Valter Bento, 49 anos, natural de Ourique
Fotógrafo amador, colaborou como freelancer em vários órgãos de comunicação regionais e nacionais, tendo exposto o seu trabalho fotográfico em várias exposições, coletivas e individuais.
Decorre, até ao próximo dia 28, na Biblioteca Municipal Luís de Camões, em Alvito, a exposição de fotografia intitulada “Apanhador de Luz – Ecos do Quotidiano”, da autoria de Valter Bento.
Como nos apresenta esta sua mostra fotográfica?
No fundo é um “mergulho” no meu dia a dia, enquanto fotógrafo, revelando a dualidade que existe entre a perceção do fotógrafo e a forma como cada tipo de instrumento capta a imagem.
O seu universo fotográfico revela-nos fragmentos de um Alentejo muito particular, paisagens, gentes, vivências ancestrais. O seu trabalho vive nessa urgência de registar este “seu” Alentejo antes de a “cortina descer”?
Para mim esse trabalho de registo é, absolutamente, necessário. A verdade é que sinto alívio em cada clique, como se, ao fazê-lo, estivesse a reduzir a velocidade da fluidez da vida. O meu labor acaba por ser uma desfragmentação da memória, contando cada frame que registo um romance, uma história ou um conto, sendo eu, de cada uma, o seu espectador ou leitor.
É a procura da verdadeira genuinidade, sem poses, que mais o alvoroça?
Procuro desassossego. E o grande desafio é esse mesmo – a inquietação de ser neutro na verdade da imagem. Captar a verdade do outro, no caso do retrato, e o cheiro inconfundível do Alentejo, na paisagem. Temos a sorte de ter um país único e uma região que é, só por ela, poesia.
Apresenta, amiúde, as suas fotografias, acompanhadas de pequenos poemas. Imagem e poesia completam-se na sua visão artística do mundo? Uma arte carece da outra?
Enquanto fotógrafo não procuro apenas capturar o que vejo, mas, também, o que sinto diante do que vejo. A fotografia é o instante preso na luz, o poema é o eco desse instante, o modo como o espírito o interpreta e prolonga. Não creio que uma arte careça da outra mas, quando se encontram, completam-se. A imagem sugere o silêncio das coisas e a poesia dá-lhes voz. Uma revela o visível, a outra o invisível. É nesse diálogo entre o olhar e a palavra que encontro a minha forma mais justa de expressar o mundo e a vida que nele pulsa.
O que mais gostaria que os espectadores desta sua mostra “encontrassem” nas imagens em exposição?
Gostaria que o público saísse com a sensação de ter visto algo mais do que o que estava diante dos seus olhos. Talvez, um instante de verdade ou uma dúvida que valesse a pena guardar.
José Serrano