A Associação de Karaté de Beja, o ramo sul da organização Seiwakai Portugal, recebeu o 1.º Estágio Regional de Karaté, evento que se realizou no pavilhão da Escola de Santiago Maior, na cidade de Beja.
Texto Firmino Paixão
“Promover o companheirismo e a amizade entre os membros da Seiwakai Portugal, promover uma prática intensiva coerente com critérios técnicos internacionais e ministrar formação a treinadores, de acordo com padrões científicos e pedagógicos de alto nível educativo”, foram os pressupostos ancorados à realização deste evento, que reuniu mais de uma centena de praticantes de diferentes géneros e graduações. A acção foi dirigida pelo kyoshi 8.º dan Abel Figueiredo e contou, também, com a presença dos kyoshis 7.º dan Jorge Pimenta e Teófilo Fonseca, este último também presidente da Associação de Karaté de Beja (AKB).
Doutorado em Motricidade Humana, na especialidade de Ciências do Desporto, também assessor técnico da Federação Nacional de Karaté, Abel Figueiredo é atualmente o técnico da modalidade com a mais elevada graduação em Portugal. Em declarações exclusivas ao “Diário do Alentejo”, o kyoshi Abel Figueiredo revelou: “Viemos a Beja fazer o primeiro evento da época desportiva 2024/2025 da Seiwakai Portugal, uma organização que representamos. Nós temos, normalmente, estágios regionais. Este foi o primeiro. Vamos ter depois estágios, noutras localidades, que preparam um estágio nacional que vai finalizar-se com graduações. Como somos, simultaneamente, graduados e juízes de graduação, podemos, nesse estágio nacional, fazer graduações internacionais. É isso que estamos a preparar, a fazer crescer as graduações em Portugal para termos um nível educativo um pouco mais avançado”. Revelou também quais os propósitos da ação: “Tivemos um momento inicial com praticantes de todas as graduações e um segundo mais dedicado aos treinadores e praticantes avançados, ou seja, cintos castanhos e cintos negros. Um momento com um rigor técnico mais exigente, mais avançado, para que as graduações depois possam ser bem-sucedidas”.
Outra das mensagens dominantes na formação é a afirmação de que o karaté é uma “escola de valores”, ideia partilhada pelo kyoshi, pormenorizando: “As regras são fundamentais para toda a sociedade, mas a questão de nós aderirmos a valores importantes para a vida é uma questão de educação. Portanto, o karaté é uma atividade que visa educar todos os praticantes a seguirem valores pessoais superiores, de respeito pela integridade física, pela integridade social e também pela integridade completa de todos os seres humanos. Além disso, [visa] também ter uma conexão com a natureza, de maneira a respeitar e não ter uma peugada muito forte, que degrade a nossa natureza. Portanto, é essa entrega de valores, de benefícios mútuos, que nós procuramos. Que as técnicas sejam muito eficazes. Que é uma lição de vida fazermos, com muito rigor, toda a ação técnica mas, ao mesmo tempo, com valores”. Contudo, deixou o reparo: “Nunca destruindo, e é por isso que o karaté se distingue, às vezes, de outras artes marciais e desportos de combate, em que é válido fazer o KO [knock-out, colocar o adversário fora de combate] como espetáculo. Nós trabalhamos as técnicas com muito controlo, tentando não as colocar nunca em evidência. Não finalizamos as técnicas para que elas não façam lesão ao outro, portanto, respeitamos a integridade completa do ser humano”. Uma postura que requer um forte apelo à mente, à racionalização, admitiu: “Diria que essa componente filosófica de maior racionalidade, com questões essenciais à humanidade, é uma das questões que me parece mais interessantes, também, em algumas práticas desportivas. E, no caso do elogio das artes marciais, neste caso do karaté-do, porque a palavra do quer dizer a via, o caminho que obriga a ter uma concentração no aperfeiçoamento do caráter. Mas essa racionalidade e essa autorreflexão pessoal fazem com que a pessoa tenha uma prática racionalmente orientada, com intencionalidade pessoal para o auto-aperfeiçoamento. E quando corre mal, porque na vida às vezes há sempre coisas que nos correm mal, voltamos atrás, por isso o do é um passo. Damos o passo atrás, retomamos o caminho e voltamos a aperfeiçoar-nos. Se caímos temos de nos levantar”.
Quanto à implantação do karaté no estilo goju-ryu no distrito de Beja, Abel Figueiredo considerou, de forma inequívoca: “Está muito bem implantado, mercê de um trabalho excecional da AKB”. E justificou: “Tem bastantes escolas e tem uma orientação muito cuidada”. Em suma, deixou a nota: “A associação tem uma boa equipa, funciona muito bem. E temos também um projeto importante que é dar mais oportunidades às meninas e às mulheres para poderem ser líderes. A AKB também tem treinadoras a arrancar e a liderar clubes, o que não é muito usual e tem cada vez mais praticantes femininas”.