Diário do Alentejo

Rui Cristina, Pedro do Carmo e Gonçalo Valente representarão o distrito na Assembleia da República

23 de maio 2025 - 12:00
Deputados eleitos do Chega, PS e PSD fazem balanço dos resultados eleitorais no círculo de BejaFotos | Ricardo Zambujo

Os resultados das Legisla-tivas do passado domingo, dia 18, relativas ao distrito de Beja, não obstante terem revelado, face às eleições anteriores, a mesma divisão partidária dos três deputados elegíveis à Assembleia da República, reconfiguraram, em percentagem de votos obtidos pelas forças políticas com maior expressão, o mapa político do território, com o PS a perder a sua hegemonia para o Chega.

 

Texto | José SerranoFotos | Ricardo Zambujo

Ainda que o número de deputados elegíveis (três) à Assembleia da República pelo distrito de Beja tenha sido distribuído nas Legislativas do último domingo da mesma forma que nas eleições congéneres do ano passado – um deputado para o Chega, um para o Partido Socialista (PS) e um para a Aliança Democrática (AD – coligação PSD/CDS) –, os recentes resultados eleitorais, no que à percentagem de votos diz respeito, vieram delinear um novo mapa político do território. Uma reconfiguração que advém da conquista eleitoral do Chega no total do escrutínio do distrito e de oito (Almodôvar, Alvito, Barrancos, Beja, Ferreira do Alentejo, Moura, Odemira e Vidigueira) dos seus 14 concelhos, ganhos integralmente, em 2024, pelos socialistas, que agora venceram em “apenas” cinco (Aljustrel, Castro Verde, Cuba, Mértola e Serpa), tendo Ourique sido conquistado pela AD.

 

Para Rui Cristina, deputado do Chega elegido pelo círculo eleitoral de Beja (27,73 por cento, 20 447 votos), estes dados configuram “um resultado extraordinário” do seu partido. “Fizemos história, pois esta é a primeira vez que a direita vence no distrito, constantemente abandonado pelos governos centrais e vítima, em muitas das 14 câmaras municipais (maioritariamente do PS), de más políticas, com lideranças que não têm perspetivado o futuro”, sublinha o eleito, tecendo considerações explicativas do sucesso eleitoral. “As pessoas chegaram a um ponto em que disseram ‘chega’, porque se aperceberam que, passados 50 anos de democracia, lhes falta condições de saúde, educação, habitação, mobilidade, [num território em que] a agricultura não tem sido apoiada como deve ser e que tem deixado as portas escancaradas do nosso distrito à imigração descontrolada. Isto é um cartão vermelho que é dado ao PS”, diz.

 

No âmbito da sua eleição, Rui Cristina revela as questões que farão parte das suas primeiras intervenções no Parlamento, nomeadamente, as acessibilidades e a imigração. “O aeroporto tem de ser um ponto estratégico de transporte e a ligação da A2, através da A26, em quatro faixas, até ao concelho de Beja, é, também, relevante, para o distrito. Temos de começar a atrair investimento do governo central para esta região e nós iremos fazer disto um ‘cavalo de batalha’”.

 

No que diz respeito à entrada de estrangeiros no País, que escolham Beja “para viver e para constituir família”, o eleito é favorável a uma proposta de “política de cotas” para imigrantes, favorecendo a vinda de cidadãos estrangeiros “com competências profissionais”, assegurando-se que são portadores de contratos de trabalho – “para garantir que não irão viver à custa de subsídios, pagos pelos impostos de todos nós, que aqui trabalhamos e vivemos” –, e verificando-se a ausência de “antecedentes criminais”.

 

Enaltecendo, uma vez mais, o resultado obtido, Rui Cristina acentua o compromisso com os eleitores: “Não iremos fazer milagres, mas prometemos apresentar muitas iniciativas legislativas e que se ouvirá, muitas vezes, falar de Beja no Parlamento. As pessoas querem é que as defendam e que lhes melhorem as condições de vida, é isso que as pessoas querem”.

 

Os “movimentos populistas, demagógicos, de extrema-direita, (…), já chegaram aos nossos concelhos” “O Partido Socialista [PS] não ganha as eleições no distrito de Beja – éramos, aqui, o maior partido e não conseguimos alcançar esse objetivo”. Esta é a nota de relevo da sumarização que o deputado socialista eleito pelo círculo de Beja, Pedro do Carmo, faz das Legislativas do último domingo.

