Diário do Alentejo

Força Aérea transfere Esquadra 101 para Base de Beja

15 de junho 2019 - 08:30

A Força Aérea vai transferir a Esquadra de Voo 101 da Base Aérea número 1, em Sintra, para a Base de Beja. Uma resolução do Conselho de Ministros, publicada esta semana em Diário da República, determina que a transferência esteja concluída até 22 de abril do próximo ano. e autoriza a Força Aérea a realizar uma despesa na ordem dos 18,8 milhões de euros. Em simultâneo, a Esquadra 552, que opera o helicóptero AW 119, será deslocalizada de Beja para Sintra.

 

A deslocalização de diversas esquadras de voo de treino operacional decorre da necessidade de "reorganização e cedência de porções de espaço área das áreas militares" em virtude da anunciada construção de um novo aeroporto complementar ao de Lisboa na Base Aérea do Montijo. O Diário do Alentejo esteve com a Esquadra 101 que virá para o Baixo Alentejo. Bem como com a Esquadra 502, estacionada no Montijo, cuja mudança para Beja está igualmente perspetivada.

Texto Aníbal Fernandes

 

São 10 horas e o dia promete ser de sol e muito calor. Junto à porta de armas da Base Aérea nº.1 (BA1), na Granja do Marquês, Sintra, avistam-se as instalações do Museu do Ar e da Academia da Força Aérea. O local está intimamente ligado à história da aviação militar em Portugal. Desde 1920, quatro anos após o presidente da República Manuel de Arriaga ter aprovado a criação da Escola Aeronáutica Militar – inicialmente em Vila Nova da Rainha (entre a Azambuja e Alenquer) –, que a BA1 é o local de formação de várias gerações de pilotos.

 

Aqui está instalada a sede dos “Roncos”, a Esquadra 101, equipada com a aeronave Epsilon TB-30, que, neste ano, comemora os 30 anos de existência. É nestes aviões que os cadetes da Academia da Força Aérea (AFA) têm de cumprir um ano de tirocínio, após cinco de licenciatura e mestrado, antes de integrarem os quadros da Força Aérea Portuguesa (FAP). A esquadra ganhou o nome quando operava com os aviões T6, conhecidos pelo barulho que produziam. Com a sua substituição pelos Chipmunk a designação “caiu”, mas foi recuperada com a entrada em ação dos atuais Epsilon TB-30, explica o major aviador Elói Lopes, comandante da esquadra 101.

 

A primeira aeronave deste tipo chegou pelo ar, vinda de França, em fevereiro de 1989. As outras 17 unidades vieram por via terreste, às peças, e foram montadas nas Oficinas Gerais de Material Aeronáutico (OGMA), em Alverca. O tenente aviador Emanuel Ferreira diz que o efetivo, neste momento, está reduzido a 16 unidades, fruto de dois acidentes que resultaram na perda total das aeronaves. 

Quanto a pessoal, são 15 os pilotos instrutores que contam com uma equipa de cerca 60 elementos responsáveis pela manutenção das aeronaves. Instruendos, neste momento, cerca de duas dezenas, mas o número muda de ano para ano.

A missão da Esquadra 101 é, como já se disse, a formação em exclusivo de pilotos para a Força Aérea Portuguesa – durante as décadas de 80 e 90 alguns foram formados nos EUA e Brasil –, o que nos permite afirmar que é aqui que nasce a base fundamental deste ramo das Forças Armadas nacionais.

 

É daqui que saem os pilotos de todas as outras esquadras, nomeadamente, para os aviões de carga e transporte, caças ou helicópteros. Para além desta tarefa, os instrutores da 101 ainda participam em ações de cooperação técnica militar nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), mais concretamente, em Angola e Moçambique, contribuindo com a sua experiência para a formação de instrutores naquelas nações.

O Montijo é a nossa próxima paragem. Depois de percorridos o IC19 e a Segunda Circular, e atravessada a ponte Vasco da Gama, dirigimo-nos à Base Aérea n.º 6, no Samouco. O percurso foi rápido, e mais rápido será quando as acessibilidades prometidas já estiverem disponíveis. A construção destas instalações militares, que datam do início da II Grande Guerra, tiveram como objetivo albergar o Centro de Aviação Naval de Lisboa, mas em junho de 1954, com o nascimento da Força Aérea Portuguesa, a sua administração passou para este ramo das Forças Armadas.

 

É aqui que se encontra estacionada a Esquadra 502, conhecida por “Elefantes”, designação que deriva do porte dos aviões e da sua capacidade de transporte. A esquadra tem as suas origens no já longínquo ano de 1937, altura em que operava com aviões Junker JU52, mas com o nascimento da FAP, nos anos 50 do século XX, adotou o nome de Esquadra 32. De referir também que, durante a Guerra Colonial, esta força desempenhou um papel importante no apoio à Força Aérea.

 

Hoje as tarefas são diferentes. O major piloto aviador Diogo Bento explica que as aeronaves que agora operam – C295 – e que em 2009 veio substituir os C-212 Aviocar, “são mais versáteis e eficientes, o que permite alargar o leque de missões”. Atualmente, os militares aqui destacados executam serviços de vigilância e fotografia; transporte aéreo geral, transporte aéreo tático (nomeadamente, em ambientes hostis, como, por exemplo, no Mali); lançamento de tropas aerotransportadas e de carga; transporte de altas individualidades; busca e salvamento; evacuações médicas entre ilhas (nos Açores e na Madeira); e transporte de órgãos para transplantes.

Estão em alerta 24 horas por dia: no Montijo com uma prontidão de 30 minutos, e 45 minutos nas Lages e em Porto Santo, bases onde têm destacamentos permanentes, cada um com cinco militares.

A esquadra tem ainda como missão a vigilância da zona de responsabilidade SAR (zona marítima sob jurisdição nacional), uma área que a partir da nossa costa se estende pelo Atlântico adentro e que tem a dimensão da totalidade da Europa.

 

A nível internacional a esquadra 502 tem participado em diversas ações no âmbito da NATO, da ONU e da União Europeia.  Foi o caso da Agência Frontex, em 2011, para controlar a emigração no mar Mediterrâneo, a partir de Espanha, Itália, Grécia ou Senegal; ou, em 2017, também no Mediterrâneo, quando 34 migrantes se salvaram da morte certa com o lançamento de um kit a partir de uma das aeronaves portuguesas; ou ainda, em 2015, numa operação da ONU de manutenção da paz, no Mali.

 

Em termos de efetivos, a esquadra 502 conta com 40 pilotos, cinco oficiais de manutenção, sete navegadores, 80 sargentos (operadores de cabine, operadores de vigilância, mecânicos) e 12 praças mecânicos.

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