Diário do Alentejo

Legislativas: As apostas dos partidos por Beja

04 de outubro 2019 - 18:05

Uns vieram em pré-campanha; outros em campanha eleitoral. Todos os líderes dos partidos com representação parlamentar passaram pelo distrito de Beja nas últimas semanas, deixando palavras mobilizadoras para os diversos eleitorados: António Costa (PS) diz-se “inconformado”, Jerónimo de Sousa (CDU) está contra o “fantasma” da maioria absoluta dos socialistas, Rui Rio (PSD) diz “preferir as convicções aos votos”, Catarina Martins (BE) defende que “faltam respostas” para os problemas do Baixo Alentejo, Assunção Cristas (CDS) quer “o máximo possível de dinheiro nacional” na agricultura e André Silva (PAN) não abdica do fim das touradas.

 

Texto Luís Godinho

 

PS QUER SEGUNDO DEPUTADO Se é certo que as eleições são ganhas por quem tem mais votos e elege mais deputados, para o PS do Baixo Alentejo o resultado do próximo domingo poderá, no entanto, ser aferido segundo outros indicadores. Um bom resultado será ter mais votos, ou pelo menos uma percentagem de votos superior à das últimas Legislativas no distrito (37,29 por cento). Um resultado excelente seria conseguir a eleição de um segundo deputado por Beja – há quatro anos faltaram 1100 votos mas, nessa altura, ao contrário do que sucede desta vez, PSD e CDS concorreram coligados, o que permitiu a eleição de Nilza de Sena. “O PS vai para estas eleições de consciência tranquila, esperando aumentar o número de votos e esperando que os baixo-alentejanos reconheçam o trabalho feito nos últimos quatro anos”, resume Pedro do Carmo, novamente cabeça de lista por Beja.

António Costa passou pelo distrito em pré-campanha, a 16 de setembro, não tendo fugido a três temas que marcaram a campanha e o tom das críticas à governação socialista dos últimos quatro anos: aproveitamento do aeroporto, acessibilidades rodoviárias e eletrificação da ferrovia. “Quando olhamos para o que acontece no aeroporto de Beja só podemos mesmo dizer: é preciso fazer mais, é preciso fazer melhor, porque não nos conformamos com o que acontece no aeroporto de Beja”, disparou o secretário-geral do PS, num comício realizado frente ao Museu Regional de Beja durante o qual voltaria a dizer-se “inconformado”, mas, agora, com o estado das estradas. “Já quando vemos o atraso no desenvolvimento dos acessos rodoviários aqui no distrito nós dizemos: é preciso fazer mais, é preciso fazer melhor, porque não nos conformamos com o estado em que estão os acessos rodoviários ao distrito de Beja”. Quanto à ferrovia, lembrou que a eletrificação do troço entre Casa Branca e Beja se encontra inscrita no plano nacional de infraestruturas para ser concretizada entre 2021 e 2025. A “ambição” do PS, disse António Costa, é “poder fazer em menos tempo, mas nunca, nunca mais atrasar essa obra, que já tarda há muito” em ser concretizada.

 

CDU APELA AO VOTO ÚTIL A frase foi dita por Jerónimo de Sousa em Vidigueira: “No início aqui deste almoço, um amigo que está presente saudava-nos e dizia ‘sou socialista, mas eles ultimamente não se andam a portar bem’. Deu-nos força, deu-nos alento”. Por duas vezes no distrito de Beja durante a campanha eleitoral, e à semelhança do que tem sido uma das linhas de força da campanha da CDU, Jerónimo insistiu no que de positivo resultou do apoio comunista à solução de governo saída das últimas Legislativas mas, sobretudo, na crítica ao que apelida de “fantasma”: a possibilidade de uma maioria absoluta do PS. “Haja crise real ou crise fictícia, sempre, mas sempre, são os mesmos a pagar, ou seja, os trabalhadores e o povo (…) avançar é preciso. Não deixar o PS de mãos livres para fazer aquilo que muito bem entender”, sublinhou Jerónimo de Sousa.

 

Nas últimas três eleições nacionais (Legislativas de 2011 e de 2015 e Europeias de 2019) a CDU alcançou no distrito de Beja um resultado à volta dos 25 por cento, suficiente para assegurar a eleição de um deputado. Na noite de domingo, a análise ao resultado da CDU far-se-á à luz de três critérios: o resultado obtido nas urnas, a existência ou não de uma maioria absoluta do PS e a relação de forças entre comunistas e bloquistas. Há quatro anos, a lista foi liderada por João Ramos, que renunciou ao mandato por razões de natureza pessoal. João Dias estreia-se, assim, como cabeça de lista por Beja, tendo insistido num discurso segundo o qual o diagnóstico dos problemas está feito, falta vontade para os resolver: “Este abandono é propositado e exemplo disso é o troço do IP8/A26, que está concluído e encerrado, ou a eletrificação ferroviária entre Casa Branca e Funcheira para a qual o Governo PS disse ir encomendar um estudo, mas que afinal já está feito há quatro anos”.

