Diário do Alentejo

Projeto solidário nasce nas escolas de Vidigueira

25 de julho 2019 - 15:15

Há um projeto em Vidigueira, nascido no seio da comunidade escolar, nomeadamente no agrupamento de escolas, que quer replicar-se em outros concelhos. Um projeto de cidadania, de cariz social e que se chama: “Fazer bem sem saber a quem”. Um projeto que surgiu após a consciencialização da necessidade de se trabalhar e promover o espírito de entreajuda, de solidariedade e de voluntariado dos alunos, em particular, e de toda a comunidade escolar. E a ideia, agora, é implementá-lo em rede. E espalhá-lo por aí. Por esse Alentejo afora…

Texto Bruna SoaresFoto José Ferrolho

“Numa época em qua cada vez nos viramos mais para nós mesmos, e que assistimos a um crescente ‘umbiguismo’ na nossa sociedade, e, consequentemente, nos nossos alunos, parece-nos lógico, pela transversalidade das problemáticas que surgem nas escolas, tentar contrariar esta tendência, procurando na ajuda ao próximo um propósito maior”, começa por explicar ao “Diário do Alentejo” Ana Braga, da Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas de Vidigueira. O objetivo do projeto “Fazer bem sem saber a quem” é, assim, “a promoção do sentido de solidariedade e entreajuda e suprir necessidades dos alunos, que, por vezes, não são identificadas pelos instrumentos de apoio social estabelecidos oficialmente”, adianta.

 

Mas como? “Uma turma responsabiliza-se por ajudar um aluno que não conhece, mas que, com toda a certeza, identificará o mesmo tipo de problema num colega, num vizinho, num familiar. Cada turma, após receber uma descrição sumária e anónima do aluno necessitado (género, idade, tamanho que veste, número que calça, necessidade de algum material escolar, entre outros), fará junto de familiares, amigos, comunidade e comércio local, a recolha dos itens que constituirão um ‘cabaz’ a ser entregue ao aluno”.

Acontece que como a ideia é preservar o anonimato é, por isso, importante que este projeto receba a parceria de outras associações de pais e de outros agrupamentos de outros concelhos, de modo a criar-se uma rede de colaboração em que os alunos necessitados de um agrupamento serão ajudados por turmas de outros agrupamentos de outros concelhos. “O objetivo do funcionamento em rede tem mesmo a ver com a garantia de anonimato dos alunos que beneficiarão das ajudas, ultrapassando algum estigma que possa, eventualmente, haver. Paralelamente, os alunos das turmas que ajudarão fá-lo-ão somente pelo sentido de solidariedade e não para autopromoção”, defende Ana Braga. Que acrescenta: “Atrevo-me a dizer que se destina a todas as comunidades escolares”.

 

Atualmente este projeto, desenvolvido pelo Gabinete de Apoio ao Aluno e à Família (GAAF), que se enquadra na componente curricular de Cidadania e Desenvolvimento, já está implementado em Vidigueira e, inclusive, recebeu o apoio da câmara municipal local. “A nível intermunicipal não temos conhecimento de que tenha sido feito, nem no Alentejo nem no País, algo do género”, afirma a representante da associação de pais, organização que se propõe agora a fazê-lo.

 

“Vê-se uma crescente tendência do funcionamento de estruturas intermunicipais. As escolas têm também vindo, ao longo dos anos, a ser associadas em grupos/agrupamentos. As problemáticas existentes nos agrupamentos são transversais. Faz, para nós, todo o sentido que, tal como acontece noutras questões relacionadas com o desenvolvimento regional, também na educação se estabeleça uma rede de discussão de estratégias, como o prova a Rede Intermunicipal de Educação da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal)”, considera Ana Braga.

 

E “Fazer bem sem saber a quem” já foi, recentemente, apresentado, precisamente, na última reunião da Rede Intermunicipal de Educação do Baixo Alentejo. “Esta estrutura é o elo de ligação entre os diversos agrupamentos e os municípios da Cimbal, e, em nosso entender, será a peça chave para a implementação desta rede de associações de pais e encarregados de educação e agrupamento que se pretende estabelecer”, defende esta promotora do projeto. Até porque, em sua opinião, “o primeiro passo será sempre a participação dos pais e encarregados de educação na vida escolar dos seus educandos, porque esta participação e a ligação às associações dos agrupamentos conferem uma maior capacidade de identificação dos problemas”. E depois porque, segundo argumenta, este tema também se “assume como um espaço curricular privilegiado para o desenvolvimento de aprendizagens com impacto tridimensional, nomeadamente, na atitude cívica individual, no relacionamento interpessoal e no relacionamento social e intercultural”.

 

No fundo, “promove também a consciencialização da noção que todos nós somos sociedade e todos nós temos a capacidade de efetuar uma mudança positiva. Comecemos pela comunidade educativa e pelos que serão adultos no futuro”, conclui Ana Braga.

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