Diário do Alentejo

Conselho regional de arbitragem da Associação de Futebol de Beja promoveu debate sobre arbitragem

21 de julho 2024 - 08:00
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Os árbitros do presente” foi o tema proposto pelo conselho de arbitragem (CA) da Associação de Futebol de Beja (AFBeja), em que estiveram presentes quatro árbitros do quadro nacional, representantes dos quatro conselhos regionais do Sul (Algarve, Beja, Lisboa e Setúbal)

 

Texto Firmino Paixão

 

Os árbitros de futebol Nuno Almeida (CR Algarve), André Narciso (CR Setúbal), Bruno Vieira (CR Lisboa) e Diogo Rosa (CR Beja) reuniram-se no auditório da Escola Superior de Educação de Beja para um momento de partilha de vivências e de aconselhamento aos árbitros, jovens e menos jovens, filiados no organismo que tutela o futebol deste distrito. O internacional Luís Godinho (CR Évora) deveria ter-se juntado ao painel, porém, por justificados problemas familiares, não esteve presente. Recorde-se que a mãe do juiz eborense faleceu, no passado dia 7, na ilha de São Miguel, Açores, vítima de aparatosa queda de uma cascata. Nuno Almeida pediu que se fizesse silêncio em memória da mãe do colega.

Coincidência, ou não – nem espantaria que fosse exigência da hierarquia –, os quatro juízes apresentaram-se de branco. Qual “white sunset”, não fosse a escolha de indumentária de cor diferente sugerir apreço por este ou aquele emblema.

O moderador, Carlos Pinto, diretor do jornal “Correio Alentejo”, lançou o debate. Confissões, vivências, desafios, percursos e ambições, momentos de partilha e de incentivo aos jovens árbitros presentes. Poucos, por sinal. Também não existem muitos. A audiência não ultrapassou as três dezenas de agentes desportivos, do passado e do presente.

Diogo Rosa, árbitro do segundo escalão profissional, lembrou que era praticante de atletismo quando foi desafiado para a arbitragem, Bruno Vieira falou da herança familiar que herdou, André Narciso recordou os seus tempos de jogador do Vitória de Setúbal e Nuno Almeida confessou que tinha sido praticamente “obrigado” a abraçar esta causa.

No final, já em conversa exclusiva com o “Diário do Alentejo”, o setubalense André Narciso, árbitro da liga principal e internacional “VAR”, evocou a grande geração que o antecedeu, lamentando “a falta de muitos valores para conseguirem seguir os exemplos dos antigos árbitros de Setúbal, grandes árbitros internacionais, muitos assistentes”, vincando que, hoje em dia, “existe uma grande falta de árbitros jovens que consigam chegar a esse patamar”.

Diogo Rosa é, atualmente, o árbitro mais categorizado entre os filiados no conselho regional de Beja. Atingir o topo da arbitragem nacional é uma meta óbvia. “Sim, quero chegar à 1.ª Liga, estando consciente de que faço parte de um grupo muito forte, mas penso que, trabalhando como trabalho, com humildade, seja possível lá chegar tão breve quanto é o meu desejo e a minha ambição”. Tão importante como recrutar jovens para a arbitragem é reter os que já cá estão, foi uma ideia deixada por Diogo Rosa. Por isso, acentuou: “Este colóquio foi um momento muito positivo. São momentos que se devem aproveitar, sobretudo, pelos árbitros jovens que aqui estiveram hoje. Mas também para os menos jovens terá sido importante e proveitoso. Depois, é sempre agradável voltar aqui para partilhar os conhecimentos que fui adquirindo ao longo dos anos na casa que me viu nascer para a arbitragem. Aliás, ainda faço parte dela”.

O bejense Bruno Vieira atingiu a primeira categoria nacional como filiado no conselho regional de Lisboa e, neste seu regresso à cidade que o viu nascer, revelou: “É sempre bom voltar a uma casa que me ajudou muito a crescer, revisitar a Associação de Futebol de Beja e o conselho de arbitragem de Beja a quem devo muito”. Deixou também a nota: “Estou filiado na associação de Lisboa, mas reconheço que para a minha promoção à 1.ª Liga houve um trabalho, todo ele, feito na minha cidade. Estou muito contente por isso e estarei sempre disponível para participar em tudo aquilo que acharem que eu posso ser útil. Fiquei feliz por rever algumas caras que conheci neste meu percurso aqui no distrito, antigos dirigentes que me ajudaram a lutar pelos meus objetivos e que me ajudaram a crescer”. A ambição está lá e Bruno já fala do passo que pretende dar. “O meu próximo objetivo é a internacionalização. Aliás, quando cheguei à 2.ª Liga coloquei essa meta a mim próprio, que queria chegar à liga principal e atingir a internacionalização. Acho que ainda é possível. Esta época correu-me bastante bem, fiquei em sétimo lugar, pode ser que na próxima época atinja o top cinco e seja indicado para internacional. Não escondo que é o meu próximo objetivo e já estou a trabalhar nele”.

Nuno Almeida, o árbitro natural de Monte Gordo, no Algarve, regozijou-se com o seu regresso a Beja, cidade onde, há anos, se licenciou em Direito, adiantando mesmo: “Considero que tenho nesta cidade a minha segunda casa, uma cidade onde fui sempre muito bem acolhido e onde fiz grande parte da minha carreira e deixei muitos e bons amigos. Foi uma honra. Um convite que surja da Associação de Futebol de Beja, ou do seu conselho de arbitragem, para mim, é uma ordem. Estarei presente sempre que Beja chame por mim. É uma felicidade rever os meus bons amigos”. Sobre a ação em que participou, reconheceu: “Estas partilhas de experiências e de conhecimentos são muito importantes para humanizarmos a figura do árbitro, para sensibilizarmos os mais jovens para as virtudes desta atividade tão nobre. Cabe-nos a nós, enquanto árbitros mais velhos, participarmos nestes eventos, esclarecendo e tirando dúvidas aos mais jovens e, acima de tudo, dar-lhes a conhecer como bonito é este caminho que é a arbitragem”. Um caminho que não se arrepende de ter percorrido, assegurou. “Se voltasse atrás, faria tudo como fiz até aqui. Não me arrependo de nada e sou imensamente feliz”. E será mais difícil ser árbitro ou advogado? A resposta foi categórica. “O mais difícil é responder a essa pergunta. Gosto de fazer as duas coisas, mas abracei a arbitragem de forma mais intensa do que a advocacia e ela absorve-me quase todo o tempo. Não me arrependo e espero continuar assim. Sempre com o mesmo nível de nobreza e, acima de tudo, paixão”, rematou.

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