Há 75 anos, a 9 de maio de 1950, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Robert Schuman, fazia aquela que ficou conhecida como a “Declaração Schuman”, em que era proposta a criação da Comunidade Europeia do Carvão e Aço (CECA). Nesse momento dava-se início ao que viria a ser a União Europeia. Setenta e cinco anos passados, o “Diário do Alentejo” acompanhou uma comitiva da Escola Secundária de Serpa, “Escola embaixadora do Parlamento Europeu”, numa visita a Bruxelas, onde os alunos puderam conhecer o trabalho da instituição, a história europeia, mas também refletir sobre o que é isto de se ser cidadão de uma comunidade supranacional. Hoje, dia 9, assinala-se o Dia da Europa.
Texto | Marco Monteiro CândidoFotos | Ricardo Zambujo
No passado dia 28 de abril, o autocarro de 50 lugares partiu de Serpa rumo a Faro. Por motivos distintos do âmbito da viagem, esse dia iria ficar marcado na história recente do País, mesmo que, por essa altura, ainda ninguém fizesse ideia do que iria acontecer. Pouco depois das 09:00 horas, o autocarro praticamente cheio arrancou de Serpa. Em Beja, junto a uma das rotundas da cidade, havia de fazer uma rápida paragem para apanhar uma das professoras acompanhantes do grupo, mas também a equipa do “Diário do Alentejo”.
Trata-se de uma viagem a propósito do programa “Escola embaixadora do Parlamento Europeu” (EPAS), do qual a Escola Secundária de Serpa faz parte, sendo uma das duas do distrito de Beja (Aljustrel completa o duo).
Na estação de serviço de Almodôvar, uma breve paragem para esticar as pernas e comer qualquer coisa. Enquanto esperam, alguns alunos começam a cantar. “Casa”, “Um dia hei de voltar”, músicas inspiradas no cancioneiro de modas alentejanas, ou, a mais tradicional, “A moda do chapéu”. As vozes fundem-se, em uníssono. Os seis alunos, junto à entrada do autocarro, mais a voz grave do senhor Manuel, de 80 anos e um dos quatro representantes da Universidade Sénior de Serpa. Foi a primeira vez que o cante se fez ouvir nesta viagem. Mas não seria a última. Por muito que se saia do Alentejo, o Alentejo nunca sai dos alentejanos, deem-se as voltas que se deem. “Estou farto de cantar a ‘Serpa de Guadalupe’”, diz um dos alunos. “Mas é das mais bonitas”, retorque Manuel.
Entretanto, alguém solta “Roubei-te um beijo”. Os restantes alunos e professores regressam ao autocarro. A viagem prossegue. “São os periquitos alentejanos”, alguém diz, entre risos. Está batizado o grupo.
A chegada ao aeroporto de Faro acontece com os ecos iniciais do apagão que estava a atingir Portugal. Nos primeiros minutos, a informação, esparsa, é insuficiente, não fornece grande luz sobre o que se está a passar. Tudo parece estar a funcionar normalmente. Aparentemente. Apenas um dos painéis das partidas e chegadas permanece apagado. No controlo de segurança, nem sinal da falta de energia elétrica generalizada que paralisa o País. Passado esse ponto, mesmo antes das portas de embarque, novo sinal. Ou falta dele. Muitos dos cafés, pastelarias locais, para uma refeição ligeira antes da partida, têm as luzes desligadas, funcionando quase a meia-luz, na penumbra. Alguns dos estabelecimentos nem conseguem vender qualquer produto, visto terem o sistema de faturação em baixo.
São 14:00 horas e sensivelmente por esta hora a comitiva embarca no avião que há de levantar voo rumo a Bruxelas cerca de meia hora depois. Nesse período de tempo, as comunicações por telemóvel e o acesso à Internet tornam-se mais difíceis. Até que se tornam quase inexistentes. O avião parte. Bruxelas está no destino e um país apagado e paralisado fica para trás.
Por volta das 18:00 horas portuguesas (mais uma na Bélgica), o grupo aterra em terras de Tintim. Notícias de Portugal? Muito poucas ou nenhumas. As redes de comunicação móveis belgas também têm constrangimentos. Instalado no hotel, o grupo parte em busca de reconfortar o estômago, enquanto se esperam notícias de casa e se prepara o descanso para a visitar ao Parlamento Europeu (PE) no dia seguinte.
