Cristina Taquelim, 61 anos, natural de Lagos
Mediadora de leitura, psicóloga, bibliotecária e narradora oral. A Biblioteca Municipal de Beja foi, durante 30 anos, a casa onde cresceu profissionalmente, “buscando utopias guiada por bons mestres”. Hoje, continua a trabalhar processos de mediação cultural e desenvolvimento humano, a partir da literatura e da narração oral, em crianças, jovens e adultos, em todos o País, particularmente, em comunidades em situação de exclusão ou isolamento social. Como autora de literatura para a infância tem publicado em Portugal e no Brasil. 
 
Cristina Taquelim integra a lista de 263 candidatos ao “Prémio literário Astrid Lindgren (ALMA) 2026”, o mais importante galardão na área da literatura infantil e juvenil a nível internacional.
 
Com que sentimento recebeu o anúncio desta relevante distinção, da qual fazem parte autores, ilustradores, contadores de histórias e promotores da leitura pertencentes a 74 países?Com a alegria de quem é indicada pelos seus pares e mestres para uma distinção desta natureza. Com gratidão, pois fazer parte da história profissional de tantos mediadores – agentes educativos, famílias – é uma graça. Ter trabalhado uma vida numa “biblioteca acordada” é um privilégio que rasgou o meu olhar sobre o mundo. Ser nomeada a um “ALMA”, e estar ao lado de tantos que com o seu trabalho em torno da literatura para a infância semeiam histórias, leitura e rebeliões, é um grande privilégio.Reconhece neste prémio um caminho de resiliência em prol de uma convicção pessoal sobre a importância social da leitura?Uma convicção pessoal que se suporta nas evidências científicas do papel da leitura no desenvolvimento do sujeito, das comunidades, dos países. Uma convicção que assenta nos muitos anos de ação como mediadora de leitura, nutrindo a relação com a palavra e com o livro, certa de que o trabalho de mediação possibilita nomear, também, o mundo interior, escolher em liberdade e dar voz ao que não tem voz. Ver isso acontecer é o grande farol que ilumina a jornada.
 
Considera que, genericamente, os poderes públicos estão devidamente atentos à importância da promoção da leitura ou existe, ainda, nesse âmbito, muita “distração”? Existe um discurso politicamente correto sobre a leitura, mas continuamos a ver as dificuldades com que se debatem muitas bibliotecas e profissionais destas áreas. Muitos decisores políticos não entendem que uma biblioteca é mais do que um espaço com livros – é um organismo vivo que tem de ser alimentado com recursos de qualidade e políticas de continuidade, articuladas com os diferentes atores sociais. Não entendem que a leitura é uma ferramenta central no combate ao insucesso escolar, à exclusão social, à desinformação.
 
No mundo conturbado em que vivemos é hoje a leitura inequivocamente essencial na persecução de sociedades mais igualitárias, pacíficas e felizes?Quando olhamos para aquilo que a literatura – também a que é criada para a infância – nos oferece, como espelho das grandes questões humanas, percebemos ter entre mãos uma ferramenta poderosa para construir um olhar diverso, solidário e mais justo e compreender o mundo em que vivemos. Estes são fatores importantes nas escolhas que fazemos, no despertar da sensibilidade, da empatia, da humanidade e das narrativas que nos fazem humanos. José Serrano