PROCURAR SOLUÇÕES INOVADORAS
Depois desse encontro, em 2017, decidiram lançar um processo de regeneração do ecossistema em Mértola, havendo já pessoas e entidades que queriam seguir esse caminho. “A primeira coisa que fizemos foi não dizer o que fazer mas convidar agricultores locais para conhecer a experiência de outro lugar, com uma situação semelhante. Fomos então de autocarro a Espanha, com 25 agricultores, autarcas e técnicos de Mértola e Alcoutim, visitar uma iniciativa de regeneração e cooperativa, próxima de Múrcia. Isso foi o começo”, recorda Marta.
“Esse projeto era muito interessante, em termos agroflorestais, em termos ecológicos, em termos sociais, a forma de organização, tudo isso era muito interessante. E, acima de tudo, mais do que as soluções, a governança, a colaboração entre as entidades, a oportunidade de os agricultores poderem dar a sua opinião, como é que eles veem as possíveis soluções e estarem de igual para igual a discutirem com os técnicos e os decisores políticos”. Essa experiência espanhola, diz Katharina, mostrou também as possibilidades económicas de trabalhar para produtos de qualidade, orgânicos, e através disso seguir novos caminhos, “fora da caixa”, não dependentes dos subsídios. “Ver como se conseguem produtos de alta qualidade, no caso amêndoas, inovadores, num território com muitos desafios, foi também para nós uma inspiração”. Segundo Marta, “tudo isso ajudou-nos a pensar o que podíamos e queríamos fazer aqui, em Mértola. E o caminho foi esse: procurar soluções inovadoras, desde logo como trabalharmos a terra – na permacultura, na agricultura sintrópica, no fundo sob o grande chapéu da agroecologia”.
Para Katharina, a agricultura sintrópica é uma técnica entre muitas: “Não defendemos que agora vai ser tudo agricultura sintrópica. Foi uma das experiências, convidámos Ernst Gotsch como convidamos outras pessoas para nos ajudarem neste caminho e conversar abertamente com os agricultores para saber quais as ferramentas que eles podem utilizar e fazem sentido para eles. Nalguns casos pode funcionar bem a agricultura sintrópica. Por exemplo, já percebemos que ao nível das hortas mediterrânicas podemos usar esse sistema. Já na grande propriedade, pode ser esse o caminho mas também existem outros como o pastoreio holístico, até porque grande parte dos nossos agricultores faz também pecuária”. Katharina e Marta explicam que o sistema alimentar hoje obriga um agricultor a produzir para o mercado. “Isso, num território como este, é muito complicado. E fomos ver outras formas de nos organizar para produzir, de modo a que os agricultores de cá, em conjunto, produzam para o mercado local, pelo menos nos frescos (hortícolas e frutícolas)… A ideia é juntar os agricultores que já fazem esses produtos e abastecer as cantinas escolares”.