Congratulando-se com a sua eleição (26,49 por cento, 19 536 votos) e garantindo a continuidade do seu trabalho, “com toda a energia”, em prol dos interesses da região, nomeadamente, no que diz respeito aos investimentos “previstos”, nas acessibilidades, tecnológicas, rodoviárias e ferroviárias e, “naturalmente, da melhoria da qualidade de vida das pessoas”, manifesta, “face a estes resultados”, a sua “grande preocupação com o aumento dos extremismos e com a ingovernabilidade do País”, temendo aproximarem-se “tempos muito difíceis, para todos nós”.

Questionado sobre as causas que conduziram o PS à diminuição, nestas eleições no distrito de Beja, da sua votação em 5,21 por cento (menos 4872 votos) e à descida do partido para o segundo lugar dos escolhidos pelos eleitores, comparativamente às Legislativas de 2024, o socialista considera “clara” a justificação. “É uma tendência natural, esta ‘onda’, este avanço da extrema-direita por todo o mundo. Não há [outra] explicação para que concelhos do interior do Baixo Alentejo tenham tido votações [vencedoras] da extrema-direita, como foi o caso de Barrancos, Alvito, Ferreira do Alentejo… há locais onde [os eleitores] nem sabem quem são os candidatos, que não têm um programa eleitoral para a região, não têm uma proposta… e votam nesses partidos. Beja não ficou imune, como não ficou Portalegre, o Algarve. Estes movimentos populistas, demagógicos, que utilizam a fomentação do ódio como modelo, só ainda não tinham chegado a Portugal e era inevitável que viesse a acontecer – [agora] já chegaram a Portugal, já chegaram à nossa região, já chegaram aos nossos concelhos. Está a acontecer um pouco por todo o mundo, está a acontecer aqui”, adverte.

 

“A nossa governação mostrou que é possível investir muito mais no nosso distrito” O resultado eleitoral da AD, tendo aumentado a votação no distrito (20,89 por cento, 15 407 votos) face às legislativas anteriores, é “significativo e muito importante”, de acordo com Gonçalo Valente, deputado do Partido Social Democrata (PSD) elegido pelo círculo eleitoral de Beja. Tal, na sua análise, reflete o trabalho que foi desenvolvido, na região, pelo Governo liderado por Luís Montenegro que, “num curto espaço de tempo, inverteu a mentalidade relativa ao investimento em territórios de baixa densidade”, ao terem sido tomadas decisões sobre medidas consideradas estruturais para o distrito, em particular, a aprovação, em Conselho de Ministros, da A26 até Beja e a publicação do despacho do concurso para o projeto de requalificação e ampliação do hospital de Beja. “Quer isto dizer que a nossa governação mostrou que é possível investir muito mais no nosso distrito, que é possível tomar este tipo de medidas, num território que, em termos eleitorais, é muito inferior a outros círculos”.

Relativamente à “derrota estrondosa do PS”, o deputado social-democrata explica-a pela forma de atuação dos socialistas para com o distrito, “esquecido e abandonado”, ao longo dos últimos oito anos. “Isto mesmo foi confirmado nas urnas – a narrativa que ‘quando o PS governa o Alentejo cresce e se desenvolve’, caiu por terra, se dúvidas houvesse’”.

No que diz respeito ao resultado do Chega, posicionando-se agora como o partido mais votado no distrito, Gonçalo Valente, entendendo que estes votos refletiram “a falta de medidas e de esforços” junto das comunidades locais, sublinha a necessidade de ser aplicada “competência” que chegue até às populações. “Só se inverte esta tendência de crescimento do Chega com boas medidas, com soluções, com respostas da mesma dimensão dos problemas que vão acontecendo. Acredito que se o Governo da AD der as respostas que as pessoas, fartas de tanta incompetência, precisam, partidos de protesto como o Chega – que não apresenta soluções, que assenta a sua iniciativa política apenas na crítica e no apontar de problemas – diminuirão a sua importância [junto dos eleitores]”.

Sobre o seu trabalho como deputado eleito, Gonçalo Valente esclarece que a sua prioridade será, entre outras, o acompanhamento, “de perto”, dos processos relativos às obras estruturais, delineadas para a região – A26, eletrificação da linha férrea Beja--Casa Branca e hospital de Beja –, para que, “cumprindo os trâmites legais e normais de processos desta natureza”, a execução seja realizada dentro dos prazos previstos. “Porque nós precisamos destas obras como pão para a boca”, conclui.

Comentários