Integração europeia como reflexo de cidadania “Temos ajuda dos outros países, apoio... Abre os horizontes”. Ao mesmo tempo, “conviver com mais pessoas”, ter “contacto com outras experiências e outras culturas”, permitir-lhe-á ficar “mais preparada para a vida”. As palavras, tímidas, são de Joana Cruz, de 15 anos. É um dos elementos mais novos, os benjamins – algo que acontece pela primeira vez neste ano letivo – do projeto EPAS da secundária de Serpa. É nas escadarias da Casa da História Europeia, no coração de Bruxelas – depois de uma visita que o grupo fez a este museu –, que a jovem aluna entende ser importante ter uma noção de cidadania e de integração no espaço europeu, algo que muitas vezes, assume, os jovens da sua idade não têm.
Também com 15 anos e estudante do 9.º ano, Tiago Correia considera ser fundamental o papel da União Europeia (UE) para os países que a integram, nomeadamente, no que diz respeito às “ajudas monetárias”. Espelho da tenra idade que tem, apesar de admitir a importância da mesma, Tiago confessa que ainda não refletiu – ou se apercebeu – da dimensão da integração europeia na sua vida e dos jovens da sua idade. Mas, sempre lá vai dizendo: “É sempre melhor para Portugal [estar integrado], já que tem sempre mais ajudas, até de defesa e segurança. E é sempre melhor ouvirmos as ideias dos outros países, para melhorarmos o bem-estar e a vida dos portugueses”.

A visita à Casa da História Europeia aconteceu a meio da tarde do segundo dia em Bruxelas. Bem mais cedo, o destino foi o PE, propriamente dito. O grupo iria encontrar-se com o eurodeputado do PCP, João Oliveira, que havia remetido o convite para uma visita por parte da Escola Secundária de Serpa, enquanto instituição de ensino embaixadora do PE. Na comitiva, para além da presença dos professores acompanhantes e também de uma comitiva da Universidade Sénior de Serpa, os alunos. A particularidade e pertinência da visita levaram a que, para além dos estudantes do ensino secundário que integram o projeto, fossem também alunos do 9.º ano (os benjamins), mas também alguns jovens que já terminaram a escolaridade obrigatória, mas que haviam passado pelo mesmo projeto em anos anteriores, muitos deles a frequentar ou a terminar o ensino superior.
A sala, que mais parecia um pequeno auditório, depressa se encheu com a comitiva alentejana. Ainda antes de o eurodeputado dar as boas vindas ao grupo, um dos alunos, a solo, no estrado defronte para a plateia, entoa: “Mas que dia tão bonito”, moda a recordar o dia em que o cante alentejano foi consagrado como património mundial. A melhor forma para, em pleno coração da UE, a “jovem embaixada alentejana” dar início aos trabalhos. E foi a partir daí que os alunos puderam saber mais, in loco, de como funciona o PE, quais as suas funções e competências, como se organiza e qual a sua importância na vida dos cidadãos europeus. Portugueses incluídos.
À medida que a idade avança, também a perceção da importância da UE, do papel dos países e dos cidadãos nesta grande comunidade, se vai consolidando. Mas também a sua consciência cívica. “A UE é essencial. Ainda bem que Portugal está na UE. Com estes eventos, estas atividades, cada vez me apercebo mais do impacto que a UE tem. Como Portugal é um país muito pequeno e não tão desenvolvido como os outros países da Europa, obviamente que seria necessária uma maior atuação da UE no nosso país”, nomeadamente, em termos de melhorias para fixar os jovens em Portugal, sublinha Mafalda Mósca, de 17 anos, estudante no 11.º ano. “Sinto que a minha geração vai tentar mudar a realidade em que vivemos. Tem outros ideais e outras ideias para tentar melhorar o País, porque estamos fartos de ver que as coisas não melhoram. (…) Temos ideias muito diferentes, por tudo o que já vimos e vivemos. Passámos por uma pandemia, por imensas coisas que nos fizeram mudar de perspetiva”.
Carolina Barradas também tem 17 anos e está igualmente no 11.º ano. “A UE é uma organização extremamente importante nas nossas vidas e está presente em tudo o que fazemos, nomeadamente, no nosso país”. No entanto, defende que lhe deve ser dada ainda mais importância. “Os jovens não ligam tanto. Os que andam comigo no projeto EPAS não, mas não ouço muito os outros falarem neste assunto. Como estão muito habituados às coisas, talvez não sintam essa falta, mas nós, como estamos no projeto, vemos essa importância e temos essa consciência”.
