A extração da cortiça é uma das atividades mais rentáveis do montado, sobretudo na região mais oeste da Península Ibérica. A cortiça extrai-se da árvore a cada nove anos, embora a primeira extração numa árvore jovem não possa ser realizada até aos 25 ou 30 anos. Por isso, na Coitadinha querem desenvolver um método que reduza estes prazos. José Carlos Ruivo é o encarregado de regar durante três horas diárias os 250 sobreiros, cuja plantação – há cinco meses – teve um índice de êxito em relação a 75 por cento das árvores. Para que a primeira extração se possa fazer quando as árvores tenham cerca de 15 anos, decidiram que, em vez de o crescimento decorrer sob um sistema de sequeiro, irão usar água para acelerar o seu processo vegetativo.
"Regamos três horas ao dia e cada planta recebe uma média de 15 litros diários", aponta Ruivo. Além disso, conseguiram rentabilizar a água com a utilização de uma bomba solar. Outra das ações piloto centra-se em manter a erva na nova área de sobreiros com um fim duplo: preservar a humidade e a propriedade do solo. O Montado Boyal de Villasbuenas de Gata, localidade espanhola do norte de Cáceres, é outro dos centros experimentais do projeto, onde se criaram uma série de “mosaicos” florestais com diferentes espécies, como alternativas de produção ao atual sistema de montado. Entre as experiências estão a plantação do tagasaste (Cytisus proliferus), um arbusto que é original das Ilhas Canárias, "muito interessante, porque pode dar comida ao gado em época em que não a há", explica o vice-presidente da Câmara de Villasbuenas de Gata, Luis Mariano Martín. Esta planta, que já é usada noutras zonas do planeta, tais como a Austrália, para fornecer forragem ao gado, "tem muitas proteínas e vitaminas”, pelo que se está a fazer um pequeno teste com ela.
"Há vida além da oliveira", assegura Marín sobre a produção da azeitona da Extremadura e do Alentejo, defendendo que pode ser compatibilizada com outras alternativas. Para tal criaram plantações de aveleiras, de amendoeiras ou de castanheiras livres da doença da tinta, entre outros, para comprovar a sua adaptação e rentabilidade, junto com áreas nas quais iniciaram a plantação de plantas de frutos vermelhos, especialmente as de mirtilos. "O objetivo é procurar alternativas que sejam viáveis para que as pessoas possam ficar a viver na sierra de Gata (norte de Cáceres), e também procuramos que as herdades (montados) abandonadas possam ser semeadas, que não estejam cheias de silvas e monte baixo, porque no final os incêndios propagam-se por elas", conclui. O novo conceito de devesa procura um modelo baseado na ecologia e vê no turismo outro eixo de desenvolvimento.
Um dos montados parceiros do projeto, a herdade Freixo do Meio, no Alto Alentejo, criou uma série de produtos ecológicos inovadores baseados no valor agregado da bolota. Na sua loja online pode-se comprar pão e tostas de bolota ou carnes de bovino, ovino e suíno, sempre com a certificação ecológica. Diogo Nascimento lembra que a ecologia é incompatível com o uso dos produtos fitossanitários, algo que todo o habitat do montado agradece. O uso dos herbicidas é muito nocivo para os ciclos vegetativos e animais, já que reduz a avifauna da devesa e, definitivamente, altera o seu ecossistema. O turismo é outro dos desafios que representarão um valor agregado à exploração do montado – um passeio entre azinhais, o sol que se esconde entre o rio Ardila e o castelo de Noudar ou a sinfonia de perdizes enquanto José Carlos Ruivo rega os sobreiros ao entardecer fazem parte das paisagens mais autóctones da Península Ibérica.