa consiga reunir o número mínimo para ir a jogo. É uma situação muito frustrante”.

O próximo compromisso será em Alvito frente ao Faro do Alentejo, provavelmente, já com o plantel mais composto, espera Tiago do Nascimento. “Tenho a esperança de já poder contar com mais dois ou três jogadores, que são jogadores importantes, e isso já nos permitirá outro tipo de opções. Mas, agora, a campanha da azeitona também nos condiciona um pouco. Tem sido tudo a complicar”, considerou o treinador do Alvito, lamentando, igualmente, que a comunidade local esteja tão distante do clube. “Alvito não é uma terra, nunca foi, pelo menos desde que ali estou, e já lá vão uns anos, nunca foi, dizia, uma terra ligada ao clube. Tão pouco no ano em que vencemos a Taça de Honra. Se estivessem 10 pessoas a ver os nossos jogos já era uma ‘boa casa’. Atualmente, não sentimos nenhum impacto porque, como disse, não existe grande ligação entre o clube e a comunidade local, mas, claro, gostaríamos de poder ganhar jogos e de trazer mais pessoas ao nosso estádio”.

Alvito é um concelho de pequena dimensão, apenas duas freguesias e uma oferta desportiva com tradição nas modalidades de pesca desportiva, eventualmente, o judo e o futsal, este com uma grande dinâmica na freguesia de Vila Nova de Baronia. Assim, e em tempos recentes, o Grupo Desportivo e Cultural de Alvito não teve jovens para constituir equipas nos escalões de formação, algo que iria fidelizar mais público. Um desejo partilhado por Tiago do Nascimento, técnico que já trabalhou no Sporting Clube Ferreirense e conquistou um título distrital com os sub/23 do Sporting Clube de Cuba.

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