“O PE tem uma ação muito importante nas nossas vidas, mas penso que os jovens ainda não estão muito interessados em participar na vida política e julgo que devíamos ser mais incentivados”. É Laura Paisana, de 16 anos e que estuda no 11.º ano, que o diz. “Com este projeto fui descobrindo aos poucos o que é o PE e olho com esperança para que a política que se vai fazendo seja cada vez mais adequada às faixas etárias mais jovens. Acho que nos reserva um papel muito risonho”. Não obstante, julga saber o porquê do desinteresse frequente dos jovens por estas matérias. “Aos 16 anos, acho que ainda não há uma sensibilização para o jovem que ainda não é maior de idade. Visto que não pode votar é dito: ‘Não tens voz, não podes participar’. Mas há outras ações que podemos fazer”.
Como a ação de sensibilização para a importância das Legislativas, prevista para hoje, 9, Dia da Europa, por parte da Escola Secundária de Serpa.
Depois da receção e explicação do funcionamento do PE chegou um dos momentos mais aguardados pelo grupo: a visita ao plenário. Numa das galerias dos visitantes, os alunos puderam saciar a curiosidade sobre o local que tantas vezes viram na televisão. Menos imponente do que o plenário de Estrasburgo, em França (onde está a sede oficial do PE, apesar de os eurodeputados desenvolverem dois terços do seu trabalho em Bruxelas), a sala não deixou de marcar o grupo, até pelo fervilhar de nacionalidades que por ali acontece. Próxima paragem: Parlamentarium, um museu interativo, em que é explicado “o caminho rumo à integração europeia, o funcionamento do PE e o que os seus deputados fazem para dar resposta aos desafios da atualidade”, pode ler-se na descrição do “maior centro de visitantes parlamentar da Europa”.

Para David Fernandes, de 20 anos, antigo aluno da secundária de Serpa, que também pertenceu ao projeto, o papel da UE é, acima de tudo, o de moderadora. “A minha resposta pode ser algo redutora, também derivado aos eventos recentes que têm acontecido, concretamente, nos Estados Unidos da América, na Ucrânia e na Palestina/Israel, mas também a nível interno, com a subida das opções extremistas, olho um pouco para o papel da UE como um papel moderador e, no fundo, como se fosse um farol naquilo que diz respeito aos valores morais e sociais que temos de ter”. David tem o objetivo de ingressar no curso superior de Relações Internacionais, sintoma de que estas questões lhe interessam e de que olha para elas de uma forma mais ponderada.
“A UE acaba por ser um exemplo do que devemos seguir no sentido da legislação, um agente moderador no que acaba por ser um mundo muito perigoso neste momento”.
E reforça a importância da integração e da coesão para os desígnios nacionais. “Nós temos um país a várias velocidades, como temos uma UE a várias velocidades, e a forma como esta olha para a resolução das várias velocidades é, certamente, algo para que nós, portugueses, devíamos olhar para resolver as nossas diferentes velocidades”.
O jovem estabelece, apesar de tudo, uma diferença entre a sua geração e as seguintes, confessando ter pouca esperança no que observa. “Noto uma queda naquilo que é a qualidade da obtenção de informação por parte das gerações mais novas do que eu e assusta-me porque vejo-os a fazerem asserções muito perigosas no mundo em que vivemos. Vejo com mais cautela… No fundo, é o resultado do mundo em que viveram, um mundo pandémico, muito agarrado às tecnologias, à desinformação e isso agora está a ter um impacto”.
Um ano mais velha, com 21, Leonor Coelho está a terminar o curso de Direito, preparando-se para entrar no mercado de trabalho. E esta circunstância molda decisivamente a sua visão sobre a importância da integração europeia na vida dos cidadãos. “A UE tem um imenso potencial, especialmente, para nós, portugueses. Quando olhamos para outros países da Europa, é um mundo de oportunidades, especialmente, na diminuição das assimetrias regionais e sociais. E, depois, as oportunidades que temos, enquanto jovens”. Pelas experiências académicas que teve, fora do País, reconhece o papel que a UE tem desempenhado na sua vida. “Todas as grandes oportunidades que tive na minha vida foi a UE que deu e reconheço isso. No meu ponto de vista, a UE traz todas essas possibilidades que são incríveis”.

