Diário do Alentejo

Afonso Silva, ciclista odemirense, “elite” profissional, na Kelly Simoldes/UDO

07 de abril 2023 - 11:00
Sem jeito para o surf...
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Não é pelo selecionador nacional ser meu conterrâneo que eu colherei algum benefício. José Poeira é uma pessoa que admiro muito e que, no passado, me proporcionou algumas oportunidades, sabendo eu que ele o fez reconhecendo o meu trabalho, a minha dedicação à modalidade e o meu valor enquanto ciclista”.

 

Texto Firmino Paixão

 

Uma afirmação do jovem ciclista Afonso Silva, vincando a separação de interesses entre a sua competência como ciclista e a coincidência de ter nascido em Odemira, terra natal do atual selecionador nacional da modalidade, José Poeira.

 

Afonso Silva foi um dos corredores que integrou o pelotão de 125 unidades que alinhou na 40.ª Volta ao Alentejo em Bicicleta. Pelo segundo ano consecutivo representa a formação, de categoria “Continental”, Kelly/Simoldes/União Desportiva Oliveirense.

 

Não se pode afirmar, com rigor, que tenha chegado um tanto anónimo à partida da “Alentejana”, porque completava, nesse dia, 23 anos e foi ali, no parque da cidade de Beja, que ouviu a caravana cantar-lhe os “Parabéns a Você’. Mas, afinal, quem é este jovem nascido no litoral alentejano com queda para o ciclismo?

 

“Nasci em Odemira no dia 22 de março de 2000 e o ciclismo foi uma modalidade que abracei aos 13 ou 14 anos, altura em que comecei a andar de bicicleta mais a sério. Nunca mais quis outra coisa, sobretudo, desde que fiz a transição de júnior para uma equipa profissional”, conta.

 

Com tantas e tão belas praias no concelho de Odemira, por que haveria Afonso Silva de escolher o ciclismo como “a sua praia” favorita? “É verdade! O concelho de Odemira tem as melhores e mais belas praias de Portugal, mas eu, para já, não tenho jeito para o surf, mas esta é, realmente, a modalidade por que me apaixonei e acho que é aquela para a qual tenho mais competências e em que, ao longo do tempo, fui conseguindo bons resultados. É isto que gosto de fazer”.

 

Nem mais, mas como as coisas nunca acontecem por acaso, Afonso lá foi revelando que foram o pai e o irmão, ambos já utilizadores desse veículo de duas rodas, sem motor, claro, que lhe incutiram o bichinho.

 

“O resto foi crescendo dentro de mim e, de uma forma natural, tornei-me ciclista”. O clube da terra é que ficou a perder.

 

“Joguei futebol desde muito novinho, andei por lá cerca de 10 anos, mas depois o ciclismo falou mais alto. Fui jogador do Sport Clube Odemirense e acho que era um jogador com alguma qualidade, até porque, quando abandonei essa modalidade, houve pessoas que ficaram um pouco desiludidas, mas o ciclismo falou mais alto, pois era já a minha grande paixão e tive de optar”.

 

A sua primeira bicicleta ainda não lhe saiu da memória. “Aprendi a pedalar numa bicicleta de estrada, muito antiga, em ferro, ainda com as mudanças no quadro, que o meu pai me comprou para ver se eu gostava de ciclismo”. E não é que o Afonso gostou mesmo? Adorou...

 

“Sem dúvida, hoje voltaria a fazer as mesmas opções. Sinto-me bastante realizado, acho que estou a cumprir o meu sonho. Naturalmente que ainda tenho muitas ambições e muitos sonhos por cumprir, mas é para isso que trabalho diariamente”.

 

Metas por cumprir, sonhos por realizar, são coisas que não se esgotam no imaginário deste jovem alentejano, promissor ciclista. “A meta que um ciclista tem sempre mais presente é disputar as corridas e vencer aquelas que puder, ajudar a equipa e os meus companheiros. Pessoalmente, tenho alguns sonhos que guardo apenas para mim. Só posso é dizer que irei sempre lutando e correndo atrás deles”.

 

Afonso Silva recordou o seu percurso e contou que a sua formação como ciclista foi feita no Centro de Ciclismo de Tavira. “Depois estive um ano no Mato Cheirinhos, mas regressei a Tavira, onde me sentia mais feliz, praticamente em casa. Mais tarde, fiz a transição para o profissionalismo: com 18 anos fui para a Rádio Popular/Boavista, onde estive cerca de três anos, e presentemente estou pela segunda época consecutiva na Kelly/Simoldes/UDO”.

 

Para trás ficaram, certamente, algumas jornadas bem conseguidas. “Consegui algumas vitórias, ainda não serão muitas. Na formação, sim, o percurso foi melhor sucedido. Consegui alguns títulos, mas aqui no pelotão profissional as coisas são diferentes. Corremos contra pessoal mais experiente, com muito mais quilómetros nas pernas, mas é isso que me faz crescer, me faz evoluir e ganhar a consciência de que cada vez estarei mais perto do nível deles e de eventuais vitórias. Disputar as corridas com esses ciclistas já me deixa muito feliz”.

 

Um trepador, por excelência, não tivesse ele nascido num concelho com uma orografia com essas condições para o treino. Para o treino e para que os seus amigos e familiares surgissem na estrada com cartazes de incentivo. “Sim, sinto-me muito feliz por ter amigos e familiares na estrada a apoiar-me. É um incentivo que me dá uma motivação extra e me deixa muito orgulhoso e feliz por isso”.

 

Voltemos, então, à questão da seleção nacional: “Foi um sonho que já concretizei nas camadas jovens e, na época passada, enquanto sub/23. Também competi em campeonatos europeus e do mundo e na Taça das Nações em representação de Portugal. Tenho alguma experiência internacional, sabendo que, atualmente, na minha condição de ‘elite’, será mais difícil integrar as convocatórias para a seleção, mas irei sempre trabalhando, para voltar a merecer essa confiança do selecionador”.

 

Concluiu a Volta ao Alentejo na 31.ª posição da geral, mas não põe de parte a ideia de, algum dia, a vencer. Esse, aliás, é um dos muitos sonhos que ainda tem por concretizar, tais como vencer outras provas que todos os ciclistas ambicionam ganhar, como a Volta a Portugal, ou outras provas internacionais.

 

“Vamos sonhando”, confessou Afonso Silva, sem qualquer réstia de arrependimento pelo caminho que escolheu para o seu modus vivendi: “Nunca. Foi uma decisão que tomei e de que nunca me arrependi. As metas vão-se reformulando à medida que o tempo corre. Certamente que no futuro ainda terei que tomar muitas outras decisões, mas também o apoio da família se tem revelado importante e fundamental, porque sem a família eu nunca teria chegado aqui, nem conseguiria ter esta motivação que sinto para trabalhar e evoluir”.

 

Ídolos? Quem os não tem? Os seus ficam aqui expressos. “Quando era novo tinha mais, mas vamos crescendo e vamos pensando de outra forma, admirando ciclistas como Alberto Contador, Vincenzo Nibali, o próprio Alexandro Valverde, as minhas referências”, concluiu.

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