Texto | Marco Monteiro CândidoIlustração | Susa Monteiro
No passado domingo, dia 12, tiveram lugar mais umas Autárquicas. Terão sido, eventualmente, das eleições para o poder local mais aguardadas e que maiores expectativas geraram nos últimos anos, por uma série de circunstâncias, no País, mas também na região. O facto de serem o terceiro ato eleitoral do ano – depois das Legislativas de 18 de maio e das Europeias de 9 de junho – aguçava a curiosidade, nomeadamente, no que diz respeito ao desempenho das várias forças partidárias em contenda, em especial depois do reforço do PSD, da subida do Chega e da queda do PS nas eleições para a Assembleia da República (AR). Paralelamente, e porque a CDU, apesar do desgaste contínuo dos últimos anos, ainda se vinha mantendo como uma força com uma significativa implantação local, importava aferir se resistia, mais uma vez, à força dos tempos e das novas forças políticas. Tudo o que se refere atrás tinha importância para o País, mas, em simultâneo, também para o distrito de Beja. Se há quatro anos, em 2021, o PS quase “varreu” a totalidade da região – em 14 câmaras municipais, ganhou 10, com as restantes sob a gestão da CDU –, ainda com a liderança de António Costa e a sua maioria absoluta na AR, com 120 deputados de 230, a realidade é que muito se passou desde então, entre quedas de governos, mudanças de líderes partidários, desgaste constante dos socialistas e consolidação do PSD, mas, fundamentalmente, do Chega.Assim, chegados às Autárquicas de 2025, as expectativas surgiram no sentido de verificar se muitos dos comportamentos eleitorais, especialmente, das Legislativas, teriam tradução na região. O que não se verificou. O PS, partido que mais câmaras, venceu no distrito, conquistou nove, e a CDU, três, ou seja, menos uma cada um, em relação a 2021, com as devidas diferenças entre perdas e ganhos. Desta dinâmica, destaque para a conquista histórica e simbólica de Serpa pelos socialistas aos comunistas, mas também a reconquista, passados 20 anos, da Vidigueira. Por seu turno, a CDU reconquistou Aljustrel ao PS, passados 16 anos.Por fim, o PSD, com a conquista, igualmente histórica – talvez mais ainda – da Câmara de Beja. Pela primeira uma força política (no caso, uma coligação entre PSD, CDS e IL) de direita conquistou a capital de distrito, desde que há eleições autárquicas, ou seja, praticamente há 49 anos (novembro de 1976). Nunca esta autarquia havia sido gerida por outros que não comunistas ou socialistas. Mais uma vez, um feito histórico, sem dúvida, mas um desafio para Nuno Palma Ferro, que, com dois eleitos, terá de negociar permanentemente com a oposição ao longo dos próximos quatros anos. Nesse sentido, também a reconquista, 12 anos depois, da Câmara Municipal de Almodôvar por parte do PSD ao PS marca um regresso aos tempos em que os sociais-democratas detinham duas autarquias no território (há anos, Almodôvar, mas também Ourique).Em relação ao Chega, apesar de ter aumentado o número de eleitos no distrito, não se verificou, ainda, a dinâmica e o lastro que aconteceram nas Legislativas. Mas a questão reside exatamente aí: nunca se devem comparar eleições distintas no seu âmbito, no caso, Legislativas com Autárquicas. Como tal, de 2021 para 2025, no distrito de Beja, esta força política passou de 3915 votos para 8636 no conjunto das câmaras municipais, de 3256 para 8901 nas assembleias municipais e de 1558 para 5680 nas assembleias de freguesia. Sinais a ter em conta para 2029.