“É muito difícil gerir estas emoções, nem todos os dias são bons dias para controlarmos tantas emoções e tomarmos tão diferentes decisões”, uma ideia deixada por Saiming Fonta, monitor do projeto “Shave Escolhas”.
Texto Firmino Paixão
"Este projecto tem sido muito útil e socialmente importante para mim, valorizei-me muito, ganhei muito espírito de equipa, tenho crescido imenso”, garantiu António Correia, um dos jovens inscritos no Programa Shave, uma opinião imediatamente corroborada pelo companheiro José Cavaco.
“Tem valido a pena, tenho gostado imenso de estar aqui nestas actividades, já estou inserido num clube que é o Despertar Sporting Clube, e, depois, o nosso monitor também é cinco estrelas”.
São dois, entre muitos, exemplos que aqui podiam ser plasmados e que refletem a felicidade e o sentimento de autoestima vivido por este grupo de jovens, que vimos desenvolver uma prática desportiva saudável, mas, também ela, repleta de gestos solidários e de uma correta interpretação dos valores associados ao desporto.
O projeto “Shave E8G”, integrado no Programa Escolhas, é promovido pela Secretaria de Estado da Igualdade e Migrações e pelo Alto-Comissariado para as Migrações e gerido, em Beja, pelo Centro Social, Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança.
O sucesso escolar, a redução do absentismo e do abandono escolar, a transição para o mercado de trabalho, o desenvolvimento de atividades de âmbito comunitário e a consciencialização sobre direitos e deveres de cidadania, estão entre as principais medidas vertidas no Programa Escolhas, uma iniciativa de política pública que tem por missão a promoção da inclusão social de crianças e jovens oriundos de contextos vulneráveis.
O programa desenvolve-se em diferentes projetos e em múltiplas áreas, como a aquisição de competências em diferentes níveis, a cultura, o desporto e atividades lúdico-pedagógicas.
Saiming Fonta, técnico de inserção e monitor do projeto “Shave” disse ao “Diário do Alentejo” que trabalham, principalmente, “com as comunidades do Bairro da Esperança e do Bairro das Pedreiras, nomeadamente a comunidade cigana, mas o âmbito é muito mais alargado e não se resume apenas a estes dois agregados populacionais.
Temos o projecto aberto para qualquer indivíduo que queira aderir e temos já jovens de outros bairros. Quem quiser aparecer, que apareça, mas o nosso principal foco são as pessoas daqueles dois bairros que já referi”. O que se procura, referiu, “é sempre a inclusão.
Nós trabalhamos para promover a inclusão, também lhes damos algum apoio na parte escolar, depois trabalhamos o desenvolvimento das competências, ou seja, trabalhamos com eles ‘o saber ser’ e o ‘saber estar’”.
O projeto incide em jovens, com idades compreendidas entre os seis e os 25 anos, e Saiming Fonta garantiu a inteira disponibilidade de todos eles. “Este grupo que se tem mantido unido para dar continuidade ao projecto tem mostrado sempre muita disponibilidade, e alguns deles também se mostram muito disponíveis em fazer alguma coisa pela promoção dos seus bairros”, mas também assegurou que “o compromisso com os valores está sempre presente e deve ser permanentemente um exemplo para os mais novos que vêm surgindo no projecto, que aqui podem encontrar figuras que possam ser suas referências e que decidam também seguir esse caminho”.
O percurso tem sido bem-sucedido, mas existem factores externos e entidades que têm ajudado, como bem lembrou o monitor. “Nós temos uma parceria com o Centro de Cultura e Desporto do Bairro da Conceição, através da qual premiamos, com a integração no clube, aqueles que mais se destacam no desenvolvimento do Projecto Shave e os resultados têm sido fantásticos. O Bairro da Conceição tem-nos dado um apoio gigantesco, sobretudo naquilo que é o comprometimento dos jovens com o nosso projecto e com a frequência da escola”.
Agora, nem tudo são rosas, também existem os espinhos: “A primeira dificuldade tem a ver com o contexto, as vivências e a vulnerabilidade dos bairros. Depois, temos dificuldades na utilização de espaços, nomeadamente para a prática de futebol de rua, porque existe ali um campo que quando chove está sempre cheio de poças de água e então temos recorrido ao pavilhão do Bairro da Conceição que, graças a Deus, nos abre as portas, para desenvolvermos as nossas actividades, mas também existem dificuldades que têm a ver com a anuência dos pais e com os horários escolares que não permitem, muitas vezes, que venham ao Projecto para trabalhar connosco”.
Porém, o “Shave Escolhas” não se esgota na atividade desportiva. “Nós temos a sala de estudo comunitária, temos a área de treino de competências, temos a aprendizagem e desenvolvimento de competências digitais. Neste momento estamos, de facto, a incidir um pouco no futebol, porque estamos a preparar já uma equipa que, no próximo ano, possa competir no Torneio Distrital de Futebol de Rua”.
Uma presença no Estádio da Luz e uma visita ao Zoo de Lisboa são outras atividades previstas, mas lá está a questão de gerir as emoções.
Saiming deixa o lamento: “Ao Estádio da Luz só podem ir sete atletas, não temos condições para levar mais, temos cento e tal moços inscritos no projecto, e então, deixar alguns de fora, é uma decisão difícil, mas que terá que ser fundamentada com o rendimento escolar e os comportamentos sociais. São esses os factores que ponderamos e que nos ajudam a fazer essa escolha. Mas depois teremos uma viagem ao Jardim Zoológico e aí como podemos levar 25, irão outros”.