Mas no romance Vínculos Eternos a preocupação é outra. O livro abre, 10 anos depois do final da I Guerra Mundial, com um conjunto de citações, entre as quais esta, do matemático Paul Painlevé: “O progresso científico aumenta o poder dos meios de destruição, é necessário dar força ao desenvolvimento moral dos homens e das nações”. Segue-se uma carta-dedicatória ao democrata republicano Brito Camacho. E logo aí Manuel Ribeiro explica: “Não faltará quem descubra neste livro hostis propósitos contra a Sciência. De forma nenhuma! O que se declara [...] é que, enquanto se não criar uma Consciência social bem forte que tenha mão na Sciência e tire dela somente utilidades benéficas, a humanidade está em perigo”.
Nem todos compreendem esta preocupação. O intelectual anarquista João Campos Lima, na linha da tradição anti-clerical republicana, vê de facto neste livro uma hostilização da ciência. Em polémica com ele na imprensa, Manuel Ribeiro desenvolve o seu ponto de vista: “O laboratório é neutro. Deste modo, enquanto se não criar uma consciência colectiva bem forte que só aproveite as utilidades benéficas da ciência, os antagonismos sociais de interesses, de raças, de nações, e de toda a espécie, servir-se-ão das descobertas científicas para atormentar a humanidade e desorganizar a vida social. Sabe-se lá que surpresas horríveis os sábios químicos nos apresentarão numa guerra próxima, que se chama já a guerra química? E onde está a consciência colectiva capaz de impedir colisões desta natureza?”
Naquele momento de ascensão dos fascismos, narrativas científicas como a teoria da evolução das espécies, de Charles Darwin, estavam sendo utilizadas para justificar desigualdades sociais e posições racistas. É contra isso que Manuel Ribeiro reage, vendo aí uma ameaça às raízes da democracia. E apela: “É preciso não deixar vingar este horrível lema [...] Determinismo, Desigualdade, Seleção, e opor-lhe [...] est’outro [...] que tem reassaibo cristão: Liberdade, Igualdade, Fraternidade”.