 

Jerónimo de Sousa esteve em ações de campanha em vários concelhos, com almoços em Aljustrel e Vidigueira, comício em Beja e jantar-comício na praça da República, em Serpa, onde acusou os socialistas de quererem ficar “com as mãos livres” resultantes de uma maioria absoluta.

 

PSD COM MISSÃO DIFÍCIL Há mais dúvidas do que certezas entre os sociais-democratas. Dúvidas sobre se o partido conseguirá manter o deputado por Beja, num cenário em que se multiplicaram as candidaturas à direita, com a ida a votos do Aliança, da Iniciativa Liberal e do Chega, e em que o CDS corre em pista própria. Dúvidas sobre se o que sucedeu nas Europeias – em que o PSD ficou 20 votos atrás do Bloco de Esquerda, descendo para quarta força política no distrito – se irá ou não repetir no próximo domingo. Dúvidas sobre o impacto das divergências internas, expressas nas últimas eleições distritais, nos resultados destas Legislativas. Em fevereiro passado, numa entrevista ao “Diário do Alentejo”, o líder do PSD/Beja, Gonçalo Valente, resumia o que está em causa no próximo domingo: “Não nos passa pela cabeça perder o deputado que elegemos (…) Se já temos pouca expressão e uma voz diminuta, perdendo essa voz ficamos sem nada”.

Henrique Silvestre Ferreira, o empresário agrícola que Rui Rio tirou da “cartola” para liderar a lista por Beja, mostra-se “otimista” com os “sinais da campanha” que marca a sua estreia na política partidária: “Quando falei com o presidente do partido já estava decidido a aceitar este desafio, devido à existência de um certo sentimento de abandono por esta região”.

 

Foi em Beja, a 25 de setembro, que Rui Rio teve o primeiro contacto com a população durante a campanha eleitoral, num passeio de 20 minutos que incluiu um café no Luiz da Rocha e a entrada numa casa da sorte onde o presidente social-democrata explicou porque prefere arriscar no Totoloto em vez do Euromilhões: “A probabilidade de sair é maior e para que é que eu quero 190 milhões? Se me saírem três milhões já chega e sobra”. Na campanha pelo Alentejo, Rui Rio deu um passeio de barco pelo empreendimento de Alqueva, para depois garantir que está nesta “luta” mais por convicções do que por votos. “Temos de pôr à frente as nossas convicções e o que é justo, e não o que dá mais votos. Temos de explicar que estamos a querer ser justos, e não eleitoralistas. Quando eu acredito que tem de ser, eu faço. Posso cair, mas quando caio, caio de pé, não dobro”, referiu.

 

BLOCO LUTA PELO TERCEIRO LUGAR O resultado obtido nas últimas eleições europeias – em que o Bloco de Esquerda, com 8,86 por centos dos votos, se tornou na terceira força política no distrito de Beja – galvanizaram a candidatura de Mariana Aiveca. O objetivo, assumido pela estrutura do partido, é reafirmar esse resultados nas legislativas, relegar o PSD para a quarta posição e – quem sabe? – concorrer para a eleição de um deputado por Beja. Não sendo fácil uma vez que o BE teria de, pelo menos, duplicar a votação obtidas nas Legislativas de 2015, nem por isso deixa de ser uma meta: “[Nestas eleições] estando garantido o deputado do PCP, a escolha que está em cima da mesa é entre eleger, pela primeira vez, uma deputada do Bloco de Esquerda ou um segundo deputado do PS. O Bloco quer entrar declaradamente nesta disputa”, disse ao “Diário do Alentejo” o responsável pela coordenação distrital do BE, Alberto Matos.

 

Apontando a resposta às alterações climáticas como primeira prioridade – “só é possível combater as alterações climáticas com uma nova dinâmica económica, com novas propostas para a economia” –, Mariana Aiveca defende que a população do Baixo Alentejo deve ser indemnizada pelo facto do troço da A26 entre Figueira de Cavaleiros e o nó da A2, em Grândola, estar concluído e permanecer encerrado ao trânsito: “Esta situação, que se arrasta há quatro anos, é absurda e uma ofensa para quem vive na região. Entendemos que a A26 deveria ser aberta ao tráfego e sem portagens, como forma de indemnizar as populações”.

