Uma opinião que João Matos reforça: “Há na maioria dos partidos casos de corrupção. Essa hipocrisia descredibiliza a política e desmotiva a votação, fazendo pensar se o nosso voto poderá ser aproveitado para se conseguir algo menos correto. Esse sentimento pode levar a que muitos sintam que assim não vale a pena votar, quer nesta ou em qualquer outra eleição”.
A soberba é outra das razões apontadas por Margarida Valente como causa do desinteresse na participação eleitoral entre os mais jovens. “‘Eu só sei que sou melhor que vocês todos juntos’ parece ser o único argumento dos políticos nos debates a que assistimos e essa atitude, contribui para o alheamento, para a abstenção”, explica.
Para além destes dois aspetos – o exercício da ilegalidade para benefícios privados e a prática de um “pecado capital” –, José Matos considera que a elevada taxa de abstenção que se verifica assiduamente nas eleições europeias se relaciona com a falta de informação acerca das implicações que as decisões tomadas no Parlamento Europeu podem ter na vida do cidadão comum. “Julgo que grande parte das pessoas não tem ideia do ‘alcance’ da UE, da implicação das decisões vindas ‘lá de cima’ no nosso dia-a-dia. Determinadas decisões, projetos, fundos de apoio, dinâmicas implementadas no País, que podemos pensar que são autónomas do Governo, provêm de facto de patamares superiores”.
Esta falta de informação será ainda ampliada, segundo José Matos, pelo tipo de discurso político “denso, que deve ser desconstruído, simplificando a explicação dos mecanismos, dos objetivos. Porque o que vemos são quatro ou cinco, todos de fato, a falar de bancos e finanças, e quem tem 18, 19, 20 anos passa imediatamente para o canal a seguir ou vai ver um filme”.
O avanço da extrema-direita na Europa
O crescimento de partidos de extrema-direita e direita radical eurocética na Europa, assumindo de forma inequívoca discursos e simbologias facilmente identificáveis com partidos fascistas e nazis das décadas de 30 e 40, é inequívoco. No Parlamento Europeu estas forças extremistas encontram-se atualmente representados por 36 deputados, eleitos em oito países da UE, unidos no grupo político denominado Europa das Nações e das Liberdades (ENL), cujo líder é Marine Le Pen, presidente da União Nacional, em França.
As sondagens mais recentes preveem o crescimento do ENL em mais de 100 por cento, podendo o seu conjunto de deputados no Parlamento Europeu chegar aos 73 deputados, ficando a representar, a verificarem-se os números, a quarta força política no hemiciclo representativo da UE.
Números “preocupantes”, de acordo com os nossos seis interlocutores, tal como adverte Gonçalo Pereira: “É importante que ‘olhemos’ para o passado, há pessoas muito perigosas na política, escondidas atrás de palavra bonitas e discursos eloquentes que prometem evolução. Hitler chegou assim ao poder…”.
A melhor arma contra estes partidos, “que estão a colocar em perigo os pilares democráticos da Europa, é a informação e a participação de cada um”, diz José Matos. “Esta é uma daquelas questões em que todos temos de nos envolver, em que não deve existir espaço para dizer ‘não me meto, não tenho opinião’, porque a inércia beneficia imenso estes grupos. Se esta ‘onda’ extremista for combatida com sucesso, podemos voltar às questões do desenvolvimento, do debate democrático pacífico e o futuro poderá ser bastante promissor, porque a UE foi formada tendo por base ideais muito respeitáveis”.
José Matos cita o filósofo austríaco Karl Popper: “Se não estivermos preparados para defender a sociedade tolerante do assalto da intolerância, então, os tolerantes serão destruídos e a tolerância com eles”.