Quanto à forma como os jovens efetivamente olham e têm consciência desse papel da comunidade europeia nas suas vidas, profissionais, mas também enquanto “cidadãos do mundo”, Leonor refere que poderá ser uma questão do momento. “Os jovens estão um bocadinho distantes do que a UE faz por eles até chegarem à altura em que podem, efetivamente, beneficiar disso”, refere, dando, como exemplo, o estudar noutro país ou na altura de entrar no mercado de trabalho, numa perspetiva europeia e não apenas nacional.
“A não ser que se faça este trabalho, como se faz com estes miúdos, de os trazer ao PE, de lhes explicarem, de verem efetivamente o que isto pode fazer por eles e de falarem com os deputados (…), sem esse trabalho de consciência, que é muito importante, diria que os miúdos sentem isto de uma forma um bocadinho mais distante”.
Laura Pimenta, de 23 anos, a tirar um mestrado de Estudos Internacionais, está pela primeira vez em Bruxelas, apesar de já ter visitado a sede do PE em Estrasburgo. E se há coisa que valoriza e preza no seio da UE é a questão da mobilidade. “Esta livre circulação traz-nos muitos benefícios. A UE é uma instituição que é um pouco mais legislativa e a falta do tal direito de iniciativa, às vezes, pode deixar só um pouco pelas palavras, e não pelos atos, em termos internacionais. Mas, no geral, encaro com algo muito positivo e que devemos, enquanto jovens, valorizar bastante. (…) Acrescenta sempre algo novo ao que temos no nosso país”.
O projeto EPAS em Serpa Segundo a informação disponibilizada pelo PE, o programa EPAS “visa sensibilizar os alunos para a democracia parlamentar europeia, o papel do PE e os valores europeus. Incentiva também os alunos a participarem ativamente nos processos democráticos da UE. Destina-se a alunos provenientes de diferentes horizontes no que respeita a percursos escolares, meios sociais e origens geográficas”. Neste contexto, a Escola Secundária de Serpa integrou este programa há cerca de 10 anos e a professora de português, literatura portuguesa e francês, Maria João Brasão – coordenadora dos programas, projetos e clubes do Agrupamento n.º 2 de Escolas de Serpa – sublinha a importância de um programa como o EPAS, no que diz respeito à consciência cívica dos jovens. “É um facto que a partir do momento em que a escola se tornou embaixadora [do PE], as questões europeias começaram e têm sido tratadas e há uma maior sensibilidade dos alunos”.
Um trabalho que, acabando por ser multidisciplinar, ou seja, que envolve várias disciplinas e professores, contribui para uma maior consciencialização e cidadania ativa dos alunos, acabando por se estender às suas famílias e à comunidade. “No fundo, há aqui, de facto, uma aposta na cidadania e nos cidadãos, que são eles, os nossos alunos, que tentam sensibilizar as pessoas, falar com as pessoas. (…). Para além de todos os nossos ‘alunos EPAS’, envolvemos todos os encarregados de educação desses mesmos alunos”.
Como reconhecimento do trabalho efetuado e da dinâmica conseguida com os estudantes, a Escola Secundária de Serpa tem sido premiada ao longo dos anos com viagens ao PE (Estrasburgo e Bruxelas), no âmbito do EPAS. Para além de algumas visitas efetuadas a convite de diversos eurodeputados, como foi caso desta última. No presente ano letivo, o projeto integra 23 alunos, entre os de 9.º ano (benjamins) e ensino secundário.

Cante alentejano na Grand Place A Grand Place, praça central de Bruxelas, é um dos principais “cartões-de-visita” da capital belga, a par com os chocolates, a banda desenhada ou o “Manneken Pis” (estatueta de uma criança a urinar). E foi precisamente na praça que é património mundial da Unesco, desde 1998, que terminou o dia de visita ao PE por parte da comitiva baixo-alentejana. Já a noite havia caído, numa praça plena de turistas, cidadãos do mundo, quando, espontaneamente, se começou a ouvir: “Ó, Serpa de Guadalupe/ das muralhas, casas brancas/ dos poetas e pastores/ dos cantes até às tantas”. Rapidamente, dezenas de curiosos começaram a juntar-se, a ouvir e a fotografar o cante alentejano que ecoava pela Grand Place e o grupo improvisado. Analogia quase perfeita em que, independentemente da língua ou do país, haverá sempre algo em comum entre as comunidades, europeias ou não. Ou como David Fernandes referiu, quase como mote para o futuro: “Acredito que, quanto mais unidos, mais possíveis as coisas se tornam”.
