Há uma aldeia que está prestes a ser “invadida” por estudantes do IPBeja. Esta aldeia é São Brissos e o que se pretende, com o alojamento destes estudantes na antiga escola primária, é devolver vida a esta população e dividir os “ganhos” da vinda dos alunos que chegam, anualmente, à cidade de Beja para estudar. Missão: partilhar e receber conhecimentos. Numa verdadeira interação e intercâmbio entre diversas gerações. Porque em São Brissos o que está a nascer é mais do que uma residência para estudantes, é um projeto social.
Texto Bruna Soares Fotos José Ferrolho
Há uma escola, em São Brissos, que há anos que está desativada. Crianças já ali não correm, embora, tendo em conta a população da aldeia, até existam em número representativo. “Vivem mais de 50 pessoas nesta terra”, atira uma habitante. Na terra que tem o aeroporto de Beja aos pés. “Perto de 20 são crianças. É um bom número”.
“Quantas ruas terá a aldeia”? Quem o questiona são os alunos agora chegados numa carrinha do Instituto Politécnico de Beja (IPBeja). Há um homem, de boné envergado, que alvitra imediatamente: “Umas cinco”. E completa: “Mas temos café, junta de freguesia aberta, uma padaria e um restaurante”.
Nas ruas, empedradas com calçada e ladeadas por casas baixas, vão-se avistando habitantes. Pessoas que saem e entram, ora do referido restaurante, ora do referido café, e mulheres que se assomam às portas. Gente que se junta também pela curiosidade da chegada de uma carrinha com jovens dentro. “São estas rapariguinhas que vêm para cá viver?”, interroga Delfina Rosário, 89 anos feitos, conhecedora da novidade que rapidamente se espalhou aldeia fora.
É que na escola, onde os alunos da terra já não se sentam para aprender as primeiras letras, a ler ou fazer contas de somar e de subtrair, vão começar a viver estudantes do IPBeja. E eis que os que chegam, na verdade, numa carrinha para uma primeira visita a São Brissos, serão, em breve, os seus novos habitantes.
Integram o projeto “Estudantes na Aldeia”, fruto de um protocolo celebrado entre o IPBeja e a União de Freguesias de Trigaches e São Brissos. Um projeto, porém, que “não são camas e alojamento. É, sim, interação social”. Quem o afirma é Eduardo Pelado, responsável local por esta iniciativa e primeiro vogal da referida união de freguesias.
Na escola encerrada, à partida, não se avista ninguém, mas escutam-se ruídos vindos do seu interior. É um berbequim a furar as paredes. E, uma vez lá entrados, são obras ininterruptas que se encontram e a prosseguir a bom ritmo. Obras, estas, que se espera que estejam concluídas ainda antes do Natal. Por esta altura, já a escola deverá estar, assim, transformada em residência.