 

A coordenadora do BE, Catarina Martins, passou por Beja na pré-campanha eleitoral, tendo realizado um comício onde participaram, entre outros, o arqueólogo Cláudio Torres e o historiador Fernando Rosas. O discurso centrou-se na falta de investimento no Baixo Alentejo: “Aqui em Beja lutou-se tanto e ainda falta a resposta. Falta a resposta na rodovia, falta a resposta do comboio. É preciso investimento em todo o País, pois é isso que torna a economia mais forte”.

 

CDS APOSTA NA AGRICULTURA Há todo um “universo” a separar os 5462 votos obtidos pelo CDS no distrito de Beja em 2011 (último ano em que foi a votos, sozinho, em eleições legislativas) dos 1444 votos registados nas Europeias do passado dia 26 de maio. Afinal, quanto vale eleitoralmente o CDS no distrito de Beja? Quando no próximo domingo forem abertas as urnas e contados os votos, saber-se-á o peso eleitoral do  partido liderado por Assunção Cristas que, desta vez, se apresenta a eleições sem coligação com o PSD e tendo Inês Palma Teixeira como primeiro nome da lista. Serão eleições em que os centristas se apresentam “pressionados” por outros partidos, como a Iniciativa Liberal. Ora, falar de Iniciativa Liberal, em Beja, é também falar da advogada Leonor Dargent, cabeça de lista, cujo pai, Luís Dargent, é um dos dirigentes “históricos” do CDS no distrito.

“Esta campanha [do CDS] tem sido uma oportunidade muito grande de expor não só ideias nacionais como outras próprias para o distrito”, escreveu Luís Dargent na sua página de Facebook, acrescentando que aos assuntos que dominaram a campanha - aproveitamento do aeroporto de Beja, eletrificação da linha ferroviária e abertura ao tráfego da A26 – se somam a necessidade de “criar condições para que os médicos se fixem”, ainda que para estadias temporárias, e a defesa dos agricultores e do mundo rural contra os “constantes ataques” de que são alvo, “muitos deles sem sentido”. “Beja tem um potencial enorme, não só pelas características únicas do distrito, como pelas pessoas que lutam para criar mais emprego e mais investimento”, sublinhou.

 

Assunção Cristas passou por Beja na pré-campanha, tendo defendido o reforço de verbas do Programa de Desenvolvimento Rural (PDR) 2020. “Este reforço é necessário para que possamos aproveitar as verbas comunitárias, injetando o máximo possível de dinheiro nacional neste setor, que é um setor vivo, dinâmico, exportador, que fez um grande trabalho nos últimos tempos e que precisa de continuar a fazer”, disse a dirigente centrista.

 

PAN QUER SUBIR VOTAÇÃO Nas Legislativas de 2011, o PAN – Partido das Pessoas, dos Animais e da Natureza obteve 533 votos no distrito de Beja. Quatro anos depois não passou dos 608 votos. Nas últimas Europeias, apesar do número de votantes ter caído para metade em resultado de uma abstenção na ordem dos 68 por cento, conseguiu quase que duplicar os votos: 1181 (2,97 por cento). Em Barrancos continua a valer o mesmo: zero votos. O que talvez não seja de estranhar quando a candidata do partido pelo Baixo Alentejo se diz empenhada em “continuar a trabalhar pelo fim das touradas”. Na sua primeira incursão pela política, Inês Campos, especialista em alterações climáticas, diz que o PAN veio “mudar as regras do jogo”, representando um “novo paradigma político, que reconhece que para se resolverem problemas complexos é preciso (pôr em prática) soluções integradas, nas quais todos os setores da sociedade têm um papel crucial a desempenhar”.

 

“Não se pode pretender reabilitar os solos do Alentejo e, em simultâneo, permitir as culturas intensivas e uma política de exploração económica e a agricultura industrial, que sistematicamente arrasa com os pequenos agricultores e promove o despovoamento”, acrescenta a candidata.

 

O líder do PAN, André Silva, dedicou um dia de campanha ao Baixo Alentejo, com iniciativas em Sines (onde criticou o transporte de animais vivos), em Santiago do Cacém (com críticas ao olival intensivo) e em Castro Verde, onde visitou o projeto de conservação da Liga para a Proteção da Natureza e realizou uma ação de rua. “Na última campanha o ambiente e as alterações climáticas eram um tema que não estava nem na agenda social nem na agenda política. Hoje são cada vez mais as pessoas de todas as faixas etárias que têm essa sensibilidade, essa preocupação e que reconhecem no PAN esta causa”, rematou André Silva.

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