Este projeto, porém, pode ainda ser importante para colocar em uso expressões mais antigas e, neste sentido, o projeto tem disponível um registo em glossário, que está disponível on line, nomeadamente na área do arquivo municipal na página eletrónica do Município de Sines (http://arquivo.sines.pt)”. A intenção é, segundo Fernando Ramos, “permitir a durabilidade da memória através destes vocábulos em relação ao seu contexto”.
Para cada vocábulo, na verdade, apresentou-se “citações dos falantes e, sempre que possível, foram relacionados com as fotografias e esquemas custodiados pelo Arquivo Municipal de Sines, quer no fundo da Câmara Municipal, quer em coleções de munícipes”. Desta forma, o seu contexto está preservado e pode sempre ser consultado e utilizado para investigação ou por simples curiosidade.
Com o projeto “Dizeres”, de acordo com o vice-presidente da Câmara Municipal de Sines, “foi possível recuperar muitos termos e a sua genealogia que a mudança acelerada do concelho nos últimos 50 anos tem posto em causa”. No entanto, foi possível ainda “divulgar os documentos do arquivo municipal em que estes dizeres e os contextos em que foram produzidos existem e foi também aos membros mais seniores das comunidades recordar as suas vivências e aprendizagens e partilhá-las com os mais novos, através de oficinas intergeracionais que terão continuidade ao longo de 2020”.
Na verdade, segundo a Câmara Municipal de Sines, “a comunidade tem sido uma grande entusiasta, e o projeto continua a receber contributos para futuras edições”.O projeto “Dizeres” inclui, assim, 329 expressões utilizadas pela população, no entanto, ao longo deste ano, foram recolhidas 625 unidades vocabulares. Estas 369 expressões foram as selecionadas como as mais significativas para a comunidade. Expressões, essas, que foram, muitas delas, trazidas pelas comunidades algarvia, setubalense e cabo-verdiana ou ainda pelos descendentes dos ílhavos.
Recorde-se que as comunidades locais de Sines sofreram várias alterações desde o século XIX motivadas pelos ciclos industriais e económicos, desde o ciclo da cortiça ao do turismo e, mais recentemente, o do complexo industrial. “A época contemporânea tem sido tempo de cruzamento de populações, culturas e tradições num pequeno concelho de apenas duas freguesias, situado numa área geográfica delimitada e afastada dos grandes centros urbanos portugueses, que cruza o litoral com o interior, entre a grande Lisboa e o Algarve, tendo como vizinhos os grandes concelhos alentejanos”, recorda o Arquivo Municipal de Sines. Que explica ainda que “num contexto de desenvolvimento social e económico que reúne tradição e modernidade, verifica-se que os ‘modos de dizer’ quotidianos se prendem com práticas e vivências tradicionais das comunidades fixadas em Sines antes dos anos 70, cujas atividades principais − a pesca ou a antiga transformação da cortiça − estão em regressão e, com elas, desaparecem também os falantes detentores da memória linguística e cultural mais ancestral”.
E deste glossário on line constam palavras como “carrega”, que normalmente é usada para o definir o marítimo que descarrega o peixe; “larido”, que se refere a uma zona rochosa onde há muito marisco; ou “barroca”, que diz respeito a uma pequena porção de terra. Ou também “caramujo”, que noutras regiões, por exemplo, é conhecido como burrié, mas que é também o nome atribuído aos habitantes de Sines. Projeto, este, que organiza ainda oficinas com o público escolar e o público senior, bem como com uma exposição que é itinerante e que vai percorrer o concelho, permitindo o contacto com estas expressões por outros públicos.