Diário do Alentejo

Sentido de missão

10 de maio 2025 - 08:00
O desporto na Ovibeja 2025 acompanhando os grandes desafios do futuro Foto | Firmino Paixão

Uma gincana equestre de “Inclusão e desafio”, um concurso regional de dressage e um concurso nacional de saltos foram os momentos em que o cavalo foi o grande protagonista nesta 41.ª edição da Ovibeja, em que, mais uma vez, se celebrou e uniu “Todo o Alentejo deste Mundo”.

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

 

“Mais Agricultura – Mais Futuro”, algo que a ACOS –Associação de Agricultores do Sul, promotora do certame, afirmou não ser “apenas um tema, é uma chamada de atenção para que nunca deixemos de acreditar na capacidade humana de transformar”. O cavalo é, desde que o homem se conhece como tal, um dos parceiros da sua existência. Tem-no sido na agricultura tradicional e sê-lo-á, sem dúvida, nos grandes desafios da agricultura do futuro. Como importante tem sido enquanto ferramenta de inclusão e, ou, como modalidade desportiva geradora de dinâmicas de união e de promoção do mundo rural.

 

“Inclusão e desafio” foi o mote para a gincana equestre que o Centro de Paralisia Cerebral de Beja (CPCB) trouxe, neste ano, para o Picadeiro D. Diogo Sobral, na Ovibeja. No ano anterior associaram-se aos 40 anos do certame, neste ano surpreenderam-nos por acompanhar o tema genérico do certame: “Mais Agricultura – Mais Futuro”.

Liliana Silva Cruz, fisioterapeuta do CPCB que coordenou a ação, revelou ao “Diário do Alentejo”: “Todos os anos tentamos aliar o tema da Ovibeja à nossa gincana, portanto, vamos sempre ao encontro da temática da Ovibeja. Neste ano, sendo ‘Mais Agricultura – Mais Futuro’, tentámos criar um espaço dedicado à agricultura normal, digamos que a tradicional, e outro espaço com uma perspetiva sobre a agricultura no futuro. Criámos um cenário que fosse percetível para os nossos utentes e para a população que esteve a assistir, de forma a podermos mostrar neste picadeiro, de uma forma lúdica, algumas atividades que nós realizamos ao longo do ano, na prática da equitação terapêutica e da hipoterapia”.

 

E deixou a nota: “Neste ano não tivemos a prova de atrelagem que costumávamos ter nos anos anteriores, não nos foi possível trazer a charrete e o cavalo, mas com os nossos cavaleiros foi possível criar este momento de equitação terapêutica”. Uma coreografia muito criativa, que passou pela recolha da semente, terminando com a colheita dos legumes, tal como se fazia no passado e acontece no presente, perspetivando também o que, provavelmente, acontecerá no futuro: “Foi mesmo essa a nossa intenção e acho que foi inesquecível.

 

Reproduzimos aqui as diversas etapas do ciclo de produção, desde a sementeira até à colheita do alimento, tudo feito num circuito a cavalo realizado pelos utentes. Olhámos também para a questão da agricultura mais futurista, com robôs e até com a encenação de um drone, tentámos abordar a questão da inteligência artificial, que já é muito falada nos dias de hoje. São temas que também já vamos começando a abordar com os nossos utentes, recriando tudo isso de uma forma lúdica, mais simplista, para que eles tirassem as suas deduções”.

 

Viveram-se momentos especiais, falou-se muito de dedicação, de paixão e até de amor. “Sentido de missão de todos os intervenientes”, como sublinhou Liliana Cruz, profissional de uma área que tem respostas e que assume desafios para a inclusão e para dar uma vida melhor aos seus utentes. “A equitação terapêutica, a hipoterapia e a atrelagem adaptada são as três respostas que temos nesta área”, acentuou. “Esta gincana é muito do agrado de todos eles, porque é uma atividade que sai um bocadinho do contexto que eles vivem no seu dia a dia e com todos os estímulos que os cavalos lhes proporcionam, que nós, por muito que queiramos, não conseguimos dar num contexto de ginásio ou numa sala de estimulação. É uma experiência que eles só conseguem mesmo com o cavalo e que tem muitos benefícios”.

 

Margarida Baião, de 15 anos, cavaleira da Associação Equestre Aljustrelense, deixou nas boxes a “Pipa”, a égua lusitana que monta, e movimentava-se entre picadeiros, depois de ter cumprido a sua prova do Concurso Regional de Dressage (ensino). Não foi a sua primeira prova, contudo: “Foi importante, porque estamos num certame com a importância da Ovibeja, com muita gente, muita pressão e até para os cavalos se torna um pouco stressante.

 

Mas para nós foi uma novidade e foi mesmo uma experiência incrível”, relatou a jovem. “Isto não é fácil, olhamos para o picadeiro e vemos uma pessoa montada num cavalo a andar de um lado para o outro e parece fácil, a verdade é que estamos a mostrar performances. Para trás ficou muito trabalho, muitas horas de treino físico e mental, mas o resultado final é algo maravilhoso, sobretudo, quando gostamos daquilo que fazemos”. Perante os jurados, esforçam-se por mostrar um cavalo bem apresentado, evidenciar a sua beleza e os seus diversos andamentos: “Tentamos fazer o nosso melhor, porque o júri vai pontuando todos os exercícios que efetuamos”. O papel do cavalo na 41.ª Ovibeja terminou com a realização do Concurso Nacional de Saltos de categoria C.

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