Diário do Alentejo

“A inquietação de ser neutro na verdade da imagem”

16 de novembro 2025 - 08:00
Valter Bento expõe fotografias de “uma região que é, só por ela, poesia”

Valter Bento, 49 anos, natural de Ourique

 

Fotógrafo amador, colaborou como freelancer em vários órgãos de comunicação regionais e nacionais, tendo exposto o seu trabalho fotográfico em várias exposições, coletivas e individuais.

 

Decorre, até ao próximo dia 28, na Biblioteca Municipal Luís de Camões, em Alvito, a exposição de fotografia intitulada “Apanhador de Luz – Ecos do Quotidiano”, da autoria de Valter Bento.

 

Como nos apresenta esta sua mostra fotográfica?

No fundo é um “mergulho” no meu dia a dia, enquanto fotógrafo, revelando a dualidade que existe entre a perceção do fotógrafo e a forma como cada tipo de instrumento capta a imagem.

 

O seu universo fotográfico revela-nos fragmentos de um Alentejo muito particular, paisagens, gentes, vivências ancestrais. O seu trabalho vive nessa urgência de registar este “seu” Alentejo antes de a “cortina descer”?

Para mim esse trabalho de registo é, absolutamente, necessário. A verdade é que sinto alívio em cada clique, como se, ao fazê-lo, estivesse a reduzir a velocidade da fluidez da vida. O meu labor acaba por ser uma desfragmentação da memória, contando cada frame que registo um romance, uma história ou um conto, sendo eu, de cada uma, o seu espectador ou leitor.

 

É a procura da verdadeira genuinidade, sem poses, que mais o alvoroça?

Procuro desassossego. E o grande desafio é esse mesmo – a inquietação de ser neutro na verdade da imagem. Captar a verdade do outro, no caso do retrato, e o cheiro inconfundível do Alentejo, na paisagem. Temos a sorte de ter um país único e uma região que é, só por ela, poesia.

 

Apresenta, amiúde, as suas fotografias, acompanhadas de pequenos poemas. Imagem e poesia completam-se na sua visão artística do mundo? Uma arte carece da outra?

Enquanto fotógrafo não procuro apenas capturar o que vejo, mas, também, o que sinto diante do que vejo. A fotografia é o instante preso na luz, o poema é o eco desse instante, o modo como o espírito o interpreta e prolonga. Não creio que uma arte careça da outra mas, quando se encontram, completam-se. A imagem sugere o silêncio das coisas e a poesia dá-lhes voz. Uma revela o visível, a outra o invisível. É nesse diálogo entre o olhar e a palavra que encontro a minha forma mais justa de expressar o mundo e a vida que nele pulsa.

 

O que mais gostaria que os espectadores desta sua mostra “encontrassem” nas imagens em exposição?

Gostaria que o público saísse com a sensação de ter visto algo mais do que o que estava diante dos seus olhos. Talvez, um instante de verdade ou uma dúvida que valesse a pena guardar.

 

José Serrano

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