Diário do Alentejo

Crira põe nadadores a competir mas partilha outro tipo de valores

07 de julho 2023 - 12:00
“Uma equipa a sério”
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

A secção de natação do Centro Republicano e Instrução de Aljustrel, filiado na Associação de Natação do Alentejo, nada em boas águas. Ano após ano, a sua atividade vem afirmando-se no quadro regional da modalidade, quer pelo número de nadadores, quer pela sua qualidade.

 

Texto Firmino Paixão

 

"Sentimos que já estamos a crescer, já temos miúdos que já competiram em zonais, uma miúda que, tal como no ano passado, está às portas do nacional, e isto são tudo fatores que nos dão alento, que nos acrescentam ambição”. Uma afirmação de Sérgio Picão, fundador da secção, dirigente e diretor técnico do Centro Republicano de Instrução e Recreio de Aljustrel (Crira).

 

O sucesso também está muito na partilha da atividade com a Escola Municipal de Natação de Aljustrel. O Trofeu Associação de Natação do Alentejo disputou-se recentemente nas Piscinas Municipais de Aljustrel, como tributo da crescente evolução do Crira.

 

A natação aljustrelense está com boa dinâmica?

Estamos bem. Tivemos altos e baixos, como acontece com todos os clubes. A pandemia foi uma das últimas adversidades que tivemos de superar, acredito que tenha sido uma situação transversal a todos os clubes e em todas as modalidades mas, de facto, este ano tem sido muito bom. Foi o ano em que tivemos uma equipa de infantis com 17 atletas, foi o ano em que, na minha opinião, nos tornámos uma equipa a sério, porque vamos ter 15 miúdos no regional que precisam de “tempos de admissão aos campeonatos” (Tac).

 

Privilegiam os escalões de formação?

Desenvolvemos a formação a partir dos sete anos. Os meninos fazem a adaptação ao meio aquático, fazem até ao terceiro nível de aprendizagem na escola municipal de Aljustrel, certificada pelo “Portugal a Nadar”, tal como a escola de natação do Crira. Depois, os miúdos que ganhem algum gosto pela modalidade, e que tenham alguma qualidade, ficam connosco, embora a qualidade interesse, mas não seja o mais importante, porque isto é um desporto para quem quer e não para quem pode e, como tal, sentimos que esta comunhão entre o município e o clube pode ainda dar muitos frutos, porque toda a formação é aberta e feita para toda a população. Depois, os que quiserem enveredar ou que tenham algumas características para se iniciarem na pré-competição, e, mais tarde, na competição, tentamos motivá-los a virem para o clube.

 

O que pretende dizer com a afirmação de que a natação “é um desporto para quem quer e não para quem pode”?

A natação é um desporto de muita dedicação e de muita abnegação. Costumo dizer que estou farto de perder nadadores talentosos, porque esses fiam-se no talento e não trabalham. Este é um desporto de trabalho, um desporto em que lutamos contra nós próprios, não temos ninguém que nos puxe o pé para chegarmos primeiro. Nadamos contra o relógio e só dependemos de nós, dependemos da nossa vontade, do nosso crer, da nossa ambição e do nosso foco, e nós, enquanto treinadores, estamos cá para os encarrilar e para os colocar pelo caminho certo. Alerto logo os pais para o facto do percurso de formação até à pré-competição ser divertido mas, chegando a infantis, começa o processo de treino e as coisas começam a apertar um bocadinho. Tem que existir alguma paixão, algum gosto e alguma capacidade, senão, será duro. Há questões que são fundamentais, como o compromisso, a assiduidade, porque pode ser talentoso e não aparecer. Isso não interessa. Privilegiamos o compromisso e a assiduidade, porque só assim se consegue fazer alguma coisa neste desporto. Não há milagres.

 

O Crira tem nadadores com bons resultados?

Temos atletas com um histórico de bons resultados e alguns a participar já em competições zonais, que acaba por ser um campeonato nacional partido em dois, a parte sul e a parte norte. Temos atletas que já foram a campeonatos nacionais, estamos, neste ano, também a contar com isso. Temos 16 anos de existência, estamos na 17.ª época e um clube para se erguer, começando do nada, como nós começámos em 2007, precisa de modelos, de referências. Os miúdos precisam de ter esses modelos e essas referências e nós, felizmente, já começámos a tê-las. Temos atletas que vão para a universidade e continuam a nadar connosco. Treinam em Lisboa ou onde tiverem a sua universidade, nós enviamos o programa de treino e depois competem pelo Crira. É fantástico!

 

São exemplos de invulgar dedicação…

Sim, mas temos outro caso que ainda mais feliz me deixou, enquanto diretor técnico deste clube e fundador desta secção. Foi o facto de termos um nadador que entrou no Técnico com boas notas em Engenharia, mudou depois para outra faculdade para tirar Educação Física e está a colaborar connosco nos treinos de natação. Foi um grande nadador e é um miúdo fenomenal. Será um grande treinador da modalidade, é uma das maiores referências do nosso clube, é o João Koehler, acho que é justo fazer esta menção, porque ele dá muito ao Crira, de uma forma completamente desinteressada, ou seja, por amor. O que nós fizemos por ele está agora a retribuir aos nossos jovens, a ensinar pormenores que, enquanto nadador, tem maior sensibilidade para transmitir a outro atleta, e isso deixa-me extremamente feliz. Mais do que qualquer participação em nacionais. É sinal que passamos boas referências e estamos no bom caminho.

 

Também é mérito do treinador que põe um miúdo a nadar na água e a “voar alto” à beira da piscina…

Sim. É um grande trabalho que se faz no desporto em geral. Formar homens e mulheres, não é só natação, e isto não é só desporto, será sempre formação, educação, camaradagem, superação e partilha de valores. São coisas que eles levam para a universidade e, mais tarde, para o seu trabalho, e é das coisas que mais me faz querer continuar a crescer, e a formar nadadores, homens e mulheres.

 

O próprio Crira é ele também uma referência no associativismo alentejano?

Fui praticante de andebol no Crira. Comecei aqui a minha formação enquanto andebolista, com o José Manuel Mariano e o Rui Nunes e, mais tarde, em 2007, abri a secção de natação, por uma paixão que senti por esta modalidade. Na universidade fiz a especialidade na natação e cá estamos. Continuamos com o mesmo Crira que conheci quando tinha sete anos, e só tenho a agradecer a este clube por me ter permitido abrir esta secção e por nos dar todas as condições que necessitamos para prosseguirmos esta missão.

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