A medida de reprogramação financeira do Programa Alentejo 2030, no que diz respeito à valorização da linha do Alentejo, nomeadamente, do troço Casa Branca – Beja, tem suscitado diversas dúvidas e interpretações e, consequentemente, maiores ou menores receios acerca da sua exequibilidade. Os presidentes da Cimbal e da Câmara Municipal de Beja expuseram ao “Diário do Alentejo” as devidas considerações sobre a questão.
Texto José Serrano
No âmbito da notícia divulgada na anterior edição do “Diário do Alentejo” (“DA”) acerca da reprogramação financeira do Programa Alentejo 2030, que reviu, em baixa, de acordo com a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDR Alentejo), a dotação indicativa inicial para a “modernização, requalificação e eletrificação do troço ferroviário entre Casa Branca e Beja”, passando de 80,6 milhões de euros para uma dotação proposta de 20 milhões, não representando esta redução, considera a entidade, “o abandono do projeto ferroviário”, dois dos atuais principais atores políticos da região dão a sua interpretação da medida. Para o presidente da Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal), referindo antecipadamente que “as questões orçamentais de aplicação de fundos” podem não ser, por vezes, “bem percetíveis para o cidadão comum” e que “o faseamento de uma empreitada pode levar ao faseamento da própria execução orçamental”, considera que, para lá dos “contornos mais técnicos” que a medida “possa ter”, a mesma representa “um sinal político pouco positivo” para a região, sublinhando que os “baixo-alentejanos, nesta questão, como noutras, começam a estar um bocadinho cansados deste tipo de situações”. Recordando que em maio de 2023, João Galamba, então ministro das Infraestruturas do Partido Socialista, informou, “por escrito, que a modernização e eletrificação do troço Casa Branca – Beja deveria ter o projeto aprovado no final de 2024”, Antonio José Brito considera que, “agora, com esta medida”, o projeto, “que anda a ser adiado há anos e anos”, parece estar a ser “empurrado com a barriga” uma vez mais, independentemente da liderança parlamentar em vigor. “O Baixo Alentejo, continuamente à espera da solução, está sempre a observar adiamentos, seja com que Governo for, e a verdade é que isto é inadmissível e incompreensível. É preciso que os governos, seja o atual, seja um outro que venha a estar em exercício de funções no futuro, tenham a capacidade de, uma vez por todas, dar prioridade a este território e de considerar as pessoas que nele vivem como sendo tão importantes como as do resto do País”, frisa. Ainda sobre a medida de reprogramação financeira do Programa Alentejo 2030, o presidente da Cimbal, aludindo à necessidade de, “por via de aproveitamento de fundos”, se fazer “acertos em determinado momento – compreendemos isso” –, evidencia a imprescindibilidade da existência de “responsabilidade e verdade”, por parte das entidades competentes. “Espero que a CCDR esteja a agir no plano técnico e, desse ponto de vista, a tirar partido e a aproveitar melhor a execução dos fundos – nada a questionar, quanto a isso parece-me acertado. Mas é importante que na sua articulação com o Governo da República, a CCDR seja capaz de impor as prioridades associadas ao Alentejo. Não nos basta tudo o resto que não temos, senão agora também tudo aquilo que estava planeado no plano da ferrovia voltar, de novo, a ser protelado. Os presidentes de câmara do Baixo Alentejo não podem subscrever esta situação e exigem que, independentemente, repito, dos acertos orçamentais, da necessidade de aproveitar fundos e de os executar, a linha do Alentejo tem de ser estabelecida como prioridade para o Governo e, naturalmente, para a CCDR”, enfatiza. O presidente da Cimbal considera uma possível avaliação, “em conjunto com os respetivos autarcas da comunidade, em sede de conselho intermunicipal”, acerca da necessidade de uma reunião com a CCDR Alentejo, de forma a se poder proceder ao “esclarecimento cabal desta situação”.