Diário do Alentejo

“Um disco que eu própria gostarei de ouvir”

13 de outubro 2025 - 08:00
“Almocreve” é a primeira música disponível de “Água e tudo o que ressoa”Foto | Eva Barrocas

Ana Santos, 32 anos, natural de Beja

 

Licenciada em Musicologia e mestre em Estudos Artísticos, pela Universidade de Coimbra, é multi-instrumentista, compondo para cinema, podcasts e espetáculos de teatro e dança. É cocriadora e membro integrante dos espetáculos “Elemento Árabe”, com o Grupo Coral e Etnográfico da Casa do Povo de Serpa, RAIA e Ricardo Falcão, e “Além Cabul”, que junta músicos de vários cantos do mundo.  É membro integrante da banda de Celina da Piedade e tem colaborado com artistas como Eduardo Paniagua e Rodrigo Leão. Vive em Beringel.

 

Foi recentemente lançado o mais recente single de Ana Santos, intitulado “Almocreve”, antecipando o seu disco de estreia a solo, com apresentação prevista para este mês.

 

Há em “Almocreve” um imaginário telúrico, com o som da natureza a conviver com a viola campaniça, o violino e percussões. De onde lhe chegam estas influências?Sempre estive ligada ao campo e à natureza, sábia e inspiradora. Com o trabalho de recolha de paisagens sonoras cada vez mais presente nos projetos em que tenho participado, foi inevitável transportar algumas delas para este single e para o álbum a que pertence. Também as lendas e histórias contadas, assíduas na minha vida, desde criança, sempre me inspiraram – há sempre um conto, um “mini filme” inventado por mim no processo de composição.

 

É a serenidade desta música abrangente ao resto dos temas que compõe o seu disco, prestes a sair, intitulado “Água e tudo o que ressoa”? Este trabalho, que nasce do imaginário das ilustrações de Susa Monteiro e do mestre Isaclino Palma (meu avô), é um disco que expressa emoções diversas, que conta histórias de paisagens sem lugar, narradas através do som dos instrumentos e das paisagens sonoras, “caçadas” em pequenos lugares deste meu sul. Os temas, compostos por mim, são, sobretudo, instrumentais, com alguns cantados e narrados, contam com a participação de convidados como Celina da Piedade, Cristina Taquelim, Mili Vizcaíno, Miguel Rego, Ustad Fazel Sapand, entre outros.

 

“Almocreve” é apresentado por um videoclip, com ilustrações originais de Diogo Bessa, Susa Monteiro e do mestre Isaclino Palma, seu avô. É este trabalho videográfico uma homenagem ao seu familiar, reconhecido artista plástico?Sim, acaba por ser uma forma de homenagear o meu avô e as suas memórias. O meu bisavô, Manuel Francisco, foi almocreve, antes de emigrar para a Argentina e abrir uma taberna em Beja, quando regressou. A voz que se ouve neste tema é do meu avô, mestre Isaclino, que gravei enquanto me contava estas histórias. Este tema foi inspirado em conversas longas que fomos tendo sobre esta profissão antiga que acabou por desaparecer. O amola tesouras, também citado neste tema, com o som da “flaita”, é outra dessas profissões antigas de que o meu avô me falava.

 

Convive o lançamento deste trabalho com a alegria, ao poder apresentar novas músicas, e com a ansiedade, até perceber se são acolhidas como desejaria?A alegria supera a ansiedade e estou muito feliz por este álbum estar disponível muito em breve. Neste trabalho – a gravação de melodias, de vozes, de paisagens sonoras, a escrita e escolha de poemas – tudo foi acontecendo ao ritmo espontâneo da criatividade, com foco num objetivo pessoal: fazer um disco que eu própria gostarei de ouvir.

Influencia a sua condição de alentejana a forma como a música em si se constrói?O que encontro no Alentejo e dele transporto como inspiração é um processo infinito. Sou do mundo, mas sou, sobretudo, do Alentejo. José Serrano

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