Texto Sílvia Borrela
No âmbito da homenagem a Leonel Borrela que se realizará no dia 1 de junho a partir das 17:00 horas, e correspondendo ao pedido do “Diário do Alentejo”, escrevemos este texto familiar como forma de relembrar um filho adotivo de Beja que faleceu no dia 12 maio de 2017, nas vésperas de um fim de semana cheio de emoções ou dos 3 “F” (1).
Leonel para uns, Borrela para outros, historiador, investigador, amante de arqueologia e património, artista, “Alcoforadista”, colecionador dos mais diversos temas, “músico autodidata” nos tempos livres e apaixonado pelo Alentejo, pela sua história e por Beja em particular. Um ser maior, intenso, plural e multifacetado. Deixou-nos fisicamente mas continua a ser uma presença constante nas nossas vidas.
A sua infância foi vivida entre feiras ou mercados e a loja do seu avô materno em S. Bartolomeu de Messines. Cedo lhe reconheceram capacidades intelectuais e para prosseguir os seus estudos veio viver para Beja, cidade onde decidiu criar raízes e desenvolver, nos tempos livres, a sua veia artística. Aos 18 anos pertenceu ao Núcleo de Arqueologia e foi delegado da secção de artes plásticas do Centro de Juventude de Beja, onde realizou a sua primeira exposição coletiva. Participou nas escavações arqueológicas de Pisões, sob a direção do dr. Fernando Nunes Ribeiro.
Esteve quase 40 anos como funcionário do Museu Regional de Beja. Complementou as suas funções fazendo visitas guiadas no museu e pela cidade, elaborou estruturas e maquetas de reconstituição histórica, colaborou e coordenou algumas exposições e cedeu o seu espólio para enriquecer as mesmas. Foi membro fundador das associações de Defesa do Património Cultural da Região de Beja e da Arabe – Associação Regional dos Artistas e Artesãos de Beja. Também foi sócio/colaborador da Alliance Française e, adite-se, associou-se na Federação Portuguesa de Filatelia e na Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos.
Para o estudo do Museu de Arte Visigótica na igreja de Santo Amaro, de Beja, fez uma resenha desenhística da gramática decorativa e fragmentos arquitetónicos daquela época, destinados ao seu estudo museológico. Posteriormente executou a ilustração de cariz didático, sob a orientação do arqueólogo dr. Cláudio Torres, necessária à concretização daquele núcleo museológico.
A partir de 1988, colaborou como desenhador, fazendo reconstituições arquitetónicas para o Campo Arqueológico de Mértola. Procedeu, em 1989, à reconstituição arquitetónica de uma unidade fabril das ruínas romanas de Troia, no concelho de Grândola.
Escreveu para este jornal desde 1983. Iniciou-se com alguns artigos anuais sobre o património de Beja até levar a cabo, a partir de 1995, os 160 artigos semanais intitulados "Iconografia Pacense", nos quais divulgou aspetos inéditos e outros menos conhecidos da arqueologia, etnografia, ciência militar (estudo dos fortins do rio Guadiana) e história de arte em geral do concelho de Beja.
Como filatelista proferiu uma palestra sobre “Mariana Alcoforado e as Lettres Portugaises”. Na exposição filatélica “Inter-Regional 91 Beja”, executou também os desenhos para os dois carimbos do certame. Com a crescente necessidade de ver valorizado o seu trabalho, licenciou-se aos 40 anos em História e Património Cultural na Universidade de Évora. Estudou a história de Beja e da região como poucos, publicou estudos e livros sempre com o máximo rigor que os documentos consultados lhe permitiam. Em 1989 ganhou o I prémio do Concurso de Ideias para a construção do Monumento ao Bombeiro Voluntário de Beja (até ao momento não edificado).
Como colaborador assíduo da agenda cultural do município bejense, publicou, entre 2000 e 2006, cerca de 30 pequenas crónicas de divulgação iconográfica e histórica do concelho intituladas "À Descoberta de...", com documentação do próprio e arquivo fotográfico da Câmara Municipal de Beja, em parceria com Isabel Campaniço.
Escreveu uma pequena monografia ilustrada sobre o castelo de Portel para a junta de freguesia do respetivo concelho.
Participou e colaborou em inúmeros congressos e encontros nacionais ligados à arqueologia, história, património, museologia e, nos últimos anos, sobre a temática “Mariana Alcoforado”, que foi uma das suas grandes paixões. Deu palestras e conferências em escolas, museus e instituições públicas e privadas a nível nacional. Em 2000 ganhou a Medalha de Mérito Municipal grau prata. No ano seguinte proferiu, com Maria Teresa Horta, uma conferência e realizou uma exposição bibliográfica sobre as "Lettres Portugaises e Mariana Alcoforado", a convite da Biblioteca Municipal de Palmela, no polo de Pinhal Novo. Ilustrou, aproximadamente, 30 publicações de outros autores, incluindo poesia.
A constar, fez mais de uma centena de exposições coletivas e individuais. As suas obras encontram-se espalhadas de norte a sul do País, representando coleções privadas, públicas e oficiais. As mesmas abrangem várias técnicas, desde óleo, serigrafia, gravura, acrílico e aguarela, sendo esta última a sua “praia”. Os motivos representados nas aguarelas de pendor naturalista retratam o interesse que o Borrela tinha em valorizar o património e a história de uma região. Em 2007 publicou o livro Cartas, Soror Mariana Alcoforado, que será reeditado no âmbito desta homenagem.
O seu último livro publicado foi em 2014, a saber, trabalho afeto às comemorações do Centenário da Caixa Agrícola Mútuo de Beja e Mértola. Enfim… Tudo isto fez parte do seu labor, bem como o muito mais que aqui não é passível de registo, pela necessidade de síntese.