O “Diário do Alentejo” viajou para Bruxelas a convite da Escola Secundária de Serpa.
“Os jovens têm de ser mobilizados, em primeiro lugar,a partir da sua própria circunstância e dos seus próprios problemas”

A Escola Secundária de Serpa visitou o Parlamento Europeu a convite do eurodeputado do PCP, João Oliveira. O “Diário do Alentejo” entrevistou o parlamentar a propósito da relação dos jovens com a comunidade europeia.
Referiu, na apresentação que fez aos alunos, que a sua perspetiva em relação aos trabalhos no Parlamento Europeu (PE) mudou, nomeadamente, no que diz respeito à capacidade de intervenção dos eurodeputados. Nesse sentido, como é que se poderá sensibilizar os jovens para o trabalho que se faz no PE?No Parlamento Europeu a ideia que eu tinha, de facto, era que a capacidade de intervenção seria muito mais limitada, muito mais reduzida. Ainda assim, as minhas expectativas foram superadas para melhor, porquê? Porque há mais espaço de intervenção política do que aquilo que eu admitia. E há alguns elementos que permitem de facto trazer ao Parlamento Europeu aquilo que nos preocupa no nosso país, as necessidades que temos no nosso país, as linhas de solução que precisamos na resposta à nossa economia, às questões sociais que vamos enfrentando em Portugal. Há também aqui uma circunstância que acaba por ser um elemento de novidade, e também fazia essa referência, que é o facto de a proximidade entre a realidade nacional de diferentes países acabar, em algumas circunstâncias, por ser um elemento, digamos, assim, agregador, o que facilita o entendimento e a compreensão, mesmo de pessoas de grupos políticos diferentes.
Mas, nesse sentido, como é que se pode, então, sensibilizar estes jovens para a importância da política nas vidas dos cidadãos?Acho que há um primeiro aspeto: dar aos jovens a ideia de que a política não é uma profissão, não é uma ocupação, não é uma coisa que a gente faz para ganhar a vida. Há muitas formas de participar politicamente e todas as formas de participar politicamente que ajudem à solução de problemas e a apontar linhas de solução para os problemas que nós temos são espaços de intervenção política válidos e os jovens têm de ser mobilizados, em primeiro lugar, a partir da sua própria circunstância e dos seus próprios problemas. Acho que esse é um desafio absolutamente essencial. A capacidade que nós tivermos de mobilizar os jovens para intervirem em busca das soluções para os seus próprios problemas é, talvez, o elemento mais decisivo para que haja mais envolvimento dos jovens na política. Há depois um outro aspeto que eu acho que é importante: há muito pouco interesse da comunicação social no trabalho que se faz no Parlamento Europeu. Essa falta de informação sobre aquilo que aqui se faz também acaba por gerar o desinteresse e o despegamento, digamos assim. E julgo, sobretudo, em relação às gerações mais jovens que já nasceram com Portugal dentro da União Europeia, que só conhecem esta realidade e não conhecem a outra, às tantas dão isso tudo como normal nas suas vidas e, portanto, não se preocupam com isso. Estas iniciativas de trazer ao Parlamento Europeu os grupos visitantes dão um contributo para que isso aconteça e têm que se encontrar outras formas de estimular o conhecimento, o interesse e a participação política também.
Então, programas como o EPAS são de uma importância extrema nesse sentido?Eu diria que todas as linhas que haja de contacto político dos eleitos políticos com os jovens são linhas de trabalho importantes, sobretudo, desse ponto de vista do estímulo à intervenção política, à elevação da consciência social e política dos jovens. Nós vamos às escolas, somos solicitados para ir a debates, para ir a conferências, para ir a encontros dos mais variados, de naturezas educativas, sociais, culturais nas escolas, mas trazer os jovens ao espaço onde a discussão política é feita também é uma forma de aproximação, digamos assim, do ponto de vista mais institucional, que eu acho que é importante.