Na altura surpreendeu-a o convite para ser cabeça de lista por Beja?Surpreendeu, não estava à espera. Quando recebi o convite entendi-o como um desafio. Sou de Lisboa, como é sabido, tinha alguns amigos no Baixo Alentejo, mas não estava, de todo, à espera desse convite mas aceitei-o prontamente porque gosto de desafios e porque achei que era uma oportunidade de conhecer coisas novas. Vesti completamente a camisola. Hoje consigo ter conversas com os meus pares, com deputados até de outros distritos do Alentejo, falando de igual para igual e isso significa, no meu ponto de vista, que tive um enriquecimento pessoal muito grande e isso tornou a experiência muito gratificante.
Tendo ficado surpreendida com o convite de há quatro anos, voltou agora a ser surpreendida com o não convite para se recandidatar?Não surpreendeu e explico-lhe porquê. Desde há um ano e meio a esta parte, desde que Rui Rio tomou posse como presidente do partido, e desde as primeiras visitas que fez a Beja, disse logo de início que o deputado, nos círculos eleitorais em que normalmente o PSD só elege um deputado, deveria ser alguém da região. Era uma assunção natural que, desta vez, o candidato fosse alguém da região, como é o caso de Henrique Silvestre Ferreira.
A sua relação com a distrital de Beja do PSD foi marcada, ao longo destes quatro anos, por alguns desencontros, talvez como consequência da escolha da distrital ter sido uma e a do presidente do partido ter sido outra. Acha que o PSD corre o risco de ver repetida esta circunstância, pelo facto de Henrique Silvestre Ferreira não ter sido a escolha da distrital?São circunstâncias muito diferentes, até porque vimos de mandatos muito diferentes e estamos com uma liderança nova no PSD. Não estive, como é evidente, envolvida nesse processo. Sei que foi uma escolha do presidente do partido e do presidente da distrital de Beja do PSD, tendo existido um encontro de vontades para escolher uma personalidade [para cabeça de lista]. Penso que é um excelente candidato, tem no distrito um percurso interessante e importante porque vem com um lastro agrícola que marca a região. Sendo candidato do PSD vai defender certamente as mesmas coisas que eu defendo, está na minha área política, é um jovem promissor e, nesse sentido, considero que foi uma boa escolha.
Reconhece que o seu relacionamento com a distrital é que nem sempre foi coincidente?Os partidos têm sempre momentos em que surgem opiniões divergentes. O PSD é um partido plural, não pensamos todos pela mesma cabeça, foram existindo períodos de altos e baixos, como é normal ao longo de todos os processos políticos, mas não considero que tenha sido um relacionamento negativo. Mesmo nas diferenças que possam existir, e com a pluralidade de opinião, estamos todos unidos para combater o PS, o PCP e o Bloco de Esquerda. Nos últimos quatro anos, os partidos da geringonça deixaram a região a pão e água. Se somarmos os resultados eleitorais, têm 80 por cento dos votos, têm todas as câmaras municipais e mesmo assim existem as carências gritantes que acabei de evidenciar. Acho que o PSD, independentemente da distrital e de o candidato ser um ou outro, quer é fazer passar a mensagem de que o Alentejo tem sido muito desconsiderado. O que poderia existir está muito aquém das potencialidades da região.
Face a esse cenário, que traça, como é que justifica então a perda de influência do PSD, ao longo dos anos, a nível distrital?A minha eleição contraria isso, já a eleição [anterior] do Carlos Moedas vinha numa senda completamente distinta do que está a dizer. Do ponto de vista autárquico terá de existir um trabalho de maior organização e de mais proximidade às populações por parte das estruturas que estão a liderar o partido no distrito. Trazer pessoas que credibilizem a política e sejam reconhecidas dentro dos respetivos concelhos é um desiderato que deve acompanhar o trabalho de organização para as eleições futuras no sentido de garantir que possamos recuperar posições que já tivemos em muitas câmaras. Estou a falar de Alvito, Ourique, Almodôvar, até de Beja, onde muitas vezes tivemos representação autárquica. Isso está ao nosso alcance, é possível consegui-lo, mas é preciso começar a trabalhar cedo e escolher os melhores para ir ao encontro dessas necessidades.
O presidente da distrital já disse que seria uma “tragédia” para o PSD a não eleição de um deputado por Beja. Tendo em conta os resultados das últimas eleições europeias, reconhece que é uma tarefa difícil?Partir de uma base derrotista é mau. O Henrique Silvestre Ferreira conhece a região, traz desse ponto de vista uma mais-valia relativamente ao que aconteceu comigo, quando cheguei tive de aprender tudo, isso é um ganho. Penso também que a sua candidatura trará um conforto ao setor agrícola, pois conhece muito bem as carências dos nossos agricultores, que também existem. Estamos a passar por uma fase de seca e os apoios não existem ainda. Estamos a falar de discursos muito contraditórios na área agricultura porque o ministro da Agricultura veio anunciar menos apoios para a área do olival…
… sendo que no discurso defende a necessidade deste tipo de culturas superintensivas. Há aí alguma incoerência no discurso do ministro da Agricultura?Ele, por um lado, anuncia o aumento do perímetro de rega do Alqueva, já o fez por diversas vezes, mas depois diz que os apoios à plantação de novos olivais vão diminuir. Ora, o aumento do perímetro de rega tem como pressuposto a instalação de novos olivais. Há aqui uma contradição e isso não pode deixar sossegados os agricultores. Há um conjunto de matérias que o candidato do PSD irá agarrar com unhas e dentes, sei que o fará com um discurso forte, conhecendo bem o terreno, e por isso não me revejo numa posição derrotista de que PSD não irá eleger um deputado por Beja.