“Temos uma rainha nascida em Beja, a mulher mais rica do seu tempo, e que exerceu um poder social e político como poucas mulheres o fizeram. Seguramente aprendeu com a sua mãe D. Brites”, defende o historiador. Recorde-se que Dom Fernando, primeiro duque de Beja, que iniciou uma verdadeira revolução urbana, com a construção de um novo hospital, foi depois acompanhado no intuito pela sua mulher, D. Brites e pelo seu filho D. Manuel I.
“Estas figuras da nossa história precisam de ser conhecidas, divulgadas e servir de referência pedagógica e turística”, defende o presidente da ADPBeja. Que diz que a “Santa Casa da Misericórdia de Beja pode e deve ser uma referência museológica”. E recordou: “Esta santa casa tem já um projeto de beneficiação de instalações e está prevista a abertura de um museu, já que a sua farmácia possui um mostruário de antigos instrumentos médicos, estando ainda prevista uma grande investigação documental”.
Porque, na verdade, as Misericórdias são detentoras de um vasto património. Mas, afinal, que herança é esta? A resposta, ao “Diário do Alentejo”, chega pela boca de Mariano Cabaço, responsável pelo Gabinete do Património Cultural da União das Misericórdias Portuguesas. “As Misericórdias têm em sua posse todas as tipologias de património, o que faz destas instituições agentes incontornáveis de cultura e promoção de conhecimento”. E explica: “Temos um património imóvel de grande amplitude temática que conta com igrejas, conventos, casas das misericórdias, jazigos, farmácias, casas de família, propriedades agrícolas, praças de touros, cemitérios, balneários públicos, salinas, entre outros”.
Na verdade, o património móvel incorpora, “para além de instrumentos ligados à gestão de hospitais e farmácias, peças de arte que percorrem as tipologias de escultura, mobiliário, ourivesaria, azulejarias, têxteis, armaria, numismática, cerâmica, pintura e outras”. Coleções, estas, provenientes de acervos de igrejas, das dependências onde se asseguram os serviços prestados pelas Misericórdias e de doações e legados.
“Não podemos igualmente esquecer a grande importância do património arquivístico, pois a riqueza documental das Misericórdias permite conhecer a história social, cultural, religiosa, política e económica de cada comunidade. Também as manifestações de património intangível ou imaterial encontram nas Misericórdias abundantes protagonistas através dos rituais de posse, das celebrações da Semana Santa, nos cortejos de oferendas, nos rituais fúnebres e de uma maneira geral em todos os procedimentos de representação institucional”, prossegue Mariano Cabaço.