Nasceu aí o TSF à Mesa, programa que passa na rádio, diariamente, de segunda a sexta, de manhã e ao fim da tarde. “É um formato que não é erudito, não é um programa de receitas e também não transforma a gastronomia num espectáculo”, diz o autor explicando que se trata “de um guia de restaurantes para o dia-a-dia, mais inovadores ou mais tradicionais, de sítios em que não se vende gato por lebre”. E, acima de tudo, que tenta contar um pouco da história de quem possa estar por detrás do negócio. É claro que nem sempre acerta: “Muitas vezes vou a restaurantes de que não vale a pena falar”, confessa. E como está a culinária portuguesa quando comparada com a de outros países? “Não lhes fica atrás, mas temos pouca auto-estima”. Apesar de tudo existem mudanças, “abolimos os farta-brutos, já não é esse o perfil dos restaurantes portugueses”, constata Catarino.
Quanto a Lisboa e Porto a arte dos tachos “regrediu e são cada vez menos as casas que mantêm o paradigma da cozinha tradicional”. No entanto, no geral, “no que toca à mesa, Portugal é um território agregador. A gastronomia vive muito das dificuldades de cada região, quanto mais pobre é a região maior é a capacidade inventiva”. É o caso do Alentejo que “cumpre, no essencial, as receitas tal com se faziam”, o que é bom, dizemos nós. Neste momento, em antena está uma espécie de best-off dos 1096 programas até aqui realizados. Estão todos online, na página da TSF, mas infelizmente não estão organizados por regiões, o que dificulta a consulta.
Por essa razão “há quem telefone para a rádio” para tentar descobrir um determinado local. Este problema tenderá a ser ultrapassado quando for editado o guia com uma “selecção nacional” de entre todos os locais visitados. Ainda não há data para a publicação, mas deverá ocorrer durante o próximo ano. Mas nem só os ouvintes estão atentos às crónicas comerísticas de António Catarino. Nos últimos dois anos, o TSF à Mesa foi nomeado pela Associação de Hotelaria, Restauração e Similares (Ahresp) para os prémios que distinguem os vários players do sector.
Até o livro estar disponível, para abrir o apetite, vá ouvindo diariamente na TSF ou consulte os programas no referido site (www.tsf.pt), já agora acompanhado de um bom vinho alentejano que António Catarino considera terem “grande potencial”, desde que cada um mantenha as suas característica e consigam resistir à tentação de desatarem “a fazer vinhos iguais”.
Um alentejano total “exilado” no Porto
Apesar de ter passado a maior parte da sua vida no Porto, António Catarino não têm dúvidas de que quem nasce alentejano será sempre alentejano. E, no caso dele, as raízes são de alto e do baixo. O pai, Francisco Alves Catarino, nasceu na zona de Montemor-o-Novo. Funcionário público, foi colocado na Cuba, local onde haveria de conhecer Maria da Conceição Horta e com quem havia de casar. Colaborador do “Diário do Alentejo”, fez a cobertura para o jornal dos Jogos Olímpicos de 1952, em Helsínquia, onde ficou amigo de Moniz Pereira. Por seu lado, a família da mãe, que já nasceu cubense, tem as suas origens em Vila Nova de S. Bento, Serpa.
Foi de lá que o avô paterno saiu ainda menino para trabalhar num depósito de tabaco, na Cuba, loja de que mais tarde se tornaria proprietário, e onde trocava umas lérias com Fialho de Almeida, um dos distintos clientes. António Catarino, benfiquista, nascido em terra de sportinguistas e a viver desde os 18 anos no reino do dragão, volta regularmente ao seu Baixo Alentejo. E para fazer a quadratura do círculo, em breve voltará à casa de partida, passando a publicar no “Diário do Alentejo” algumas das crónicas de que falamos no texto.