Diário do Alentejo

Uma realidade adversa

31 de agosto 2024 - 08:00
Manutenção do Penedo Gordo na primeira divisão distrital será um justo prémioFoto| Firmino Paixão

António Calatróia, treinador do Penedo Gordo, tinha anunciado, no final da época anterior, que estaria de saída do futebol. Afinal, o clube, sim, sofreu uma debandada de jogadores, mas Calatróia ali permaneceu.

 

Texto e Foto | Firmino Paixão

 

Por amor ao clube, a Associação Cultural e Desportiva de Penedo Gordo, Calatróia ficou. Continua a argumentar que está velho e cansado, mas o espírito de missão e a paixão pelo emblema que ajudou a chegar até aqui, com as suas infraestruturas melhoradas, falaram mais alto. Calatróia recordou: “Era minha intenção parar. Tenho 60 anos, estou cansado. Já tenho uma idade que não me permite muito enfrentar invernos rigorosos, para estar no campo e dar o melhor nos treinos. Depois, aconteceu uma situação que foi a saída de jogadores. Não perdi só 18 jogadores, perdi também uma equipa técnica que me estava a ajudar e que tinha muita qualidade. Ponderando essa saída de tantos jogadores e correspondendo ao apelo e pedidos de ajuda do presidente do clube, tive que repensar bem as coisas e voltar ao banco do Penedo Gordo”.

 

O que pesou mais nesse retrocesso? Paixão pelo clube ou pelo futebol?Foi a paixão pelo clube. Quando tudo começou no Penedo Gordo, isto era o campo da bola. Agora temos aqui um estádio. Foi com estes meninos aqui da terra: os Facaias o Igor, o Pedro Lança, e muitos outros que vieram da cidade, falei apenas nos mais carismáticos, foram eles que levantaram isto e fizeram do Penedo Gordo o clube que é hoje. Vieram para aqui muito novos, é normal que estejam desgastados. Com todo o respeito pelo trabalho do atual e dos anteriores presidentes, o Penedo Gordo precisava de mais pessoas a apoiar. O associativismo cada vez está pior, o futebol de hoje é um jogo de interesses, o futebol distrital já está comandado pelos empresários. Consoante o dinheiro que as câmaras adiantam, assim os empresários investem no clube a, b ou c. Aqui não arriscam porque sabem que não há dinheiro. O presidente Bruno Baia merecia mais apoio, mesmo até da população local. Temos sempre muita gente a ver a bola, mas não são pessoas daqui. Se as pessoas querem ter uma equipa na primeira divisão distrital, terão que dar mais a cara. O bairrismo desapareceu, não sei porquê.

 

A equipa perdeu jogadores que eram nucleares…Sim, eram miúdos com muita qualidade e que estavam aqui comigo já há uns anos. Se calhar, cinco, seis, sete ou oito épocas consecutivas no Penedo Gordo. É normal que queiram seguir o caminho deles, mas confesso que me deixa triste, pela grande amizade que tinha com eles. Foram laços que se construíram ao longo de anos. Serei sempre um fã do futebol que eles praticam e da sua qualidade desportiva. Cá está, as pessoas procuram o tal incentivo monetário que nós aqui não lhes podemos dar, porque não crescemos o suficiente para que isso fosse possível. Teríamos que ter mais pessoas a apoiar-nos para segurarmos aqui os jogadores. Assim, é difícil.

 

O plantel ficou mais fragilizado. Mas são estes que estão, são eles os “melhores do mundo”…Não conheço ainda bem a realidade do plantel. Não tenho complexos em assumir isso. Iniciámos a época com pouquíssimos jogadores. Temos treinado com 10 e 12 jogadores. Mas tenho a promessa do presidente de que, nos próximos dias, aparecerão mais atletas. Vamos ver o que conseguiremos fazer. Iniciaremos a época no dia 15 de setembro, aqui em casa, com o Despertar, em jogo a contra para a Taça de Honra. Nessa altura, consoante a resposta da equipa, é que poderei fazer uma avaliação mais aproximada da realidade e perspetivar onde é que poderemos chegar. Contudo, acredito muito naquilo que aqui tenho. Falta-nos um guarda-redes, esse é o nosso “calcanhar de Aquiles”. Porém, confio que quando completarmos este plantel, aos poucos ele irá crescer.

 

Não será fácil repetir o sucesso da época passada?Vamos lá ver, a época passada não foi uma das melhores do Penedo Gordo. Longe disso! A melhor época do clube foi quando ficámos em quinto lugar e fizemos 41 pontos. Foi a nossa maior pontuação. Se falarmos em classificação, ficámos uma vez no segundo lugar, na época em que subiu o Mineiro; nesse mesmo ano disputámos a final da Taça de Honra, em Vila Nova de São Bento, portanto, se quisermos fazer essa análise a equipa que nesse ano ficou em segundo lugar teve melhor prestação que a da última época, embora esta tenha ficado numa classificação honrosa (3.º lugar). Nos últimos seis anos fizemos um segundo lugar, dois terceiros, um quarto e um quinto e disputámos uma final da Taça Distrito de Beja.

 

Para a próxima temporada, qual será o foco?Para a época que se vai iniciar, digo isto sem qualquer hipocrisia, o Penedo Gordo irá lutar para se manter na primeira divisão distrital. Sejamos realistas, será esse o único objetivo do Penedo Gordo neste momento. Mantermo-nos neste patamar.

 

A época abrirá com a Taça de Honra, prova que se completará antes de começar o campeonato…Penso que foi uma ideia positiva e que vai de encontro às dificuldades que os clubes, muitas vezes, sentem em planear as suas pré-epocas, com problemas em encontrar adversários para fazer treinos e em arranjar árbitros que os dirijam. Os jogos-treino se não forem dirigidos por um árbitro oficial a coisa já não é bem igual. Assim, este figurino da Taça de Honra na abertura da época dá-nos possibilidade de avaliar a equipa, naturalmente sempre com o objetivo de conquistar o troféu que está em disputa, mas principalmente, e com as dificuldades por que estamos a passar, temos que o assumir, pode ajudar a melhorar no entrosamento e na qualidade das equipas e potenciar uma melhor prestação no campeonato. O meu pensamento está em dar ao meu presidente o que ele merece, que é a manutenção do clube na primeira divisão distrital.

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