Dezanove novos médicos internos estão desde o início do ano a trabalhar na unidade de saúde do Baixo Alentejo. Dez fazem a sua formação geral, ao longo de um ano, e nove a formação específica, entre quatro e seis anos. Os responsáveis locais mostram-se satisfeitos e dizem que “é um acontecimento importante, uma vez que estimula a dinamização dos serviços clínicos e cria a possibilidade de fixação de médicos na região”. A formação será feita no hospital de Beja e em centros de saúde da região.
Texto Carlos Lopes Pereira
Fotos José Ferrolho
Já se encontram integrados desde 2 de janeiro, na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba), 19 novos médicos internos, 10 a fazer a formação geral, durante um ano, e nove a formação específica, com vínculos entre quatro e seis anos. Estes farão a sua formação específica nas especialidades de Medicina Intensiva (um), Psiquiatria (um), Pediatria (um), Medicina Interna (dois) e Medicina Geral e Familiar (quatro). O conselho de administração da Ulsba saúda a vinda dos médicos internos como “um acontecimento importante, uma vez que estimula a dinamização dos serviços clínicos e cria a possibilidade de fixação de médicos na região”. E lembra que o Hospital José Joaquim Fernandes, de Beja, “tem há muitos anos tradição em formação de médicos que se pretende manter com qualidade”.
Ângelo Mariano Ferreira, natural de Barcelos, no distrito de Braga, tem 34 anos. Primeiro tirou uma licenciatura em Enfermagem e foi trabalhar para o hospital de Portimão. Fez entretanto na Universidade do Algarve o mestrado em Medicina, que terminou em junho de 2019, e concorreu para Beja, para a formação geral. Falou ao “Diário do Alentejo” sobre a sua vinda para Beja: “Há uma candidatura nacional para esta formação, critérios de classificação, e em função disso que fazemos as nossas escolhas, entre 46 instituições no País. Temos de colocar todas as nossas preferências – e isso dá um trabalhão! No meu caso, a primeira opção foi o Centro Hospitalar e Universitário do Algarve, já lá estou há 11 anos, e a segunda opção foi a Ulsba, dada a proximidade e também por já conhecer algumas pessoas em Beja. No meu percurso profissional no Algarve conheci muitos profissionais naturais de Beja ou com ligações a Beja, e eu próprio vim muitas vezes a esta cidade, tenho muita simpatia por Beja, pelas suas gentes (e pela comida, que é muito boa…)”.
Clarifica que, na formação geral, ao longo de um ano, ele e os seus colegas fazem rotações em quatro especialidades – Cirurgia Geral, Pediatria e Medicina Interna, em contexto hospitalar, e Medicina Geral e Familiar, num centro de saúde. Após esse período, têm a possibilidade de ter autonomia médica mas, neste momento, estão sob a tutoria dos médicos da Ulsba, a fazer a etapa final da sua formação.
A instalação em Beja dos jovens médicos, sobretudo no que diz respeito ao alojamento, foi “um bocado complicada”: “É da nossa iniciativa, os resultados da candidatura saem em dezembro, a formação começa no início do ano, num prazo muito curto temos de resolver o problema. Foi de início difícil, tentei procurar um apartamento, a oferta não é muita ou, pelo menos, acessível. Mas a Ulsba disponibiliza algumas casas de função, aqui, ao lado do hospital, e acabei por conseguir uma, partilhada, com boas condições, o que nos permite uma adaptação mais fácil ao novo meio. É uma transição mais suave, ficamos com outros colegas do hospital, isso ajuda”.
Ficar em Beja a trabalhar, depois da formação? “É uma possibilidade, mas ainda agora estamos a chegar, a integrar-nos na cidade… Hoje em dia a prática médica não é adstrita a um único hospital e, havendo essa possibilidade no futuro, certamente será considerada, até porque vai estabelecer-se outro tipo de ligação a Beja durante este ano. É sempre bom voltar aos sítios onde somos felizes”, diz este minhoto a viver no Algarve e, agora, no Alentejo.
Sobre a fixação de médicos no interior do País, opina: “O que fixa os médicos numa unidade hospitalar é o período de formação específica. Por exemplo, os meus colegas vão passar cá em Beja cinco anos e a tendência para se estabelecer e fixar na cidade é maior do que fazer a formação e ter a vida organizada, estruturada, em Lisboa, no Porto, em Coimbra ou em Braga e virem para cá depois, enquanto especialistas, tendo que mudar a vida toda, para ganhar exatamente o mesmo. Em minha opinião, o segredo para a fixação de médicos no interior do País passa pelas vagas de especialidade, que são cada vez menos, há colegas a ficar sem vagas, que não chegam para toda a gente. Apesar de haver muitos médicos especialistas a reformar-se nos últimos anos, não havendo uma substituição dos que saem, uma renovação”.