O Centro de Cultura Popular de Serpa não conseguiu garantir a manutenção no Campeonato Nacional de Andebol da 2.ª Divisão, em seniores masculinos, patamar em que competia há quatro épocas, e, conjuntamente com o Clube Naval Setubalense, caiu para a 3.ª Divisão.
Texto e Foto | Firmino Paixão
Na fase final e decisiva da prova o conjunto serpense só conseguiu vencer dois dos 14 jogos, perdendo muitos deles por diferenças mínimas depois de, à beira do final das partidas, estar na frente do marcador. Manuel Ramos, o treinador da equipa, deixou uma análise muito pragmática da difícil realidade que viveu na parte final da época e admite não continuar como timoneiro da equipa sénior do clube, fazendo depender a decisão final de uma reflexão que irá fazer até ao reinício da época desportiva.
Foi, seguramente, uma época difícil…Sim! Foi uma época muito difícil, sobretudo, porque ficou o sentimento de não termos cumprido aquilo que tínhamos projetado como objetivo no início da época. Ficou um sentimento de frustração, especialmente, porque acho que tínhamos capacidade e tínhamos muito mais para dar, para conseguirmos a manutenção na segunda divisão nacional, de forma muito fácil, se tivéssemos trabalhado como fizemos na primeira fase do campeonato. Essencialmente, houve, nesta segunda fase da prova, uma falta de compromisso. Quando parecia que as coisas iriam mudar, depois de termos ganho em Queijas, com o 1.º de Dezembro, com os dois jogos seguintes que tínhamos em casa.
Que problemas identificou para essa falta de compromisso?Surgiram as épocas festivas. As Festas de Serpa, a Ovibeja e, em seis pontos possíveis, conseguiram-se apenas dois. E, desde essa altura, até ao final do campeonato, foi esse o cenário, com quatro ou cinco atletas a treinar. Foi muito difícil comandar este barco até ao final, mas ficou, de facto, aquele sentimento de que podíamos ter feito muito mais. O sentimento de que éramos capazes. Até podíamos ter caído na terceira divisão, como caímos, mas de outra forma.
O clube lutará, já na próxima época, pelo regresso à segunda divisão?A minha convicção, e a mensagem que passei sempre aos meus atletas, é a de que é sempre mais difícil subir à segunda divisão nacional do que conseguir a manutenção. A subida é muito mais difícil do que aquilo que aparenta. Considero mais fácil a manutenção, e repare que nós já vínhamos com quatro épocas consecutivas nesta segunda divisão. A equipa estava, de alguma forma, cimentada neste patamar competitivo mas, nesta altura, penso que será muito difícil que se consiga o regresso já na próxima época. E digo mais: dificilmente continuarei a comandar esta equipa nas condições atuais.
Na primeira fase da prova nem sequer pairava uma possível ameaça de despromoção. A segunda fase é que deitou tudo a perder?Na segunda fase conseguimos só duas vitórias. Fomos uma equipa que não conseguiu vencer os jogos em casa e com adversários diretos na luta pela manutenção. São situações que não podiam ter acontecido. Nos últimos jogos a maioria foram derrotas por um e por dois pontos, isso quer dizer alguma coisa, quer dizer que na parte final era sempre quando nos íamos abaixo. Faltava frescura física. Não direi falta de experiência, porque estes quatro anos deram-nos muita, mas direi falta de discernimento naqueles lances mais decisivos dos jogos. Que isso sirva de exemplo para que no futuro as coisa possam mudar e quem vier a seguir possa, de facto, olhar para o que nos aconteceu esta época.
A sua renúncia é uma decisão definitiva?Neste momento pondero não continuar à frente da equipa sénior. Veremos se algo mudará no período de verão. Temos de refletir, temos de falar com os jogadores, saber quem é que continuará disponível. Os mais velhos têm aguentado este barco e estão, também, já saturados de chegarem ao pavilhão e darem muito de si e não verem as coisas concretizadas, nem os objetivos conseguidos. É muito frustrante também para eles, como é para mim, mas para eles ainda mais, porque são eles que estão dentro do campo. Veremos o que o futuro nos reservará.
O clube tem uma boa retaguarda de formação. No final da época já utilizou alguns desses jovens…Os sub/18 têm uma equipa muito compacta, com 13 ou 14 jogadores que já estão juntos há bastante tempo. Certamente que o objetivo será consolidar esse grupo e integrar alguns dos jogadores nos seniores. Mas isso partirá do pressuposto da sua disponibilidade, porque sem a vontade deles, sem o seu compromisso, nada se consegue. Se não remarem todos para o mesmo lado, dificilmente alguém conseguirá fazer alguma coisa.
Uma despromoção que se lamenta, ainda mais numa altura em que o centro comemorou os 50 anos de existência…Sem dúvida. Atravessamos uma data importante com esta comemoração dos 50 anos de fundação do Centro de Cultura Popular de Serpa. No passado já tivemos essa experiência, em vários períodos não tivemos equipas seniores e depois conseguimos ultrapassar as dificuldades e renascer. Lembro-me, nomeadamente, quando era jogador, que estive alguns anos parado, depois voltávamos ao ativo, são ciclos, dependia da disponibilidade dos atletas, mas nem sempre foi fácil conseguir consolidar aqui a modalidade. Vivemos no interior, precisamos de pessoas, mas, dentro daquilo que eu puder ajudar, tentaremos, mas, volto a dizer: o meu pensamento, neste momento, é que o meu futuro no clube dificilmente passará pelos seniores.