O incêndio deixou um prejuízo de pelo menos 100 mil euros. E estes homens dizem sentir-se como “uma gota no oceano”. “Achamos que não vamos conseguir recuperar tudo o que perdemos”. Apesar de estar a decorrer uma campanha solidária que tem, precisamente, o intuito de ajudar estes pescadores. Uma campanha de solidariedade dirigida à comunidade, mas também a quem queira ajudar e ainda aos empresários locais. Porque das 11 embarcações ali estacionadas, naquela noite, “duas foram totalmente consumidas pelas chamas e outras quatro sofreram danos de diferentes graus”.
Campanha, esta, que inclui um conjunto de iniciativas para a angariação de fundos que reverterão para a aquisição ou reparação das embarcações afetadas, sendo uma percentagem ainda doada à comunidade piscatória atingida pelo incêndio.
“Temos de pedir ajuda, porque nesta situação não existem seguros envolvidos. Os pescadores apenas têm seguro de vida, porque os seguros para as embarcações são muito dispendiosos para pescadores da nossa dimensão, que se dedicam à pesca artesanal. Só as grandes empresas têm poder económico para tal. Ter um novo barco ou repará-lo implica investimento próprio e apoios também não existem e, a existirem, tem de se ter, antecipadamente, capital próprio, porque não há financiamento a 100 por cento. Quando existem ainda empréstimos para pagar como se pode pedir outro empréstimo?”. Quem o afirma, agora, é Luís Batista.
Até à data, a Associação Cultural e de Desenvolvimento de Pescadores e Moradores da Azenha do Mar já realizou um mastro de São João e um almoço solidário. Mas o dinheiro angariado até agora, como dizem, “continua a ser uma gota num oceano de 100 mil euros”.
“Só se o Estado nos pudesse ajudar de alguma maneira, mas achamos difícil isso acontecer. Estamos descrentes e muitos com as vidas em suspenso”, diz Luís Batista. Fábio Glória, por sua vez, também não tem grande esperança. “A pesca, mais dia, menos dia, acaba aqui. Daqui a um tempo não vão existir pescadores em Azenha do Mar. Não há condições para os jovens se dedicarem a uma vida destas, à pesca artesanal, até porque a grande maioria foge dela”.
Quem se interessou pelo incêndio que tudo levou aos pescadores de Azenha do Mar foi, no entanto, o secretário de Estado das Pescas, José Apolinário. “Talvez fosse quem nos pudesse ajudar, e, inclusive, reagiu logo pouco depois de este incêndio ter acontecido. Acontece que, a nível comunitário, não se podem financiar novas construções, só modernizações de equipamentos. E, segundo disse, havia uma janela de oportunidade dentro desta área. Mas houve pessoas que perderam tudo, inclusive, barcos novos, que tinham sido construídos há cerca de dois anos. E, depois, como pode a associação de pescadores candidatar-se? Como podem candidatar-se os pescadores a nível individual quando não têm o total do capital necessário, mesmo o Estado financiando uma parte? Daí estarmos cada vez mais descrentes”, explica o presidente da associação.
E os dias, esses, só insistem em passar. “Dois meses. É muito tempo sem meter o barco em mar alto”, aponta Fernando, enquanto enxergar o oceano à sua frente.
Fernando está com Luís e Fábio no porto de pesca. E todos assentam os pés no tabuado por onde deslizam as embarcações quando chegam da faina. No mesmo tabuado que agora se apresenta queimado. Estão em terra e sem data prevista para todos voltarem a sair para o mar.