Imigrantes, medos e mitos
Atualmente, em Portugal, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, os imigrantes representam quatro por cento da população, ou seja, cerca de 416.682 pessoas. Um recente relatório do Observatório das Migrações indica que os imigrantes estão mais representados nos grupos profissionais de base (51 por cento empregados em sectores como a construção, indústria e trabalhos não-qualificados) e têm remunerações médias inferiores às dos trabalhadores portugueses (menos 5 por cento em 2015 e 2016). Correm mais risco de pobreza e estão mais vulneráveis ao desemprego (em 2017, a taxa de desemprego para imigrantes não-europeus era de 14,4 por cento, enquanto para o total da população era de 8,9 por cento). Porém, ficam menos tempo sem trabalho, desde logo porque aceitam os piores empregos – o que faz com que a taxa de desemprego de longa duração (procura de emprego há 25 meses ou mais) corresponda, entre os imigrantes, a metade (21,2 por cento) da dos portugueses (40,7 por cento).
No distrito de Beja, segundo a associação Solidariedade Imigrante, haverá neste momento cerca de 28 mil imigrantes. Muitos deles chegam de países europeus, africanos ou asiáticos para a apanha da azeitona e depois ficam para outros trabalhos agrícolas, constituindo um reservatório de mão de obra barata.
Explica Márcio Guerra: “Com este fluxo migratório chegam os mitos e os medos. A ideia de que os imigrantes representam uma ameaça económica é um mito que a realidade não confirma, tal como se pode concluir da análise dos trabalhos que fazem e do saldo das contribuições e benefícios da Segurança Social. Mesmo nos anos em que o desemprego era mais alto e que os portugueses emigraram, os estrangeiros continuaram a entrar para trabalhar em áreas como a agricultura ou a assistência a idosos ao domicílio em regime interno, empregos ‘indesejáveis’ ou mal pagos”. Os imigrantes também dinamizam a economia e em certos casos contribuem para a criação de emprego, mas recorrem pouco aos benefícios sociais e em situações de despedimento raramente pedem o subsídio de desemprego.
Em 2017, a relação das contribuições e das prestações sociais dos imigrantes atingiu valores inéditos desde o início do século, com um saldo financeiro positivo para a Segurança Social de 514,3 milhões de euros. Nesse ano, os imigrantes contribuíram com 603,9 milhões e beneficiaram de apenas 89,6 milhões.
A perceção de que os imigrantes “roubam” empregos aos nacionais e “gastam” recursos do Estado é generalizada mas não corresponde à verdade. Ao contrário: Estado, donos da terra, proprietários de habitações e supermercados, além de muita outra gente, lucra com a imigração…
Quanto a medidas para combater o racismo, a xenofobia e a discriminação étnica, Mário Guerra reconhece “o Portugal institucional não tem diversidade nenhuma que represente, em igualdade de circunstâncias, estas minorias”. Há uma escassa representatividade das minorias étnicas e raciais nos órgãos de soberania, a começar na Assembleia da República, mas também nos órgãos autárquicos e nas direções das organizações sociais. A reversão desta situação, entre outras medidas, “em muito poderia contribuir para melhor garantir os direitos das minorias e educar os cidadãos a conviver com a diferença”.